Diário, hoje eu liguei pra Damares. A conversa foi assim:
– Bom dia, meu Messias.
– Bom dia, o cacete. Você viu o Crivella?
– O caso dos Vingadores Gays? Vi sim. Sucesso, né?
– Pois é, o cara está em tudo que é jornal. Os evangélicos adoraram. Preciso fazer alguma coisa parecida, senão ele pega todos meus eleitores, pô!
– Ataca o Bob Esponja, presidente. Ou a Elsa, do Frozen.
– Isso você já fez, Damares. Quero pegar um público mais velho. Mandar prender umas histórias em quadrinhos parece bom.
– Que tal o Flash? Aposto que ele é gay. Aquele colã vermelho nunca me enganou.
– Boa! Pode falar que estou anotando.
– Tem também o Coringa.
– O Coringa? Pô, esse é dos meus. O que tem de errado com o cara?
– Ele usa batom, presidente.
– Putz, é mesmo. E ele pinta o cabelo de verde. Isso também é suspeito. Já tá na minha lista. Mais algum?
Reprodução
Pois é, o Crivella está em tudo que é jornal!
– Tem o Batman e o Robin. Pedofilia explícita.
– Opa! É mesmo. Vou mandar prender as revistas dos caras.
– Ah, e tem o pior de todos: o Capitão América.
– O quê?!
– Tá na cara, presidente. Aquele corpo malhado, aquelas asinhas na cabeça, a roupinha agarrada, aquela amizade com o Bucky… Sem falar que tem estrela no escudo. É gay e é petista.
– Pô, o Capitão América, não, Damares! Ele é capitão e é da América. Você estragou o cara pra mim.
– Desculpe, presi…
– Não desculpo nada! Você quer me estragar o Steve Rogers pra sempre?
– Mas…
– Nem mais, nem menos! Como é que você pode duvidar do Capitão América?! Volta pra sua goiabeira!
Aí eu bati o telefone e fui para o meu quarto ler um gibi. As lágrimas caíam em cima do escudo do Capitão América e eu pensava: “Você não, Steve, você não…”
(*) José Roberto Torero é escritor e jornalista, autor de livros como Papis et Circensis e O Chalaça. O Diário do Bolso é uma obra ficcional de caráter humorístico.