O secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, cobrou nesta quarta-feira (23/11) ações urgentes para combater a emergência humanitária no Mar Mediterrâneo.
“Ainda hoje o número de vítimas no mar continua a ser dramático e uma resposta política é cada vez mais urgente”, declarou o religioso.
De acordo com Parolin, “a situação atual do Mediterrâneo é o produto de três grandes movimentos migratórios que atravessaram a história antiga e a moderna”.
“O fenômeno da mobilidade humana sempre esteve no centro da preocupação pastoral da Igreja com particular atenção, especialmente entre os séculos 19 e 20, quando as migrações ganharam dimensões massivas”, lembrou.
Em seu discurso, intitulado “Mediterrâneo, lugar de conflito e laboratório de paz”, o cardeal enfatizou que “o Mediterrâneo pode tornar-se concretamente um lugar de paz, mas somente se houver uma ampla vontade política que reconheça a unidade do mundo a partir das muitas diferenças que compõem esta região”.
Parolin explicou ainda que, “nesta perspectiva, as crenças religiosas, que se rejeitam ao fundamentalismo e ao fanatismo cego, podem desempenhar um papel muito precioso: ser a ponte entre a Ásia, a África e a Europa, ser cola das peças de um extraordinário e complexo quebra-cabeça”.
Além disso, é uma oportunidade de ser “o princípio de uma integração entre os povos da fome e os da opulência, um desafio excepcional para a Igreja, para o Mediterrâneo e para toda a Europa”.
A declaração é dada poucos dias após o poder Executivo da União Europeia apresentar um plano de ação com 20 medidas para combater a crise migratória na rota do Mediterrâneo Central e depois da tensão diplomática entre Itália e França por conta de um navio com 234 migrantes.
Twitter/SOS MEDITERRANEE
Declaração é dada poucos dias após UE apresentar plano de ação para conter crise migratória
50 mil mortos em rotas migratórias
Segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM), com base nos dados do Missing Migrants Project, mais de 50 mil migrantes perderam a vida em todo o mundo durante a tentativa de fugir de seu país natal desde 2014.
O relatório aponta apenas os números documentados, o que faz com que a quantidade real de vítimas possa ser maior.
“Mesmo com a constante perda de vidas humanas, os países de origem, trânsito e destino tomaram poucas ações para enfrentar a atual crise global dos migrantes desaparecidos”, ressalta o documento.
Conforme uma das coautoras do relatório, Julia Black, mesmo com as mortes sendo notificadas em várias rotas migratórias, “foi feito bem pouco para enfrentar as consequências dessas tragédias, muito menos para preveni-las”.
O Missing Migrants Project aponta que mais de 30 mil pessoas que morreram são de nacionalidade desconhecida, o que indica que 60% dos que falecem nessas condições não são nunca identificados. Para além da falta de dignidade para um sepultamento digno, muitas famílias passarão a vida em busca de respostas por seus entes queridos.
Entre os desaparecidos dos quais se conhece a nacionalidade, mais de nove mil saíram de nações africanas, outros 6,5 mil da Ásia e cerca de três mil das Américas. Os países que mais registram saídas são Afeganistão, Síria e Myanmar.
Outro dado do relatório é que mais da metade das vítimas documentadas morreram em rotas para e dentro da Europa, com as rotas marítimas do Mediterrâneo contabilizando sozinhas 25.104 falecimentos.
(*) Com Ansa