A seleção brasileira estreia nesta quinta-feira (24/11) na Copa do Mundo de 2022, no Estádio Lusail, nos arredores de Doha, no Catar. Seu adversário será a Sérvia, time que alguns consideram a mais perigosa concorrente da equipe de Tite, no Grupo G.
Porém, é fora do âmbito futebolístico que o país dos Bálcãs apresenta diversas características interessantes para quem se interessa por questões internacionais.
Conheça sete aspectos importantes sobre a Sérvia para saber quem é que estaremos enfrentando nesta primeira rodada da Copa.
1. Território e População
A Sérvia é um país de entre 7 e 9 milhões de habitantes. A diferença depende de considerar ou não a região de Kosovo como parte do país.
Seu território de entre 77 e 88 mil quilômetros quadrados também dependendo da inclusão ou não de Kosovo, que se localiza em meio à península dos Balcãs.
A Sérvia é um dos países do mundo com o maior número de vizinhos, já que possui limites fronteiriços com Hungria, Romênia, Bulgária e Albânia, além de quatro das cinco outras nações que compunham a antiga Iugoslávia: Croácia, Bósnia, Montenegro e Macedônia do Norte – apenas a Eslovênia não possui fronteira direta com os sérvios.
2. Reino da Sérvia
Antes do Reino da Iugoslávia – que foi estabelecido em 1918 – existia o Principado da Sérvia, que teve sua primeira versão na Idade Média, entre os anos de 768 e 969, até a invasão bizantina, que resultaria em quase 1.000 anos de submissão a diferentes impérios estrangeiros.
Em 1830, após a chamada Revolução Sérvia (1804-1817), o Império Otomano reconheceu o Principado da Sérvia como um Estado semi-independente, mas a luta pela libertação total continuou no país até 1882, quando se estabeleceu finalmente o Reino da Sérvia.
3. Reino da Iugoslávia
O Reino da Sérvia durou pouco mais de 30 anos, até o final da Primeira Guerra Mundial. Em 1918, como consequência desse conflito, nasceu primeiro o Estado dos Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos, em 29 de outubro, e o Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos, em 1º de dezembro daquele mesmo ano. Esse seria a semente do que se transformaria, anos depois, no Reino da Iugoslávia.
Também foi após uma guerra mundial que a Iugoslávia passou de reino para se transformar em uma república socialista federativa.
A Segunda Guerra Mundial terminou com o país destruído pelas tentativas de invasão dos exércitos alemão, italiano e húngaro, mas que finalmente foram contidas, com a vitória dos chamados Partisans Iugoslavos, grupo liderado pelo marechal croata Josip Broz Tito.
4. Capital da República Socialista da Iugoslávia
Após o acordo Subasic-Tito, em junho de 1944, nasceu a República Socialista Federativa da Iugoslávia, que teria o próprio marechal Tito como primeiro-ministro. Em 1963, ele seria transformado em presidente vitalício do país.
A capital da Iugoslávia era Belgrado, que também é a capital da Sérvia, antes das guerras mundiais e até os dias de hoje. A Sérvia era o principal ente federativo do novo Estado, composto por outros cinco países vizinhos: Croácia, Bósnia-Herzegovina, Eslovênia, Macedônia (posteriormente conhecida como Macedônia do Norte) e Montenegro.
A Iugoslávia manteve seu regime socialista durante o governo de Tito, que só terminou em 1980, com a morte do marechal.
Entre o fim da Segunda Guerra Mundial e a queda do muro de Berlim, a Iugoslávia formou parte da chamada “Cortina de Ferro”, como eram chamados os países do Leste Europeu que serviam como parede territorial entre a União Soviética e o Ocidente da Europa.
Os primeiros países a conquistarem sua independência da Iugolávia, nos anos 90, foram Eslovênia, Croácia e Bósnia. A república se manteve viva apenas com os territórios de Sérvia e Montenegro, até 2006, quando os dois finalmente tomaram caminhos separados.
Em 2008, se iniciou outro conflito com a região de Kosovo, que declarou independência naquele mesmo ano. Contudo, tal iniciativa conta com reconhecimento parcial dos demais países do mundo, razão pela qual o governo da Sérvia considera que aquele território ainda faz parte do seu país.
Paola Orlovas
Novak Djokovic, Emir Kusturica e Ana Brnabic, referentes da Sérvia no esporte, na cultura e na política, respectivamente
5. Atualidade: primeira-ministra lésbica
Desde a criação da República da Sérvia, em 2006, o país adotou o sistema parlamentarista, com um presidente como chefe de Estado e um primeiro-ministro como chefe de governo.
Nos primeiros anos, a política sérvia foi dominada pelos partidos de esquerda e centro-esquerda, como o Partido Socialista, liderado por Ivica Dadic (primeiro-ministro entre 2012 e 2014), e o Partido Democrático, de Mirko Cvitkovic (primeiro-ministro entre 2008 e 2012).
No entanto, em 2017, se iniciou uma hegemonia do partido do PPS, legenda que assim como o seu antigo xará brasileiro (hoje chamado Cidadania), tem uma linha ideológica de centro-direita, apesar de que sua sigla significa Partido Progressista da Sérvia.
Entre 2014 e 2017, o país foi governado por Aleksandar Vucic, que hoje é o presidente do país. A Sérvia elegeu sua primeira mulher como chefe de governo: Ana Brnabic, que também foi a primeira pessoa assumidamente homossexual a exercer o cargo, que ela ocupa até hoje.
6. Djokovic: o ídolo Antivax
A pessoa mais famosa da Sérvia é um esportista, mas não ligado ao futebol. O tenista Novak Djokovic não é um nome qualquer no circuito da Associação dos Tenistas Profissionais (ATP).
Apesar de ocupar atualmente a quinta colocação no ranking, ele é o detentor do recorde de 373 semanas na posição de número 1 desse esporte, 63 a mais que o segundo colocado, o suíço Roger Federer.
Djokovic também é o segundo maior vencedor de torneios de Grand Slam, os quatro mais importantes do tênis mundial (Australia Open, Roland Garros, Wimbledon e US Open), com um total de 21 troféus, um a menos que o espanhol Rafael Nadal.
Números contundentes, que dão razão àqueles que consideram o sérvio como o maior tenista de todos os tempos. Certamente é um dos maiores tenistas da história, e pode até aumentar a sua lista de recordes nestes últimos anos da sua carreira.
Contudo, toda essa carreira se viu manchada após uma polêmica relacionada com a vacina para a covid-19. Djokovic se recusou a se vacinar para disputar o Australia Open deste ano, contrariando uma norma do governo australiano, que exigia a imunização dos atletas que queriam ingressar ao país. Terminou não podendo disputar o certame que tem ele mesmo como seu maior campeão histórico, com nove títulos.
Vale destacar, porém, que a postura antivax de Djokovic é sustentada por argumentos diferentes de outros grupos. O tenista afirma que não é contra a vacinação das pessoas em geral, mas acredita que as vacinas existentes contra o coronavírus alteram a capacidade pulmonar das pessoas, o que afetaria seu desempenho atlético – tal argumento não é totalmente sustentável cientificamente.
7. Kusturica: referência cultural
Nas artes, o principal nome da Sérvia é o cineasta Emir Kusturica, nascido em Sarajevo, hoje capital da Bósnia, mas naturalizado sérvio após a dissolução da Iugoslávia.
Kusturica é um dos mais reconhecidos artistas do Leste Europeu, como diretor de cinema e como músico. Entre os anos 80 e 90, venceu duas vezes a Palma de Ouro do Festival de Cannes, na França, como filmes como Quando Papai Saiu em Viagem de Negócios (1985) e Undergroud (1995).
Também realizou outras películas aclamadas por crítica e público, como Tempo de Ciganos (1988), Gato Negro, Gato Branco (1998) e A Vida é um Milagre (2004).
Seus filmes são considerados retratos lúdicos de como as sociedades balcânicas foram se transformando desde os últimos anos da antiga Iugoslávia até os primeiros passos das novas nações que surgiram depois da dissolução.
Neste século, sua obra cinematográfica passou a priorizar os documentários biográficos, entre os quais se destacam os de duas personalidades sul-americanas: o futebolista argentino Diego Armando Maradona e José Pepe Mujica.
Já a carreira musical de Kusturica se baseou em sua banda de “rock cigano” The No Smoking Orchestra, que atua desde 1993 e com a qual gravou boa parte das músicas das trilhas sonoras dos seus filmes desde então, incluindo alguns sucessos nas paradas europeias, como “Kalashnikov”, “Unza Unza Time” e “Pitbull Terrier”.