A Alemanha vai às urnas neste domingo (26/09) em uma eleição diferente das últimas quatro: a chanceler Angela Dorothea Merkel, de 67 anos, decidiu se aposentar e vai entregar o cargo a seu sucessor assim que o próximo governo for definido. Mas, por que Merkel desistiu de disputar a reeleição?
Segundo a imprensa alemã, a disposição da chanceler era ficar no cargo somente até 2017, mas ela teria mudado de ideia e decidido disputar a eleição daquele ano após a vitória do republicano Donald Trump nos EUA.
Mas a política interna da Alemanha também pesou na decisão. Em 2018, a CDU (União Democrata-Cristã, partido da chanceler), colheu resultados desastrosos em eleições regionais nos estados de Hessen (onde fica Frankfurt am Main) e da Baviera (cuja capital é Munique). Logo depois, Merkel anunciou que deixaria a liderança do partido, mas cumpriria seu mandato até o final.
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A própria chanceler já apontava, naquela época, uma “fadiga de material” do governo, dizendo que o trabalho que estava sendo realizado era “inaceitável”. Merkel, especialista em sentir para onde o vento da opinião pública está soprando, viu que era hora de parar.
Mesmo de saída, Merkel ainda pode quebrar o recorde do ex-chanceler democrata-cristão Helmut Kohl (1930-2017), que foi o que ficou mais tempo no poder (5.870 dias – o equivalente a 16 anos e 26 dias). Dependendo da duração das negociações para a formação de uma coalizão, a mandatária, que neste domingo completa 5.787 dias no cargo, pode ultrapassar Kohl – basta que não haja um novo governo formado até 19 de dezembro de 2021.
AKK e o ‘golpe’ na Turíngia
O que aconteceu após o anúncio de Merkel de que não iria concorrer a mais um mandato ajuda a entender um pouco do desempenho cambaleante da CDU nas pesquisas deste ano. Com a saída de Merkel, a agremiação precisou escolher um novo líder – no caso, uma nova: a escolhida foi Annegret Kramp-Karrenbauer (conhecida como AKK), nome preferido da chanceler.
AKK, chamada às vezes de “mini-Merkel”, então, passou a ser apontada como a candidata do partido em 2021. A própria chanceler a colocou no cargo de ministra da Defesa, a fim de aumentar a visibilidade da política, que havia conquistado por pouco a liderança da CDU.
Bundesregierung
Merkel decidiu não disputar reeleição neste ano
Mas veio a eleição no estado da Turíngia, em 2019. Região da antiga Alemanha Oriental, o local era governado por Bodo Ramelow, de Die Linke – o primeiro governador do partido desde a Reunificação Alemã. “Die Linke” significa “A Esquerda” e é herdeiro do antigo SED (Partido Socialista Unificado da Alemanha), que comandava a Alemanha Oriental.
A agremiação venceu o pleito e teve direito a liderar a formação de governo, em um sistema semelhante ao do nível federal. No entanto, o SPD (Partido Social-Democrata da Alemanha), que fazia parte junto com os Verdes da coligação que sustentava Ramelow, teve um resultado sofrível e, por isso, uma repetição da coalizão não foi possível.
Quando o Parlamento local foi eleger o novo governador, veio o choque: a CDU e o FDP (Partido Liberal da Alemanha, de direita) haviam se juntado à extremista AfD (Alternativa para Alemanha), descumprindo a promessa de que nunca fariam coalizão com a ultradireita, e elegeram Thomas Kemmerich (FDP), cujo partido mal tinha obtido 5% dos votos, como governador.
A reação contra o ‘golpe’ foi avassaladora no país. Protestos começaram a ser registrados em cidades como Berlim e Hamburgo, e a crise começou a encostar no governo Merkel. A pergunta que se fazia era como Kramp-Karrenbauer, a líder da CDU, havia deixado que o partido preferisse se juntar à extrema direita para derrubar a esquerda na Turíngia e não ter pedido por novas eleições.
Pressionada, AKK anunciou que deixaria a liderança do partido e que desistia de sua possível candidatura a chanceler. Por sua vez, o direitista Kemmerich durou poucos dias no poder, sendo forçado a renunciar. Ramelow voltou ao cargo em um governo de minoria.
Em dezembro de 2020, Armin Laschet – hoje candidato à sucessão de Merkel – venceu a disputa pela chefia da CDU contra Friedrich Merz e lidera os democratas-cristãos nestas eleições. Caso a agremiação perca o pleito e deixe o governo, será a primeira vez, em mais de uma década e meia, que a hoje chanceler não terá voz de comando para definir o futuro do partido.