Após a confirmação da vitória no segundo turno das eleições presidenciais do Chile com mais de 55% dos votos válidos, o presidente eleito Gabriel Boric, representante da coalizão Aprovo Dignidade (que reúne a Frente Ampla, o Partido Comunista e o Partido Ecologista Verde), fez um discurso no centro de Santiago, diante de milhares de apoiadores.
Em seu discurso, o próximo presidente chileno começou fazendo uma saudação em mapundungun (idioma da nação originária mapuche), o que despertou fortes gritos e aplausos na multidão. Em seguida, afirmou que “esta campanha superou todas as nossas expectativas e tinha que ser assim para que pudéssemos alcançar esta vitória categórica, e sabemos que essa participação e este apoio vão ser necessários em todos os anos do nosso governo”.
“Ganhamos porque propusemos às chilenas e aos chilenos um Chile que não discrimina ninguém, um Chile verde e um Chile de amor, um Chile onde os trabalhadores terão mais tempo para as suas famílias e onde terão direito a uma velhice mais digna”, disse.
O presidente eleito ainda afirmou que seu governo quer que “as empresas parem de fazer negócios com a saúde dos chilenos, com a educação e com as aposentadorias. Porque o povo do Chile disse em alto e bom som que deseja um sistema público de saúde, um sistema público de seguridade social, que a educação seja um direito de todos”.
Boric também se referiu ao apoio das comunidades LGBTI+, que foram ameaças pelo discurso homofóbico do seu adversário, José Antonio Kast. “Queremos um Chile onde as dissidências e diversidades sexuais, que foram fortemente ameaçadas de perder os direitos que lutaram tanto para conseguir, tenham seus direitos garantidos de uma vez por todas”.
Sobre seus adversários na disputa eleitoral, Boric agradeceu “a todos os candidatos que participaram desta eleição, inclusive a José Antonio Kast. Este é um país que devemos construir entre todos e queremos que o nosso governo seja aquele que saberá avançar a um país melhor para todos e escutando a todos”.
Outro ponto importante foi a lembrança da revolta social de 2019. “Sabemos que as demandas da revolta social continuam vigentes no coração do nosso povo e aprendemos com elas que devemos trabalhar por um país que saiba buscar o desenvolvimento econômico sem ignorar as grandes desigualdades sociais e trabalhando incansavelmente para diminuí-las”, declarou o presidente eleito.
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Ao concluir, Boric assegurou que “não teremos mais um governo que viole os direitos humanos e muito menos um presidente que declare guerra ao seu próprio povo. Serei um presidente que cuidará da democracia e não jogar com ela”, concluiu o esquerdista, fazendo uma alusão clara ao presidente Sebastián Piñera, que durante a revolta social de 2019 se referiu aos manifestantes dizendo que o governo chileno estava “em guerra contra um inimigo poderoso”.
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Boric disse querer ‘um Chile que não discrimina ninguém, um Chile verde e um Chile de amor’
Boric conversa com Piñera
Horas antes, em videoconferência com o atual presidente Sebastián Piñera, Boric disse que “nosso governo pretende entregar uma vida melhor a todos os chilenos, os que votaram e os que não votaram pela nossa candidatura, e impulsionar um projeto que o povo vem demandando há pelo menos dois anos”. Esta última declaração foi uma referência à revolta social iniciada no país em outubro de 2019.
Antes de terminar a conversa, Piñera disse que o trabalho de presidente “é duro” e sugeriu a Boric tirar uma foto um dia antes de assumir o poder e outra um dia depois de deixar o cargo, “para você ver que o trabalho dos presidentes é muito desgastante”, ao que o presidente eleito respondeu: “pretendo terminar com a tranquilidade de corresponder às esperanças que os chilenos têm no nosso projeto”.
Kast reconhece derrota
Momentos depois do início da apuração, o candidato derrotado, José Antonio Kast, fez um discurso no qual felicitou o seu adversário pela “grande e incontestável vitória nas urnas, a qual a nossa candidatura reconhece, apesar de também se sentir satisfeita por uma ótima votação que tivemos, com mais de 3 milhões de votos”.
Em seguida, completou: “quero dizer a Boric que, em meio as nossas grandes diferenças, devemos trabalhar juntos, para unir os chilenos. Somos milhões de chilenos que queremos uma vida melhor, e precisamos do melhor dos dois mundos, do que ofereceu a esquerda e o que oferecemos na nossa candidatura, um país com mais liberdade e mais oportunidade para todos”.