Uma pesquisa de boca de urna divulgada neste domingo (06/06) pelo instituto Ipsos e pela emissora América TV aponta um empate técnico entre o candidato de esquerda Pedro Castillo, do Perú Libre, e a ultradireitista Keiko Fujimori, filha do ex-ditador Alberto Fujimori, no segundo turno das eleições presidenciais peruanas.
Segundo a emissora, Keiko Fujimori aparece com 50,3% dos votos, contra 49,7% dos votos de Pedro Castillo – uma diferença de apenas 0,6 ponto percentual. A margem de erro é de 3 pontos para mais ou para menos.
Na sequência da divulgação dos números, partidários de Castillo começaram a gritar “fraude” em frente a um dos locais de campanha do Perú Libre. Pelo Twitter, o partido pediu calma e vigilância.
“Invocamos a esperar os resultados da ONPE [órgão eleitoral do Peru]. Mesmo assim, invocamos o povo a estar vigilante e mobilizado ante qualquer tentativa de fraudar a vontade do povo”, escreveu a agremiação.
Logo após a definição do segundo turno, as primeiras pesquisas davam 20 pontos de vantagem de Castillo sobre Fujimori. No entanto, o último levantamento antes do pleito apontou uma diminuição da diferença, mas ainda com liderança do sindicalista: 51,1% dos votos válidos contra 48,9% de sua adversária.
Como foi a votação no Peru
Cerca de 24 milhões de peruanos estavam convocados para retornar às urnas neste domingo. Os eleitores puderam votar até as 19h locais (21h no Brasil). O sufrágio no país é obrigatório, assim como no Brasil.
Segundo o Órgão Nacional de Processos Eleitorais (ONPE), a votação ocorreu com tranquilidade em todo o país.
Devido à pandemia, as autoridades eleitorais escalonaram os horários para evitar aglomerações nos centros de votação. Idosos tiveram um período estabelecido para realizarem o voto. Assim como uma escala de horários, o ONPE pediu que os peruanos utilizassem duas máscaras de proteção na hora da votação.
Segundo levantamento da Universidade Jonhs Hopkins, o Peru contabiliza, desde o início da pandemia, 1.965.693 casos da covid-19 e 185.380 mortes. Além de infecções, o mapa aponta que o governo peruano aplicou 4.207.543 doses de vacinas contra o vírus.
No primeiro turno, em abril deste ano, 18 candidatos concorriam à Casa de Pizarro. Após uma disputa no qual pesquisas apontavam empate técnico entre cinco candidatos, Castillo saiu vitorioso, com 18,92% dos votos.
O país teve quatro presidentes nos últimos três anos. Em 2018, Pedro Pablo Kuczynski foi destituído. Em novembro do ano passado, seu vice, Martín Vizcarra, também foi afastado do cargo. Após a saída de Vizcarra, Manuel Merino assumiu o poder, mas renunciou após uma semana. O quarto presidente, Francisco Sagasti, conduz um governo provisório e não se candidatou neste pleito.
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Castillo e Keiko aparecem tecnicamente empatados na boca de urna do Ipsos, com vantagem para a filha do ex-ditador Alberto Fujimori
Castillo, Keiko e os debates
Castillo teve reconhecimento nacional em 2017, quando liderou uma greve de profissionais da educação peruana. Quando jovem, Castillo fazia parte de rondas campesinas, organizações que combatiam crimes que ocorriam nas zonas rurais do Peru, o que, ainda hoje, representa em suas caminhadas ao usar chapéu característico aos integrantes destes grupos.
Em sua campanha eleitoral, o candidato falou em participação popular e na convocação de uma Constituinte no Peru. Membro de um partido que se identifica como marxista-leninista-mariateguista, Castillo defende que a atual Constituição prioriza o interesse privado sobre o interesse público, o lucro sobre a vida e a dignidade. Para ele, a ideia é permitir que os peruanos decidam “democraticamente” se querem ou não uma nova Carta Magna.
Keiko, por sua vez, que chegou ao segundo turno após obter 13,4% dos votos, se apoia no legado do pai para vencer, defendendo a manutenção da estrutura do Estado como está. A atual Constituição peruana foi promulgada em 1993, durante o regime fujimorista.
No único debate entre os presidenciáveis deste segundo turno, o duelo girou em torno do posicionamento entre os candidatos diante da emergência sanitária em decorrência do novo coronavírus, assim como a gestão da saúde e da educação. Em certo ponto, Keiko acusou seu concorrente de não falar publicamente sobre as mulheres, o que foi revidado por Castillo ao declarar que ela deveria pedir desculpas às peruanas que sofreram esterilizações forçadas no governo de Alberto Fujimori.
A prática da imposição de esterilizar mulheres era uma das medidas do Programa Nacional de Planejamento Familiar. Estima-se que mais de 300 mil mulheres e 25 mil homens em idade fértil e reprodutiva, sobretudo entre camponeses e indígenas, foram esterilizados sem consentimento. A política de Alberto foi defendida por Keiko, que, durante um evento, disse que as esterilizações tratavam-se, na verdade, de “planejamento familiar”.
Por outro lado, em sua campanha, Castillo tem repudiado as esterilizações forçadas do governo fujimorista: em 24 de abril, ele disse que, em seu mandato, caso seja eleito, “não irão encontrar um governo que queira arrancar o útero de mães e mulheres peruanas”.