Não é a primeira vez que Gustavo Petro concorre às eleições presidenciais da Colômbia. Em 2010 e 2018, o ex-prefeito de Bogotá já havia disputado o pleito, mas nunca antes tinha alçado a alcunha de liderança na corrida eleitoral como acontece neste ano.
Pelo campo progressista, o Pacto Histórico, de Petro e Francia Márquez, candidata a vice-presidente, lidera com cerca de 40% a 41% das intenções de voto. Já pela direita, duas alianças disputam uma vaga num possível 2º turno: a Equipe pela Colômbia e Liga de Governantes Anticorrupção.
O voto na Colômbia é impresso e facultativo. Caso nenhuma chapa obtenha mais de 50% da votação neste domingo (29/05), o 2º turno será realizado no dia 19 de junho.
Quem é Petro?
Nascido em Ciénaga de Oro, Córdoba, em 19 de abril de 1960, Petro tão logo se mudou com a família para Zipaquirá, local que se envolveu com atividades sindicais e culturais, como a elaboração do jornal Carta Al Pueblo e o centro cultural Gabriel Garcia Márquez, além de ter integrado, em 1977, o grupo guerrilheiro Movimento 19 de Abril (M19), fundado em protesto contra a suposta fraude das eleições daquele de 1970, vencidas pelo candidato conservador Misael Pastrana.
A decisão que levou Petro e outros jovens colombianos a “pegar em armas” naquele contexto, segundo explicou ele em entrevista ao canal do Youtube Bandálos, foi o contínuo estado de sítio em que o país vivia, com governos semelhantes às “ditaduras militares do Cone Sul”.
Formado em economia pela Universidade Externado da Colômbia, é em 1981 que o candidato à Presidência se elege deputado pela Aliança Popular Nacional. Mais tarde, seguindo a vida política na Colômbia, Petro vence as eleições como vereador de Zipaquirá.
Por conta da jovem carreira política que se iniciava, sua militância junto ao M-19 se torna pública no momento em que o grupo guerrilheiro e o governo colombiano estavam em processo de negociação de paz. A trégua, no entanto, termina em outubro de 1985, e Petro, então vereador, é capturado pelo Exército e posteriormente condenado por conspiração, estando por dois anos preso, quando, em fevereiro de 1987, é libertado.
A causa que levou Petro ao cárcere acontece por conta da tomada do Palácio da Justiça pela guerrilha urbana. Por dois dias, os integrantes do M-16 mantiveram 350 reféns, entre magistrados, servidores do judiciário e visitantes. Mesmo com os detidos no local, o prédio foi incendiado. Durante a operação militar para retomar o controle do edifício, 98 pessoas morreram e outras 11 foram declaradas desaparecidas.
Sem confirmação em relação aos participantes da ação, o governo acusa Petro de estar envolvido na tomada do edifício, mas a acusação é anulada já que, na ocasião do assalto, o candidato do Pacto Histórico estava detido em um “estábulo do Exército”.
Nos anos 1990, com a desmobilização do M-19, que assina um acordo de paz com a gestão de Virgílio Barco, Petro se torna assessor do governo do departamento de Cundinamarca e deputado regional. Em seguida, chega a ser exilado por questões de segurança e, neste contexto, se torna diplomata de Ernesto Samper, em 1994.
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Petro começou a vida política ainda na juventude e, desde então, assumiu diversos cargos na Colômbia
Vida política
Após a posição de diplomata, Petro entra de vez na política, se elegendo deputado, senador, prefeito de Bogotá e a primeira tentativa de chegar à Presidência colombiana.
No Senado, Petro compôs o grupo de oposição ao governo do ex-presidente Álvaro Uribe, apontando o vínculo do então mandatário com o paramilitarismo e o narcotráfico no país. As revelações de evidências inclusive abriram as portas de uma forte sanção social contra Uribe na Colômbia, o colocando na mira do Tribunal Penal Internacional com os mais de 250 processos na Procuradoria-Geral da República.
Essa e outras acusações marcaram a trajetória de Petro diante das ligações de líderes políticos de direita com o narcotráfico no país.
Não por acaso, sua liderança nas pesquisas de 2022 é vista como uma possível guinada política no país. No entanto, “mudar a Colômbia”, como defende Petro, não é um caminho tranquilo. Por conta de tal postura, o candidato à Presidência chegou a suspender temporariamente sua agenda eleitoral devido às ameaças de morte e atentados que sofreu.
“É lamentável que tenha tido que suspender a minha turnê no Eixo cafeeiro. A iniciativa dos setores de corrupção de pagar quadrilhas de assassinos para me eliminar fisicamente mostra o desespero político a que chegaram”, denunciou o candidato em suas redes sociais sobre um suposto ataque planejado pelo grupo paramilitar “La Cordillera”.
No final de março, dias depois da aliança Pacto Histórico, que engloba diversas legendas progressistas do país, ter confirmado o nome de Petro e Márquez como dupla na disputa, a candidata a vice também sofreu ameaças de morte. Por isso, ambos tiveram que realizar comícios com seguranças e escudos antibalas, assim como ocorreu no encerramento da campanha, na Praça Símon Bolívar, em Bogotá, no dia 22 de maio.
Pacto Histórico
Combate à fome, retomada das negociações de paz, investigação de assassinatos contra líderes sociais e camponeses, reconhecimento do direito ao território dos povos indígenas e quilombolas, diversificação da base econômica com perspectiva de desenvolvimento sustentável são alguns dos pontos que defende o programa do Pacto Histórico.
A chapa aparece em primeiro lugar com folga na disputa eleitoral, cuja votação do primeiro turno acontece neste domingo, com cerca de 40% a 41% das intenções de voto. Se eleito, a aliança pode girar a chave do cenário político colombiano, que há muitos anos é dominado pela direita.
Em 2018, quando o atual presidente Iván Duque se elegeu, Petro apareceu em segundo lugar na corrida, com 25% dos votos, 14 pontos atrás do mandatário do Centro Democrático. Duque, que é representante do uribismo, deixa seus quatro anos de gestão com 67% de reprovação, além do histórico de repressão contra movimentos sociais e manifestantes.