Os movimentos populares brasileiros lançaram nesta terça-feira (02/04) um manifesto para expressar o repúdio às tentativas de desestabilizar o processo eleitoral na Venezuela.
O documento também acusa o governo dos Estados Unidos de promover uma campanha difamatória sobre as eleições presidenciais venezuelanas, marcadas para o dia 28 de julho, com o intuito de deslegitimar o pleito e instaurar uma crise política no país, “atendendo aos interesses econômicos de Washington”.
Em um dos 20 pontos levantados, o manifesto afirma que “a imprensa burguesa de todo continente tenta difamar o processo eleitoral venezuelano, para não aceitar desde logo seus resultados. Nenhum governo tem direito de se meter nos assuntos internos de outros povos. E na nossa constituição (brasileira) é defendido o direito da autodeterminação dos povos”.
O texto é apoiado por 22 organizações políticas e sociais, entre as quais estão incluídas a Frente Evangélica pelo Estado de Direito, o Levante Popular da Juventude (LPJ), a Marcha Mundial de Mulheres (MMM), o Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST), o Movimento Brasil Popular (MBP), o Partido Comunista do Brasil (PCdoB), a Rede de Médicos e Médicas Populares (RMMP) e a União da Juventude Socialista (UJS), entre outros.
Também assinam o manifesto figuras públicas como o jornalista Breno Altman, fundador de Opera Mundi; o ativista pela reforma agrária João Pedro Stédile; o ex-governador do Paraná, Roberto Requião; o deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP); a cientista política Mónica Bruckmann; a jornalista Leila Jinkings; o empresário e comunicador Eduardo Moreira; a socióloga Sandra de Barreto e o historiador e membro do Diretório Nacional do PT, Valter Pomar.
Em entrevista a Opera Mundi, um dos aderentes ao manifesto, o ativista João Pedro Stédile, destacou a necessidade de apoiar a Venezuela neste momento em que enfrenta uma nova ofensiva visando deslegitimar uma eleição presidencial no país.
“A Venezuela enfrentou ao longo desses anos todos os tipos de ataque descritos por estudiosos dentro do conceito de guerra híbrida, a partir de documentos do Exército norte-americano. Desta vez, eles (os Estados Unidos) vão tentar desmoralizar uma eleição onde há 13 candidatos, sendo 12 candidatos de oposição. E ainda querem questionar a lisura do pleito, mas acho que só conseguem enganar os incautos. O povo venezuelano, não se deixar iludir”, afirmou o dirigente do MST.
Em outro trecho, o documento conclama “todos os movimentos populares brasileiros, as centrais sindicais, os partidos políticos, as associações de juízes e ministério público, viagem para Venezuela e acompanhem in loco o processo eleitoral”.
“Conclamamos a que todos os movimentos populares e a esquerda brasileira sejamos solidários com o povo venezuelano, e denunciemos as ações do governo americano e seus tentáculos, insertos nos planos de guerra hibridas, em curso há tantos anos”, acrescenta o texto.
Sobre este tema, Stédile acredita que parte da esquerda brasileira, e até alguns membros do Governo Lula “não têm informações e nem acompanham o dia a dia do que acontece na Venezuela, a luta de classes que se trava no país. Alguns ficaram reticentes, mas acho que as adesões gerais ao manifesto, que reunimos em apenas três dias, demonstra uma grande representatividade de vários setores populares e da sociedade”.
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Eleições presidenciais na Venezuela, marcadas para 28 de julho, terão 13 candidatos, sendo 12 de oposição ao atual governo
Leia abaixo a íntegra do manifesto em solidariedade à Venezuela:
Solidariedade dos movimentos populares brasileiros ao povo da Venezuela.
Ante as polêmicas relacionadas com o processo eleitoral venezuelano, gostaríamos de manifestar nossa opinião.
- Desde que Hugo Chávez ganhou as eleições em 1998, até hoje, o governo dos Estados Unidos e seus interesses petrolíferos, movem uma guerra sem fim contra o povo da Venezuela.
- Decretaram boicote a venda de seu petróleo, sequestraram contas no exterior, roubaram recursos depositados em vários bancos, e no último mês sequestraram até um avião cargo da empresa estatal em Buenos Aires, auxiliado pelo governo Milei, apesar de ter sido vendido legalmente para a empresa venezuelana, o levaram para Miami, desmontaram, com medo de que algum tribunal internacional mandasse devolvê-lo.
- Impuseram um presidente fantoche, o sr. Guaidó, que praticou uma serie de crimes, além de se apropriar de mais de 50 milhões de dólares, denunciados por seus comparsas. Hoje vive nos EUA, protegido pelas autoridades.
- A Venezuela tem um sistema eleitoral democrático, que usa urnas eletrônicas e que tem também voto impresso, para checagem. Realizou mais de 30 eleições nesse período. Todas auditadas por autoridades judiciais internacionais, inclusive do Brasil.
- Nestas eleições se elegeram governadores, prefeitos e deputados da oposição ao chavismo, sem que ninguém tenha protestado. A campanha contra urnas eletrônicas tem sido uma prática da extrema-direita em vários países e também aqui.
- O poder eleitoral é independente e está ao mesmo nível do que o Judiciário, o Legislativo e o Executivo. Seus membros são indicados pela sociedade, universidades e os partidos políticos e nomeados pela Assembleia Nacional. No atual conselho, dois dos cinco membros foram indicados por partidos de oposição.
- Maria Corina Machado, representante da extrema-direita, “bolsonarista” tentou concorrer as eleições ainda sabendo que já estava impedida pelo poder judiciário, há seis meses, por crimes de corrupção, traição a pátria e tentativas de golpe, patrocinadas por ela e seu movimento que não está registrado como partido político. O Tribunal Supremo revisou o caso dela e reafirmou que era inelegível, assim como aconteceu com Bolsonaro por aqui.
- Com uma jogada de propaganda sabendo que estava inelegível, de última hora indicou a sra. Corina Yoris, porém esta pessoa não tinha o apoio de nenhum partido político E nem apresentou os requerimentos das assinaturas do 5% do padrão eleitoral para se inscrever de acordo com as leis eleitorais. O conselho eleitoral rejeitou por unanimidade. Como com frequência acontece aqui no Brasil.
- Estão inscritos para concorrer 13 candidatos, sendo 12 de oposição, entre eles um governador de oposição, do estado de Zulia que já disputou a Presidência contra Hugo Chávez em 2006. Um total de 37 partidos políticos participaram, 70% deles fazem oposição ao governo.
- Há total liberdade de imprensa no país, com diversas televisões e jornais que fazem oposição aberta ao governo, onde os opositores falam o que querem. Ao contrário daqui, que só tem acesso a televisão, quem defender as ideias da burguesia, inclusive em temas internacionais.
- O Bloqueio econômico dos ESTADOS UNIDOS, a impossibilidade de peças de reposição para a indústria petroleira e queda das exportações trouxeram enormes dificuldades econômicas para a população e muitos deles, resolveram migrar por motivos econômicos. Como aliás tem acontecido com o povo de todos os países da América Latina, basta olhar para a fronteira do Mexico. E como aqui no Brasil com os milhares de brasileiros que migraram para os Estados Unidos e para Portugal.
- Nos últimos anos, a Venezuela sofreu tentativas de invasão militar, por mar e através da Colômbia, que foram debeladas pelas forças públicas, com total apoio do povo.
- O presidente Maduro tem sofrido tentativas de assassinatos, inclusive através de drones, que também foram evitados e seus autores presos.
- O Povo da Venezuela precisa que haja justiça internacional para devolver os bens no exterior, como as suas reservas em ouro, sequestradas pela Inglaterra.
- O Povo da Venezuela precisa que cesse o bloqueio econômico e que possa usar seu principal patrimônio do Petróleo, para recuperar o desenvolvimento do país.
- Está claro, que está em curso uma campanha difamatória articulada pelos interesses econômicos dos Estados Unidos, com a imprensa burguesa de todo continente, para difamar o processo eleitoral venezuelano. E não aceitar desde logo seus resultados. Nenhum governo tem direito de se meter nos assuntos internos de outros povos. E na nossa constituição é defendido o direito da autodeterminação dos povos.
- Conclamamos a que todos os movimentos populares brasileiros, as centrais sindicais, os partidos políticos, as associações de juízes e ministério público, viagem para Venezuela e acompanhem in loco o processo eleitoral.
- Conclamamos a que todos os movimentos populares e a esquerda brasileira sejamos solidários com o povo venezuelano, e denunciemos as ações do governo americano e seus tentáculos, insertos nos planos de guerra hibridas, em curso há tantos anos.
- Conclamamos a que todos sejamos igualmente solidários com os pobres dos Estados Unidos, com o povo do Haiti, Palestina, Cuba, Puerto Rico e dos países do SAEL africano, que estão enfrentando os mesmos interesses do império americano e de seus aliados europeus. Assim como o império Frances está sendo enxotado da África depois de ter roubado tantas riquezas naturais.
- Há 25 anos o povo venezuelano vem sofrendo as consequências da guerra hibrida imposta pelo governo dos Estados Unidos e suas petroleiras. E apesar dos prejuízos e dificuldades sempre venceu e vencerá novamente.
Brasil, 02 de abril de 2024
1. Segue-se os nomes dos movimentos populares e partidos.
Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar do Brasil – CONTRAF-Brasil
Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil – CTB
Centro brasileiro pela paz – CEBRAPAZ
Central de Movimentos Populares – CMP
Centro de estudos de religiões de matriz africana – CENARAB
Coordenação nacional de comunidades Quilombolas – CONAQ
Conselho Pastoral dos/as Pescadores/as – CPP
Frente Evangélica pelo Estado de Direito
Levante Popular da Juventude – LPJ
Marcha Mundial de Mulheres – MMM
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem terra – MST
Movimento de Pescadores e Pescadoras Artesanais – MPP
Movimento Brasil Popular – MBP
Movimento de Mulheres Camponesas – MMC
Movimentos dos Atingidos por Barragem – MAB
Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA
Movimento dos Trabalhadores Desempregados- MTD
Movimento pela Soberania Popular na Mineração – MAM
Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Campo – MTC
Partido comunista do Brasil – PCdoB
Rede de Médicos e Medicas Populares – RMMP
Uniao da juventude socialista – UJS
2. Adesões de personalidades e representantes da sociedade brasileira.
Acilino Ribeiro – dirigente do PSB
Ariovaldo santos, pastor evangélico
Beto Almeida, jornalista
Breno Altman, jornalista
Celia Gonçalves, makota do povo de terreiro.
Cesar Silva Fonseca, jornalista
David Stival, ex-presidente do PT-RS, professor universitário
Eduardo Moreira, empresário e comunicador
Frei Sérgio Gorgen, frade franciscano
Georgina de Queiroz, professora
Guilherme Estrela , geólogo da Petrobras
Joao pedro stedile, ativista da reforma agraria.
José Reinaldo Carvalho, jornalista, presidente do Cebrapaz
Júlio Flávio Gameiro Miragaya, economista
Leila Jinkings, jornalista
Luis Sabanay, pastor presbiterano
Marcelo Barros, monge Beneditino
Maria luiza Busse, jornalista da ABI
Mario Vitor santos, jornalista
Monica Buckmann, professora universitaria
Ney Stronzake – Advogado
Nilza Valeria, jornalista
Oswaldo Maneschy , Jornalista
Paulo Miranda, Diretor da TV Comunitária de Brasília
Pedro Augusto Pinho, ex-presidente da AEPET e do Corpo Permanente da Escola Superior de Guerra
Roberto Requião, ex-governador , e ex-senador do Parana
Rosana Fernandes , da CPP da Escola nacional florestan Fernandes
Rui Portanova, desembargador aposentado do TJ-RS
Sandra de Barreto, sociologa
Socorro Gomes, ex-deputada federal pelo PcdoB e diretora de relações internacionais do Cebrapaz
Valter Pomar, membro do Diretório Nacional do PT
3. Parlamentares
Airton Faleiro, deputado federal-Para
Dilson Marcom, deputado federal do PT-RS
Joao daniel, deputado federal-sergipe
Marina do MST, deputada estadual do PT-RJ
Messias, deputado estadual do PT-Ceara
Nilto Tatto, deputado federal do PT de são paulo
Orlando Silva, deputado federal, Pcdob- são paulo
Rosa amorim, deputada estadual do pt-Pernambuco
Valmir assunção, deputado federal do PT-Bahia