O presidente da Bolívia, Evo Morales, disse neste domingo (03/11) que irá pedir uma reunião de emergência com movimentos sociais para analisar o “prazo” de 48 horas que o presidente do Comitê Cívico de Santa Cruz de La Sierra, Fernando Camacho, deu para que renuncie.
“Vou pedir uma reunião de emergência com nossos dirigentes sindicais, nacionais, a COB [Central Obrera Boliviana], a Conalcam [Coordenação Nacional pela Mudança] e outros setores sociais, para saber o que estão pensando. Dependo do povo, das forças sociais”, disse, em entrevista à Rádio San Gabriel, ao ser questionado sobre o “prazo”.
No sábado à noite (02/11), Camacho, que lidera os protestos em Santa Cruz de La Sierra, “deu” 48 horas para que Morales renunciasse e afirmou que isso terá que acontecer até a segunda à noite.
Segundo Moraes, a mobilização dos grupos de oposição não responde mais a uma suposta fraude denunciada nas eleições do dia 20 de outubro, porque agora já falam de sua saída do governo – o que significa, disse, um “tema de golpe”
“O povo estava confundido. [Diziam] Tinha fraude. Agora, o que dizem? Fora, Evo. Já não é um tema de fraude, é um tema de golpe. O povo também dará sua palavra. Os grandes patriotas, repito novamente, o verdadeiro patriota, o que faz a pátria, são os que fazem respeitar seus recursos naturais e não os que privatizaram antes”, disse.
Morales afirmou ter “muita confiança” no povo boliviano e no processo de mudança iniciado em 2006 (quando subiu ao poder). Ele disse que, agora, os grupos de direita pretendem “girar para o outro lado” e voltar ao passado.
ABI
Morales chamou reunião de emergência após "prazo" de opositor
“Sabem, irmãs e irmãos, quero que saibam, assim como houve mortos em Montero, só estão buscando mortes que tenham sido provocadas pela polícia ou pelas Forças Armadas. Quero dizer-lhes, a polícia está resistindo sem disparar, mas, a qualquer momento, podem provocar e colocar a culpa em nós, como estão fazendo em Santa Cruz”, disse.
O presidente pediu investigações sobre as mortes e que o Ministério Público e a Justiça coloquem na cadeia os responsáveis. Ao mesmo tempo, disse, “dói” o enfrentamento entre “companheiros e irmãos”.
OEA
Morales disse que a Constituição “deve vir primeiro” e, por isso, devem ser respeitados os resultados de 20 de outubro. Mesmo assim, a pedido do governo, esse processo está sendo submetido a uma auditoria a cargo da Organização dos Estados Americanos (OEA).
“Inclusive, nós não deveríamos dizer que a auditoria seja vinculante, porque qualquer instituição ou organismo internacional tem que respeitar a Constituição, e pela Constituição temos o Tribunal Supremo Eleitoral. O que diz o tribunal se respeita”, disse.
O presidente afirmou que, se o Tribunal demonstrar que houve fraude, irá ao segundo turno, pois “não tem o que mentir”.
Na quinta, a OEA iniciou a auditoria integral do processo eleitoral, cujo resultado se espera conhecer no prazo de duas semanas. No entanto, grupos de direita estimulados por civis e políticos neoliberais seguem nas ruas, com protestos que têm descambado para a violência.