Uma foto ao lado do finado traficante colombiano Pablo Escobar e do mexicano Joaquín “El Chapo” Guzmán. Milhões depositados em uma conta no Banco do Vaticano. Um pedido para que a população se arme contra separatistas. Envolvido em tudo isso, o presidente da Bolívia, Evo Morales – ao menos, é o que dizem as mensagens de WhatsApp e as postagens no Facebook e no Twitter. Só que todas essas “notícias” são completamente falsas.
A eleição na Bolívia, cujo primeiro turno acontece neste domingo (20/10) foi tomada por fake news nas redes sociais – e o alvo preferencial é Morales, favorito nas pesquisas. Assim como aconteceu nas eleições de 2018 no Brasil, as notícias falsas viralizam rapidamente, não importa quão absurdas (e mal feitas) sejam.
FORTALEÇA O JORNALISMO INDEPENDENTE: ASSINE OPERA MUNDI
Em uma postagem no Facebook, de junho, Morales é “visto”, por exemplo, em uma foto confraternizando com Escobar e El Chapo, e os parabenizando pelo dia do professor (na Bolívia, comemorado em 6 de junho). “Saudamos com muito carinho, respeito e admiração a todos os professores. Um cumprimento fraterno àqueles que foram meu guia e inspiração para industrializar a sagrada folha de coca; graças a seus ensinamentos, estamos conseguindo”, lê se no texto do falso tuíte.
O site Bolívia Verifica, dedicado ao combate das fake news na Bolívia, aponta uma manipulação grosseira na foto – uma imagem antiga de Morales foi incluída entre o suposto retrato de El Chapo e Escobar (não se sabe nem se esta foto é verdadeira) – e uma alteração grosseira no texto. “Saudamos com muito carinho, respeito e admiração a todos os professores de nossa querida Bolívia. Valorizamos seu trabalho, esforço e vocação para uma educação com liberação. Cada professor aproxima de seus alunos a luz do conhecimento em benefício das futuras gerações”, diz o tuíte original.
Vídeo na Bolívia, sotaque do México
No começo de agosto, um post compartilhado quase 6.000 vezes no Facebook mostrava uma mulher, que seria vinculada ao Movimento ao Socialismo (MAS), partido do presidente, ensinando como trocar votos na frente da urna a fim de favorecer Morales. “Este vídeo ocasionou que, neste momento, se reunisse o gabinete de governo de Evo Morales, por favor publicar em todos os meios e viralizar por todo canal e meio social. Torne-o viral se você ama a Bolívia”, diz o texto que acompanha as imagens.
Palácio do Planalto/Flickr
Alvo preferencial das fake news é o presidente, favorito nas pesquisas
Segundo o Bolívia Verifica, o vídeo até existe – mas foi gravado no México, em 2018. E não é difícil de perceber: além de ser feita referência direta a um político do país norte-americano, as pessoas que fazem parte da gravação falam com sotaque mexicano e têm um vocabulário diferente dos bolivianos.
Não bastasse “manipular as urnas”, Morales também é “responsável” por pedir que a população se arme para defender o país contra separatistas. Ou, ao menos, é o que diz um post do Twitter de setembro, falsificado como se fosse da conta do presidente. “Irmãos e irmãs, a guerra com a direita é cada dia mais tensa”, dizia o texto. Tudo mentira.
Milhões no Vaticano
Uma fake news que ficou famosa na Bolívia foi a de que Morales teria uma conta milionária no Banco do Vaticano. Mas não só ele: pense em algum presidente ou ex-presidente latino-americano, preferencialmente de esquerda, e a “conta milionária” aparece: Cristina Kirchner, Lula, Rafael Correa, Raúl Castro, Nicolás Maduro, Daniel Ortega… até o direitista colombiano Juan Manuel Santos seria “beneficiário” do butim.
Um falso diácono, chamado Jorge Sonnante, seria o responsável pela “denúncia”, que não tem base na realidade. Como provas, são apresentadas cartas em espanhol (a língua oficial do banco é a italiana) e promessas de juros de 9% (a instituição não paga juros).
A informação sobre a suposta conta voltou a viralizar nos últimos dias por conta do período eleitoral, mas já circulava nas redes sociais ao menos desde janeiro.
O candidato da oposição, Carlos Mesa, também é vítima de fake news, assim como Morales. De acordo com o Bolívia Verifica, uma das mais recentes é a que dá conta de que o governo da Bolívia ainda estaria pagando “empréstimos” feitos por Mesa quando era presidente (2003-2005) a fim de pagar salários e “presentes”. Para provar, o post mentiroso traz uma “manchete” de uma entrevista que o ex-mandatário deu à CNN em Espanhol – na qual nem se falou sobre o assunto. O próprio governo de Morales confirmou ao site que estes débitos não existem.