“Uma vergonha” classificou o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, sobre a falta de consenso do Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) em relação aos ataques de Israel na Faixa de Gaza.
“Desde 7 de outubro, nos reunimos diversas vezes, foram apresentadas quatro resoluções, mas seguimos com um impasse por causa de desacordos internos especialmente entre alguns membros permanentes e, também, pela utilização do Conselho para atingir propósitos de interesse próprio ao invés de priorizar a proteção dos civis”, complementou o chanceler.
Vieira participou de mais uma sessão do Conselho da ONU, que reuniu as delegações em Nova York nesta segunda-feira (30/10), para discutir a guerra entre Israel e Hamas, que chegou ao seu 24° dia.
O ministro brasileiro condenou os constantes bombardeios de Israel que, de acordo com ele, matou mil crianças na Faixa de Gaza no intervalo de uma semana entre seu anterior discurso na entidade e o que proferiu hoje:
“Arriscando afirmar o óbvio, quero dizer de forma direta: não pode haver resgate de reféns e ajuda humanitária sob bombardeio”, ressaltou Vieira, enquanto, ao mesmo tempo, afirmou que “nada justifica os crimes do Hamas”, reforçando que todos os reféns israelenses devem ser libertados.
Em discursos anteriores, o ministro já vinha deixando claro que a “violência gera mais violência” ao falar do direito que os países têm de proteger seus cidadãos diante de um ataque. Mais uma vez, Vieira reforçou:
“O direito e o dever de proteger a população de um Estado não pode e não deve ocorrer à custa de mais mortes de civis e de mais destruição de infraestruturas civis.” citando uma frase do Secretário-Geral da ONU, António Guterres, de que “até as guerras têm regras”.
Twitter/UN News
Delegações se reúnem em Nova York para mais uma sessão do Conselho de Segurança da ONU, sobre guerra em Gaza
Para finalizar, o chanceler brasileiro criticou novamente o Conselho de Segurança pela “ineficácia da governança”, relembrando que nenhuma resolução relacionada a conflitos no Oriente Médio foi aprovada pelo órgão desde 2015.
O Brasil exerce a presidência do Conselho de Segurança até o final de outubro e segue destacando seus esforços diplomáticos para alcançar consenso em uma proposta de resolução. Até agora, o texto brasileiro foi o que obteve maior apoio, embora tenha sido vetado pelos Estados Unidos.
Uma “punição coletiva”
No início da sessão, o chefe da Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (ACNUR) alertou que os palestinos na Faixa de Gaza estavam sendo submetidos a deslocamentos forçados.
De acordo com Philippe Lazzarini, metade da população de Gaza foi instruída pelas autoridades israelitas a evacuar para o sul, no entanto um número significativo de habitantes em Gaza foi morto enquanto tentava procurar refúgio.
O comissário-geral da ACNUR ainda classificou o cenário como uma “punição coletiva” ao destacar que cerca de 3,2 mil crianças foram mortas em Gaza em apenas três semanas, o que ultrapassa o número total de crianças mortas anualmente nas zonas de conflito do mundo desde 2019.
Em seguida, a diretora executiva do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), Catherine Russell, afirmou que, em média, 420 crianças são mortas ou feridas diariamente em Gaza.
Já a Organização Mundial de Saúde (OMS) resumiu o impacto da guerra em números: 34 ataques contra instalações de saúde, incluindo 21 hospitais; 221 escolas e mais de 177 mil unidades habitacionais destruídas; escassez de água potável e 55% da infraestrutura de abastecimento de água sob necessidade de reparos. Somente uma usina de dessalinização opera com apenas 5% de sua capacidade, enquanto seis estações de tratamento de água não funcionam por falta de combustível e energia.