O embaixador chinês na Organização das Nações Unidas (ONU) declarou, após a aprovação da nova resolução que pede cessar-fogo imediato e incondicional em Gaza durante o Ramadã, nesta segunda-feira (25/03), que Pequim sempre teve um posicionamento claro desde o início da guerra no enclave palestino.
“Depois de repetidos vetos às ações do conselho, os Estados Unidos finalmente decidiram parar de obstruir as exigências do órgão por um cessar-fogo imediato. Os Estados Unidos tentaram encontrar todos os tipos de desculpas e ainda fizeram acusações contra a China”, afirmou Zhang Jun.
O enviado ainda lembrou os mais de 32 mil palestinos que perderam a vida em decorrência das operações israelenses em Gaza e lamentou que a resolução votada nesta segunda-feira “chega tarde demais”. No entanto, ressaltou esperança em relação à medida — se implementada efetivamente — para “as milhões de pessoas que permanecem atoladas em uma catástrofe humanitária sem precedentes” .
Rússia espera por cessar-fogo ‘permanente’
O embaixador da Rússia na ONU, Vasily Alekseyevich Nebenzya, disse que seu país espera que o documento aprovado seja usado “a favor da paz”, e não como uma ferramenta que promova a “operação israelense desumana contra os palestinos”.
“É de fundamental importância que o Conselho de Segurança da ONU, pela primeira vez, exija que as partes olhem para um cessar-fogo imediato, mesmo que limitado ao mês do Ramadã”, disse Nebenzya.
O representante russo também questionou a ambiguidade do termo “duradouro”, uma vez que ele pode ser interpretado de “várias maneiras diferentes”. Segundo ele, seria necessário um cessar-fogo “permanente”.
Sem mencionar os Estados Unidos, o embaixador disse que “aqueles que estão fornecendo cobertura para Israel ainda querem dar uma mão livre”.
“Pensamos que é de fundamental importância votar a favor da paz. O conselho deve continuar trabalhando para alcançar um cessar-fogo permanente”, reforçou.
Palestina: ‘um passo na direção certa’
O Ministério dos Negócios Estrangeiros palestino publicou um comunicado destacando que a adoção da resolução é “um passo na direção certa para travar os ataques israelenses a Gaza, facilitar a retirada das forças israelenses, além de permitir a entrada de ajuda e o regresso dos deslocados”.
A nota divulgada nesta segunda-feira também expressa a necessidade de que o cessar-fogo se estenda para além do Ramadã.
EUA: abstenção não representa ‘nenhuma mudança política’
A resolução apresentada no Conselho da ONU nesta segunda-feira obteve o apoio de 14 países. A única nação, no entanto, que se absteve foram os Estados Unidos, depois de três vezes terem vetado os documentos que mencionavam cessar-fogo em Gaza.
O porta-voz da Casa Branca justificou que a decisão de Washington “não representa nenhuma mudança em nossa política”. No entanto, o detalhe que impediu a nação de ser favorável ao texto foi que ele não continha “a linguagem essencial, como uma condenação do Hamas”.
John Kirby ainda acrescentou que as autoridades norte-americanas estão “muito decepcionadas com a decisão de Netanyahu de não enviar seus assessores para conversas na Casa Branca sobre a operação em Rafah”, como havia sido prometido dias antes.
Isso porque, mais cedo, Netanyahu cancelou a partida de uma delegação israelense para negociações em Washington sobre seus planos operacionais no sul do enclave, logo após os Estados Unidos terem optado pela abstenção, e não pela rejeição, sobre a resolução de cessar-fogo em Gaza.
Israel: resolução é ‘vergonhosa’
O embaixador de Israel na ONU, Gilad Erdan, reclamou que a resolução não exigiu um cessar-fogo sem “condicioná-lo” à libertação de prisioneiros israelenses em Gaza.
“Dá aos terroristas do Hamas a esperança de obter um cessar-fogo sem libertar os reféns. Todos os membros do conselho deveriam ter votado contra essa resolução descarada”, criticou Erdan, ao classificar a decisão de hoje como uma “contradição moral”.