A declaração feita pelo secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) nesta terça-feira (24/10), atribuindo a Israel o cometimento do crime de “punição coletiva ao povo palestino” devido à ofensiva militar realizada desde o dia 7 de outubro contra a população civil da Faixa de Gaza, provocou uma reação agressiva dos representantes de Tel Aviv no organismo.
Em meio a uma reunião do Conselho de Segurança, principal órgão da ONU, Guterres fez um pronunciamento marcado por críticas tanto ao governo israelense quanto à estratégia do Hamas.
Em suas primeiras palavras, o diplomata português que comanda as Nações Unidas desde 2017, descreveu as ações do movimento palestino como “atos inequivocamente horríveis e sem precedentes”, e acrescentou que “nada pode justificar o assassinato, o ferimento e o rapto deliberados de civis ou o disparo de foguetes contra alvos civis”.
Em seguida, voltou suas críticas a Israel, afirmando que “assim como as exigências do povo palestino não podem justificar os ataques atrozes do Hamas, os atos do Hamas não podem justificar a punição coletiva do povo palestino”.
O uso do termo “punição coletiva” foi o mais destacado da declaração de Guterres, porque se refere a um conceito que é descrito na Convenção de Genebra de 1949 como “crime de guerra”, conceituado como “a punição aplicada a todo um grupo de pessoas, em razão da conduta de um ou mais indivíduos desse grupo, com base na generalização da culpa (culpa coletiva), ou em razão das ações de um outro grupo, sobre o qual o grupo castigado não tem controle direto”.
“Devemos exigir que todas as partes cumpram e respeitem as suas obrigações ao abrigo do direito internacional humanitário. Estas incluem tomar cuidado na condução das operações militares para não causar danos aos civis, respeitar e proteger os hospitais e respeitar a inviolabilidade das instalações da ONU, que hoje abrigam mais de 600 mil palestinos”, frisou o secretário-geral.
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Declarações do secretário-geral António Guterres no Conselho de Segurança da ONU causaram indignação em Israel
Guterres concluiu sua intervenção com um apelo a uma “trégua humanitária imediata”. Ele também insistiu na retomada de uma negociação visando a tese da coexistência de dois Estados, um israelense e outro palestino.
Israel solicita renúncia de Guterres
A reação do embaixador israelense na ONU, Gilad Erdan, foi imediata. O diplomata classificou as declarações de Guterres como “opiniões horríveis”.
“Foi um discurso chocante, proferido ao mesmo tempo em que foguetes são disparados contra todo o território de Israel”, afirmou Erdan, que acusou o secretário-geral de estar “completamente desligado da realidade da nossa região, descrevendo os atos cometido pelos terroristas nazistas do Hamas de uma forma distorcida e imoral”.
A resposta do embaixador israelense se mostrou em sintonia com a declaração do premiê do país, Benjamin Netanyahu, durante reunião em Tel Aviv com o presidente da França, Emmanuel Macron, o que dá a sensação de que Israel pretende promover a retórica de comparar o Hamas aos nazistas como forma de impor sua narrativa no conflito.
Finalmente, tanto Erdan, durante a reunião do Conselho de Segurança, quanto o chanceler de Israel, Eli Cohen, em Tel Aviv, manifestaram o pedido israelense para que Guterres renuncie ao seu cargo como principal autoridade da ONU.
Vale lembrar que o diplomata português, de 74 anos, foi reeleito como secretário-geral em 2021, e seu mandato só terminará em 2027. A próxima eleição para o cargo está programada para o ano de 2026.