Mais de 50 jornalistas que trabalham para emissoras de televisão britânicas e norte-americanas, incluindo a BBC e a CNN, escreveram aos governos israelense e egípcio para exigir “acesso livre e desimpedido” a Gaza para os meios de comunicação estrangeiros.
“Quase cinco meses após o início da guerra em Gaza, os jornalistas estrangeiros ainda não têm acesso a este território, salvo raras visitas sob escolta do Exército israelense”, sublinham os jornalistas em carta publicada nesta quarta-feira (28/02).
Os signatários são correspondentes ou apresentadores baseados em Londres que trabalham para as redes de tevê britânicas BBC, Sky News, ITV, Channel 4 e para os canais norte-americanos CNN, ABC, NBC e CBS.
“Fazemos um apelo aos governos israelense e egípcio para permitirem a todos os meios de comunicação estrangeiros acesso livre e desimpedido a Gaza”, escrevem.
“Pedimos ao governo israelense para (…) permitir que jornalistas internacionais trabalhem em Gaza e às autoridades egípcias para permitirem que jornalistas internacionais tenham acesso ao ponto de passagem de Rafah”, acrescentam.
Apenas alguns meios de comunicação, incluindo a AFP, têm jornalistas em Gaza. São palestinos que já estavam no território antes da guerra em 7 de outubro.
Desde então, quase 30 mil pessoas foram mortas na Faixa de Gaza, bombardeada diariamente pelo Exército israelense. A ONU estima que 2,2 milhões de pessoas correm o risco de passar fome.
Segundo o Comitê para a Proteção dos Jornalistas, pelo menos 85 profissionais da comunicação morreram na Faixa de Gaza desde o início do conflito, um número ainda maior, segundo outras fontes.
“É essencial que a segurança dos jornalistas locais seja respeitada e que seus esforços sejam apoiados pelo jornalismo e membros da mídia internacional”, disse o correspondente da Sky News, Alex Crawford.
“Só posso presumir que Israel não permite que jornalistas trabalhem livremente dentro de Gaza, porque seus soldados fazem coisas que não querem que vejamos”, disse Jeremy Bowen, da BBC.
“Relatórios de jornalistas estrangeiros poderiam confirmar a afirmação de Israel de que, para usar uma expressão comum no país, 'este é o exército mais moral do mundo'”, continuou ele, antes que “jornalistas estrangeiros pudessem descobrir provas que confirmassem alegações de crimes de guerra e, ainda mais grave, de genocídio”. “Até entrarmos nunca saberemos”, frisou o jornalista.
Prof Thuli Madonsela #KindnessBuilds/Twitter
Dia de apoio aos jornalistas palestinos
O dia 26 de fevereiro foi declarado “dia mundial de apoio aos jornalistas palestinos”. A iniciativa partiu do Sindicato dos Jornalistas da Jordânia, que fez um apelo para que todos os jornalistas e profissionais de comunicação do reino tomassem posição, em solidariedade aos jornalistas palestinos.
Na segunda-feira, cerca de 50 diretores de veículos de comunicação, editores-chefes e repórteres da Jordânia decidiram se reunir e fornecer informações sobre a situação dos colegas palestinos que atualmente cobrem a situação na Faixa de Gaza. A iniciativa recebeu o apoio da Federação Internacional de Jornalistas.
“Este protesto visa enviar uma mensagem aos nossos irmãos, irmãs, colegas jornalistas que trabalham atualmente na Faixa de Gaza, que fazem um trabalho excelente e sem precedentes, com coragem e determinação”, explica Hassan Choubaki, diretor do escritório da Al Jazeera em Amã.
Mais de cem jornalistas mortos em Gaza
Hamza al-Dahdouh, Mustafa Thuraya são alguns jornalistas palestinos que morreram cobrindo a guerra em Gaza.
Organizações como Repórteres Sem Fronteiras e o Comitê para a Proteção dos Jornalistas denunciam o ataque deliberado a jornalistas.
“Aqui, temos quase dez sindicatos de jornalistas jordanianos mobilizados em prol dos jornalistas palestinos. Nós, na Jordânia, tivemos que fazê-lo, porque estamos muito próximos do conflito. Os repórteres palestinos documentam a realidade de Gaza sob escombros e numa situação terrivelmente complicada”, diz Basil Okoor, editor-chefe de um canal de televisão local.
De acordo com o último relatório da Sociedade de Jornalistas de Imprensa Palestinos, publicado no início do ano, 102 jornalistas foram mortos na sequência dos bombardeios israelenses, ou quase 8,5% dos jornalistas em Gaza.