O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, declarou neste domingo (18/02) que o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva “apoia uma organização terrorista e genocida – o Hamas”, e que “ao fazer isso, traz grande vergonha para seu povo e viola os valores do mundo livre”. Segundo ele, “acusar israel de perpetuar um Holocausto é ultrajante e abominável”.
A acusação de Gallant vem na esteira de uma série de declarações de autoridades israelenses em resposta a uma fala de Lula neste domingo (18) em Adis Abeba, capital da Etiópia, na qual defendeu um cessar-fogo imediato na guerra israelense contra Gaza.
Durante sua fala, Lula comparou a situação da população em Gaza com a de judeus na Alemanha durante o Holocausto hitlerista. “Eu fico imaginando qual é o tamanho da consciência política dessa gente, e qual é o tamanho do coração solidário dessa gente, que não está vendo que na Faixa de Gaza não está acontecendo uma guerra, mas um genocídio. Não é uma guerra entre soldados e soldados, é uma entre um exército altamente preparado e mulheres e crianças […] O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus.”
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, foi um dos que reagiram à declaração de Lula, dizendo que o mandatário brasileiro “cruzou a linha vermelha” e convocando o embaixador brasileiro em Tel Aviv, Frederico Meyer, para uma reprimenda.
Quem é Yoav Gallant?
Yoav Gallant, o ministro da Defesa que acusa Lula de apoiar organizações terroristas, é membro do Likud, o partido de extrema-direita do premiê Netanyahu. Com passagens pelo ministério da Construção (2015-2019), Absorção e Imigração (2019-2020) e Educação (2020-2021), Yoav – que tem esse nome em homenagem à operação militar israelense de 1948, na qual seu pai, um soldado israelense, participou – é major-general das Forças de Defesa de Israel. Ele comandou a Operação Chumbo Fundido, entre dezembro de 2008 e janeiro de 2009, que resultou na morte de ao menos 1166 palestinos, um terço dos quais eram crianças. Gallant foi apontado como o responsável por implementar a Doutrina Dahiya durante a operação, que prevê a destruição maciça de infraestrutura civil, e que o relatório Goldstone das Nações Unidas concluiu ser “planejada para punir, humilhar e aterrorizar a população civil”.
DoD / Chad J. McNeeley
O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, durante visita do secretário de Defesa dos EUA, LLoyd Austin, a Tel Aviv, em outubro de 2023
Mais recentemente, em outubro do ano passado, Gallant se notabilizou por dizer que as forças israelenses combatem contra “animais humanos” na Faixa de Gaza. O ministro da Defesa disse então que a ordem era “estabelecer um bloqueio total na Faixa de Gaza. Não haverá eletricidade, nem comida, nem água, nem combustível”. De acordo com um artigo do jornalista Martín Cúneo, “os paralelos entre o discurso do ministro da Defesa e a retórica do Partido Nazista alemão são evidentes. De acordo com uma investigação recente da Universidade de Stanford (Califórnia) e da Universidade de Telavive, o discurso nacional-socialista começou nos anos 30 com a animalização dos judeus europeus, retratando-os como incapazes de ter sentimentos humanos, e, quando o extermínio começou, passou a compará-los a seres monstruosos, um passo necessário para ‘diminuir as barreiras morais para a sua eliminação em massa’”
.As declarações de Gallant foram parte das evidências apontadas pela África do Sul para amparar a acusação de genocídio por parte do Estado de Israel na sua ação na Corte Internacional de Justiça. O ministro da Defesa disse então que “o Estado de Israel não precisa ser ensinado sobre moralidade para distinguir entre terroristas e população civil em Gaza”, acusando a Corte Internacional de Justiça “ir além, quando acolheu o pedido antissemita da África do Sul para discutir a acusação de genocídio em Gaza”.