O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, concedeu a primeira entrevista a alguns jornalistas russos de portais independentes neste domingo (27/03) e afirmou que seu governo está disposto a debater o “status de neutralidade” nas negociações de paz com o Kremlin.
“Garantias de segurança e o status de neutralidade e não nuclear do nosso Estado. Estamos prontos para aceitar isso e isso é o ponto mais importante. Era o primeiro ponto de princípio para a Federação Russa, no que lembro. E, pelo que lembro, a guerra começou por isso”, disse em tom de ironia em trecho reproduzido pela emissora norte-americana CNN.
Ainda conforme a emissora, o mandatário voltou a acusar Moscou de raptar “mais de duas mil crianças” e de estar causando uma “catástrofe humanitária” em Mariupol, cidade portuária sitiada desde o início da guerra.
Segundo informações divulgadas pelo próprio Zelensky em sua conta no Telegram, a conversa durou cerca de duas horas e será publicada ainda nesta segunda-feira (28/03) na Rússia. Entre os profissionais que participaram da conversa, estavam o chefe de redação do portal Meduza, Ivan Kolpakov, o chefe de redação da TV Dozhd, Tikhon Dzyadko, o escritor e o jornalista Mikhail Zigar e o correspondente da Kommersant Vladimir Solovyov.
A mídia ucraniana divulgou que Zelensky afirmou que diversos “empresários russos” ofereceram ajuda e que Kiev vai oferecer refúgio para aqueles que querem sustentar a luta ucraniana.
“Alguns já nos disseram prontos para ajudar a reconstruir o país no pós-guerra”, acrescentou.
Rússia investiga envolvidos na entrevista
No entanto, a divulgação das matérias das poucas mídias independentes russas está sob risco. A agência que controla a mídia de Moscou, Roskomnadzor, informou que está investigando todos os envolvidos na entrevista.
Desde o início da guerra, o Kremlin proibiu que os veículos de comunicação usem o termo bélico para o conflito e citem apenas o ataque como uma “operação militar especial”. Duas leis já foram aprovadas sobre isso e impõem a pena de prisão de até 15 anos de quem falar mal do Kremlin ou usarem “notícias falsas de maneira deliberada” sobre a ação russa em outro país.
Além disso, o presidente Vladimir Putin baixou uma lei de censura contra diversos veículos independentes. Poucos ainda sobrevivem na Rússia atualmente, e os maiores acabam tendo sede em outras nações para fugir da perseguição, como o caso do Meduza, que tem sede na Letônia.
Zelensky chegou a dizer que Moscou “está com medo da verdade” ao tentar censurar a fala.
Em entrevista nesta segunda à CNN, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou que o governo “não tem medo” do presidente ucraniano. Porém, o representante afirmou que “nós temos leis e é muito importante não publicar informações que equivalem a uma violação dessas leis”.
Twitter/Zelensky
Presidente ucraniano disse que país está pronto para aceitar status de neutralidade