Na segunda rodada da fase do grupo F da Copa do Mundo Feminina de 2023, o Brasil enfrenta a França neste sábado (29/07), no estádio Lang Park, em Brisbane, no Nordeste da Austrália.
As brasileiras enfrentarão as representantes de um país que já passou por monarquias, revoluções, invasões e diversos períodos controversos em sua história, repleta de personagens marcantes, como Joana D’Arc, Napoleão Bonaparte, Charles de Gaulle e outros.
Um país cuja história futebolística não é tão recheada de grandes feitos, embora alguns sejam recentes e marcantes – como os títulos mundiais de 1998 e 2018 –, e que inclui uma certa hegemonia contra a seleção brasileira masculina, que as mulheres precisarão evitar que se reproduza em sua modalidade.
Origem
A região europeia que conhecemos hoje como França foi ocupada por diferentes tribos e povos durante a história antiga.
Por volta do ano 52 a.C., quando boa parte dessas terras eram conhecidas como Gália, as campanhas lideradas por Júlio César selaram o domínio da República Romana sobre a região e do povo céltico que a habitava, os gauleses. Esse controle perdurou por todo o período do Império Romano, entre 27 a.C. e 395 d.C.
Diz a lenda que, durante o período imperial, alguns habitantes da região passaram a ser chamados de “francs”, palavra usada pelas tribos gaulesas para denominar “pessoas livres”, devido ao fato de que a Gália era um território livre da tributação romana. Essa é a versão mais aceita para a origem do nome do país, embora existam outras teorias.
Com o colapso do poder de Roma, a região se dividiu em diferentes reinos, até que Clóvis, então rei dos francos sálios (que viviam nas terras do Norte do país), selou a aliança dos territórios francófonos, reunindo todas as tribos sob um único governante e tornando-se o primeiro monarca do Reino dos Francos.
Alguns historiadores consideram Clóvis como fundador da Dinastia Merovíngia, que governou o Reino dos Francos durante seus dois primeiros séculos de existência, embora ele seja neto do patriarca do clã: Meroveu, rei dos francos sálios entre os anos 450 e 458.
Clóvis também foi o primeiro monarca da Idade Média a se converter ao cristianismo católico, razão pela qual alguns historiadores chamam a França de “filha mais velha da Igreja”.
Santa heroína
A história das monarquias francesas é marcada por diversos períodos de crise e guerra, especialmente contra a Inglaterra.
Uma dessas guerras – a chamada Guerra dos 100 Anos, que na verdade durou 116, entre 1337 e 1453 – teve como figura uma mulher que é considerada até hoje como uma das maiores heroínas, ou talvez a maior da história do país.
Conta a história que a camponesa francesa Joana D’Arc Joana recebia visões de divindades, como o arcanjo Miguel e Santa Catarina, que a instruíram sobre como ajudar as forças do rei Carlos VII no enfrentamento aos ataques da Inglaterra.
Carlos VII não havia sido coroado devido ao domínio inglês sobre o Reino da França, mas enviou Joana junto com o exército que partiu para tentar derrubar o Cerco de Orleáns, em 1429. A vitória francesa nessa batalha transformou a jovem em heroína aos olhos do povo francês, imagem que se reforçou após outras conquitas militares que também teriam sido ganhas graças a estratégias surgidas nas visões de Joana, que alteraram o desequilíbrio da guerra a virar em favor dos franceses.
Porém, após o fracasso do Cerco de Paris, Joana perdeu boa parte do seu prestígio entre a nobreza francesa. Em maio de 1430, ela foi capturada por um grupo de franceses que apoiavam os ingleses e submetida a um julgamento baseado em acusações de cunho religioso, que a descreviam como bruxa.
Joana foi condenada à morte na fogueira, sentença que foi executada em 30 de maio de 1431, quando ela tinha 19 anos. Sua morte, contudo, a elevou aos status de mártir e fez aumentar o fervor patriótico francês contra os ingleses.
Depois do fim da guerra contra a Inglaterra, a Igreja Católica perdoou Joana e reviu a sentença que a levou à morte. Seu processo de canonização se iniciou séculos depois e foi concluído em 1920, quando ela foi declarada santa por decisão do então papa Bento XV.
Revolução
O Reino da França, durou mais de 10 séculos, até que se iniciou seu ocaso definitivo, na segunda metade do Século XVIII.
Em 1789, uma grave crise econômica e social levou um grupo de populares armados a invadir a Bastilha, fortaleza usada como prisão política e vista com símbolo da opressão do regime monárquico.
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A tomada da Bastilha, em 14 de julho de 1789, repercutiu em todo o país e inspirou outros grupos que vinham se organizando em diferentes regiões, também insatisfeitos com a situação econômica e social.
Esses grupos organizados em Paris e outras regiões da França, que impulsionaram a primeira fase da revolução, também eram inspirados pelas ideias iluministas e liberais que ganhavam força naquela época, e publicaram, em agosto daquele ano, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão – documento que também foi a base da Declaração Universal dos Direitos Humanos, promulgada pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1948.
Também foi estabelecida naquele então uma Assembleia Constituinte, que duraria até setembro de 1791 e produziria o documento que sentaria as bases da primeira República francesa, comandada por grandes grupos burgueses, entre os quais se destacaram nomes como Maximilien de Robespierre, Georges Jacques Danton e Jean-Paul Marat.
De Napoleão à invasão nazista
Aquele primeiro período republicano durou apenas 12 anos e terminou quando Napoleão Bonaparte se tornou imperador da França, iniciando um período em que a monarquia ganhou uma sobrevida até 1870, quando terminou o reinado do seu sobrinho, Napoleão III, o último monarca da história do país, o que deu início à Terceira República – a Segunda República durou apenas um mandato e foi exercida pelo próprio Napoleão III, entre 1848 e 1852, quando este realizou um autogolpe e se manteve no poder com o retorno da monarquia.
O terceiro período republicano francês foi interrompido somente em 1940, quando se inicia a invasão nazista no país. Durante a Segunda Guerra Mundial, a Alemanha impôs Philippe Pétain como chefe de Estado da chamada “França de Vichy”, regime fantoche que executava no país as ordens enviadas por Berlim.
Com o fim da guerra, o país voltou a se chamar apenas França e se iniciou um quarto período republicano, marcado por fracassos políticos e econômicos, até que Charles de Gaulle, que havia sido líder da resistência francesa durante a ocupação nazista, assume o primeiro dos seus dois mandatos consecutivos, inaugurando a Quinta República Francesa, vigente até hoje.
Do reinado de Clóvis até a atual Presidência de Emmanuel Macron (desde 2017), o país jamais foi governado por uma mulher.
História futebolística
A história futebolística da França não é muito agradável para os brasileiros, especialmente no que diz respeito às Copas do Mundo, já que a seleção canarinho é uma das maiores vítimas dos “Bleus” nesse torneio, tanto no masculino quanto no feminino.
Apesar da própria Copa do Mundo ser inventada pelo francês Jules Rimet, a França só teria sua primeira boa campanha no torneio masculino dois anos depois da sua morte, em 1958, quando a equipe liderada pelo franco-marroquino Just Fontaine chegou às semifinais da Copa da Suécia, perdendo para o Brasil de Pelé e Garrincha.
Foi a única derrota francesa contra o Brasil na história das Copas. As duas seleções voltariam a se enfrentar nas quartas de final da edição de 1986, no México, quando o time de Michel Platini e Jean Tigana venceu o Brasil de Zico e Sócrates nos pênaltis.
Em 1998, no torneio disputado na França, o time da casa venceu a final contra o Brasil de Ronaldo por 3×0, graças a dois gols de Zinedine Zidane. O filho de descendentes argelinos também liderou a equipe que eliminou a Canarinho da Copa de 2006, na Alemanha, com uma vitória por 1×0, na última partida entre os dois países numa copa masculina.
As mulheres brasileiras e francesas também tiveram um duelo, justamente na última Copa do Mundo da modalidade, na França. A partida foi válida pelas oitavas de final da competição e terminou com empate em 1×1 no tempo normal, mas o time da casa acabou vencendo com um gol na prorrogação.