Quarta-feira, 11 de junho de 2025
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As seleções de futebol da Alemanha e do Japão se enfrentam na Copa do Mundo do Catar nesta quarta-feira (23/11), dentro do Estádio Internacional Khalifa, na primeira rodada do Grupo E. O clima entre as nações, no entanto, nem sempre foi de rivalidade: ao lado da Itália, as nações integraram o Eixo durante a Segunda Guerra Mundial, grupo derrotado pelos esforços dos Aliados (União Soviética, Reino Unido, França e Estados Unidos).

Apesar da aliança durante o conflito, o Japão Imperial (1868-1947) e a Alemanha Nazista (1933-1945), nem sempre tiveram relações diplomáticas lineares, como aponta o Museu Nacional da Segunda Guerra Mundial norte-americano.

Com diferentes objetivos expansionistas, tanto dentro da Europa, quanto na Ásia, vide a invasão japonesa na China em 1937, e, no caso da Alemanha, a política de “Lebensraum” (região que, para os nazistas, deveria ter um equilíbrio de recursos e colonização do povo alemão), as duas potências fascistas colecionaram, ao longo do tempo, inimigos comuns.

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No artigo Germany’s diplomatic relations with Japan 1933-1941 (Relações diplomáticas da Alemanha com o Japão 1933-1941), o pesquisador norte-americano George John Stratman análise as ligações entre os países, apontando que o anticomunismo atuaria como fator principal para as relações exteriores das duas nações: “o choque de sistemas políticos rivais foi uma característica importante nas relações internacionais dentro da Europa e o antagonismo do comunismo foi um fator igualmente importante na política externa do Japão no Extremo Oriente”.

Com o “Pacto Anticomintern”, assinado em 25 de novembro de 1936 pelo embaixador japonês Kintomo Mushakoji e pelo alemão Joachim von Ribbentrop, que se tornaria ministro das Relações Exteriores da Alemanha apenas dois anos mais tarde, as nações se comprometeram a batalhar contra a Internacional Comunista, mas ainda faltava uma colaboração linear.

Conflitos regionais

Os anos seguintes foram marcados pela Guerra Sino-Japonesa (1937-1945), travada entre o Império do Japão e a República da China, que contou com a ajuda de militares soviéticos e norte-americanos para combater a ameaça imperialista japonesa.

Stratman destaca em seu estudo que a posição de Adolf Hitler durante o início do conflito foi neutra, uma vez que os nazistas queriam manter relações com a China, que trazia comércio lucrativo para a Alemanha. Tal posicionamento de Berlim fez com que as relações com o Japão “estremecessem”. 

Com a escalada da guerra japonesa em território chinês, o Departamento de Estado norte-americano rompe um tratado bilateral de Comércio e Navegação em agosto de 1939, endurecendo o posicionamento em relação à futura potência do Eixo. 

No mesmo mês, a batalha do Exército Vermelho contra os militares japoneses na Manchúria, região histórica no leste da Ásia, então ocupada pelo Império, marca uma derrota para o Japão, deixando 8.600 mortos e mais de 9.000 feridos, de acordo com o Museu Nacional da Segunda Guerra Mundial dos Estados Unidos.

Com relação estremecida pela Guerra Sino-Japonesa (1937-1945), países criaram o Eixo em 1940, ao tentarem conter, sem sucesso, o avanço diplomático e militar soviético

Domínio Público

Yosuke Matsuoka em encontro com Adolf Hitler, duas lideranças do Eixo, no ano de 1941

Klaus H. Schmider, autor de Forging an Unlikely Alliance: Germany and Japan, 1933–1941 (Forjando uma Aliança Improvável: Alemanha e Japão, 1933-1941), afirma que a mudança de atitude dos Estados Unidos fez com que Tóquio ficasse sem aliados no Ocidente enquanto “lutava uma guerra insuperável no continente asiático”.

Para ele, a hostilidade do Japão por Washington, combinada com a rivalidade do Reino Unido à Alemanha Nazista e ao Império Japonês, fez com que as nações se aproximassem novamente, contando ainda com o sentimento anti-alemão de países como a Bélgica e a França.

A retomada das relações diplomáticas não fariam, no entanto, com que os países se tornassem completamente unidos. Porém, em agosto de 1939, ano de início da Segunda Guerra Mundial, a Alemanha Nazista assina o “Pacto Molotov-Ribbentrop” com a União Soviética, a inimiga mais prejudicial do Japão naquele momento.

O tratado de Molotov-Ribbentrop teve como objetivo formalizar a não-agressão entre as duas nações, assim como o estabelecimento de esferas de influência, dividindo territórios de países como a Polônia, a Lituânia, a Letônia, a Estônia, a Finlândia e a Romênia. 

Além de trazer vantagens para a URSS, mas reforçando, principalmente, a noção imperialista de espaço vital dos nazistas.

É apenas após a queda do governo de Kiichirō Hiranuma, primeiro-ministro do Japão entre janeiro e agosto de 1939, que o país agora comandado por Nobuyuki Abe tenta negociar com a União Soviética de Josef Stalin. Em meio a estas negociações, em setembro daquele ano, o Império japonês passou a adotar a diplomacia na relação com o inimigo das batalhas na Manchúria.

Pacto do Eixo 

Após dois anos de conversas da Alemanha Nazista com a Itália Fascista de Benito Mussolini é que surge o “Pacto do Eixo”, em 1940. Para além das duas nações europeias, o Império japonês também assina o documento, mesmo demonstrando interesses conflitantes, já que destaca o sucesso da anexação da Polônia pelos soviéticos. 

A presença de Yosuke Matsuoka, primeiro-ministro japonês pró-germânico, foi essencial para a assinatura do pacto, aponta o pesquisador Stratman. A figura do premiê também é aliada na arquitetura de outro documento para as relações internacionais nipônicas durante a Segunda Guerra Mundial: o “Pacto de Neutralidade Nipônico-Soviético”, que pôs fim à guerra não declarada entre o Império do Japão e a União Soviética, em abril de 1941.

Apesar do sucesso das políticas de “blitzkrieg” (guerra-relâmpago) alemãs, caracterizadas por ataques rápidos e de surpresa, e a conquista dos japoneses de territórios antes ocupados por forças imperialistas francesas e britânicas, a partir de 1942, o cenário muda para o Eixo com a entrada dos Estados Unidos no conflito, em setembro de 1941, e também pelas derrotas em batalhas contra os soviéticos.

Por conta desse novo cenário, o Eixo entra oficialmente em decadência na Europa após a derrota da Alemanha em Stalingrado, hoje batizada de Volgogrado, em 1942, e a queda do fascismo italiano, em 1943.

Já na Ásia, o imperialismo japonês tentava, sem sucesso, se manter. Em 1944, o país estava em ruínas e, com a rendição dos nazistas um ano mais tarde, em maio de 1945, os Aliados exigiram que o Japão também se rendesse, por meio da “Declaração de Potsdam”.

A rendição japonesa, no entanto, só ocorreria em setembro daquele ano, após o lançamento de bombas atômicas norte-americanas sobre Hiroshima e Nagasaki, em agosto de 1945.