As seleções de futebol da Alemanha e do Japão se enfrentam na Copa do Mundo do Catar nesta quarta-feira (23/11), dentro do Estádio Internacional Khalifa, na primeira rodada do Grupo E. O clima entre as nações, no entanto, nem sempre foi de rivalidade: ao lado da Itália, as nações integraram o Eixo durante a Segunda Guerra Mundial, grupo derrotado pelos esforços dos Aliados (União Soviética, Reino Unido, França e Estados Unidos).
Apesar da aliança durante o conflito, o Japão Imperial (1868-1947) e a Alemanha Nazista (1933-1945), nem sempre tiveram relações diplomáticas lineares, como aponta o Museu Nacional da Segunda Guerra Mundial norte-americano.
Com diferentes objetivos expansionistas, tanto dentro da Europa, quanto na Ásia, vide a invasão japonesa na China em 1937, e, no caso da Alemanha, a política de “Lebensraum” (região que, para os nazistas, deveria ter um equilíbrio de recursos e colonização do povo alemão), as duas potências fascistas colecionaram, ao longo do tempo, inimigos comuns.
No artigo Germany’s diplomatic relations with Japan 1933-1941 (Relações diplomáticas da Alemanha com o Japão 1933-1941), o pesquisador norte-americano George John Stratman análise as ligações entre os países, apontando que o anticomunismo atuaria como fator principal para as relações exteriores das duas nações: “o choque de sistemas políticos rivais foi uma característica importante nas relações internacionais dentro da Europa e o antagonismo do comunismo foi um fator igualmente importante na política externa do Japão no Extremo Oriente”.
Com o “Pacto Anticomintern”, assinado em 25 de novembro de 1936 pelo embaixador japonês Kintomo Mushakoji e pelo alemão Joachim von Ribbentrop, que se tornaria ministro das Relações Exteriores da Alemanha apenas dois anos mais tarde, as nações se comprometeram a batalhar contra a Internacional Comunista, mas ainda faltava uma colaboração linear.
Conflitos regionais
Os anos seguintes foram marcados pela Guerra Sino-Japonesa (1937-1945), travada entre o Império do Japão e a República da China, que contou com a ajuda de militares soviéticos e norte-americanos para combater a ameaça imperialista japonesa.
Stratman destaca em seu estudo que a posição de Adolf Hitler durante o início do conflito foi neutra, uma vez que os nazistas queriam manter relações com a China, que trazia comércio lucrativo para a Alemanha. Tal posicionamento de Berlim fez com que as relações com o Japão “estremecessem”.
Com a escalada da guerra japonesa em território chinês, o Departamento de Estado norte-americano rompe um tratado bilateral de Comércio e Navegação em agosto de 1939, endurecendo o posicionamento em relação à futura potência do Eixo.
No mesmo mês, a batalha do Exército Vermelho contra os militares japoneses na Manchúria, região histórica no leste da Ásia, então ocupada pelo Império, marca uma derrota para o Japão, deixando 8.600 mortos e mais de 9.000 feridos, de acordo com o Museu Nacional da Segunda Guerra Mundial dos Estados Unidos.
Domínio Público
Yosuke Matsuoka em encontro com Adolf Hitler, duas lideranças do Eixo, no ano de 1941
Klaus H. Schmider, autor de Forging an Unlikely Alliance: Germany and Japan, 1933–1941 (Forjando uma Aliança Improvável: Alemanha e Japão, 1933-1941), afirma que a mudança de atitude dos Estados Unidos fez com que Tóquio ficasse sem aliados no Ocidente enquanto “lutava uma guerra insuperável no continente asiático”.
Para ele, a hostilidade do Japão por Washington, combinada com a rivalidade do Reino Unido à Alemanha Nazista e ao Império Japonês, fez com que as nações se aproximassem novamente, contando ainda com o sentimento anti-alemão de países como a Bélgica e a França.
A retomada das relações diplomáticas não fariam, no entanto, com que os países se tornassem completamente unidos. Porém, em agosto de 1939, ano de início da Segunda Guerra Mundial, a Alemanha Nazista assina o “Pacto Molotov-Ribbentrop” com a União Soviética, a inimiga mais prejudicial do Japão naquele momento.
O tratado de Molotov-Ribbentrop teve como objetivo formalizar a não-agressão entre as duas nações, assim como o estabelecimento de esferas de influência, dividindo territórios de países como a Polônia, a Lituânia, a Letônia, a Estônia, a Finlândia e a Romênia.
Além de trazer vantagens para a URSS, mas reforçando, principalmente, a noção imperialista de espaço vital dos nazistas.
É apenas após a queda do governo de Kiichirō Hiranuma, primeiro-ministro do Japão entre janeiro e agosto de 1939, que o país agora comandado por Nobuyuki Abe tenta negociar com a União Soviética de Josef Stalin. Em meio a estas negociações, em setembro daquele ano, o Império japonês passou a adotar a diplomacia na relação com o inimigo das batalhas na Manchúria.
Pacto do Eixo
Após dois anos de conversas da Alemanha Nazista com a Itália Fascista de Benito Mussolini é que surge o “Pacto do Eixo”, em 1940. Para além das duas nações europeias, o Império japonês também assina o documento, mesmo demonstrando interesses conflitantes, já que destaca o sucesso da anexação da Polônia pelos soviéticos.
A presença de Yosuke Matsuoka, primeiro-ministro japonês pró-germânico, foi essencial para a assinatura do pacto, aponta o pesquisador Stratman. A figura do premiê também é aliada na arquitetura de outro documento para as relações internacionais nipônicas durante a Segunda Guerra Mundial: o “Pacto de Neutralidade Nipônico-Soviético”, que pôs fim à guerra não declarada entre o Império do Japão e a União Soviética, em abril de 1941.
Apesar do sucesso das políticas de “blitzkrieg” (guerra-relâmpago) alemãs, caracterizadas por ataques rápidos e de surpresa, e a conquista dos japoneses de territórios antes ocupados por forças imperialistas francesas e britânicas, a partir de 1942, o cenário muda para o Eixo com a entrada dos Estados Unidos no conflito, em setembro de 1941, e também pelas derrotas em batalhas contra os soviéticos.
Por conta desse novo cenário, o Eixo entra oficialmente em decadência na Europa após a derrota da Alemanha em Stalingrado, hoje batizada de Volgogrado, em 1942, e a queda do fascismo italiano, em 1943.
Já na Ásia, o imperialismo japonês tentava, sem sucesso, se manter. Em 1944, o país estava em ruínas e, com a rendição dos nazistas um ano mais tarde, em maio de 1945, os Aliados exigiram que o Japão também se rendesse, por meio da “Declaração de Potsdam”.
A rendição japonesa, no entanto, só ocorreria em setembro daquele ano, após o lançamento de bombas atômicas norte-americanas sobre Hiroshima e Nagasaki, em agosto de 1945.