A seleção dos Estados Unidos é, inegavelmente, uma das favoritas para a Copa do Mundo Feminina 2023, que se disputa na Austrália e Nova Zelândia.
Embora a equipe atual chegue ao torneio com menos expectativas que em edições anteriores, ainda é o time que venceu as duas últimas competições e inicia este ano a busca pelo seu quinto título mundial – levantou a taça em 1991, 1999, 2015 e 2019.
No entanto, a estreia norte-americana no certame deste ano, nesta sexta-feira (21/07), fará esse favoritismo se chocar com um trauma social e político para o país, já que sua adversária será a seleção do Vietnã, país responsável pela maior derrota militar dos Estados Unidos em todos os tempos.
Contexto histórico
Desde os anos 50 e no início dos 60, os Estados Unidos apoiaram as milícias insurgentes ligadas a grupos de poder no Vietnã, buscando uma cisão no país e evitar que este adotasse o comunismo, que ganhava força após a Revolução Chinesa de 1949 e graças à luta contra o colonialismo francês em toda a região da Indochina – que incluia também o Laos, o Cambodja e a Tailândia, além de outros territórios sob domínio colonial inglês.
O resultado foi que, por muitos anos, o território ficou dividido entre o Vietnã do Norte, apoiado pela China e pela União Soviética, e o Vietnã do Sul, apoiado pelos Estados Unidos e pela França. O cenário era parecido com o que os norte-americanos geraram na Guerra da Coreia, que também provocou uma ruptura política e social na península coreana – com a diferença de que, nesse segundo caso, a divisão político-ideológica entre Norte e Sul se mantém até os dias de hoje.
Contudo, é preciso destacar que, inicialmente, o apoio norte-americano ao Vietnã do Sul foi apenas político e financeiro. Somente a partir de agosto de 1964, os Estados Unidos entraram oficialmente na Guerra e passaram a levar soldados. Isso aconteceu após a morte do ex-presidente John Kennedy (1961-1963) e a ascensão ao poder de Lyndon Johnson (1963-1969), embora tenha sido usado como desculpa um incidente contra uma embarcação norte-americana no Golfo de Tonquim.
A missão dos Estados Unidos na guerra era ajudar o Vietnã do Sul a enfrentar as forças da Frente Nacional para a Libertação do Vietnã, os chamados “vietcongues”, liderados pelo poeta e revolucionário Ho Chi Minh, maior herói do país, e pelo general Vo Nguyen Giap.
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Tanque com a bandeira viet congue invade prédio na antiga Saigon, hoje Cidade Ho Chi Minh
A presença norte-americana no Vietnã durou mais de uma década e não obteve os resultados esperados por Washington. Em 1975 – apesar da morte de Ho Chi Minh seis anos antes, e já sob o comando militar de Giap, e o comando político de Ton Duc Thang –, o Vietnã do Norte tomou o controle do território do Sul e unificou novamente o país, que passou a ser totalmente governado pelo Partido Comunista do Vietnã, que se mantém no poder até hoje.
Se estima que mais de 2,5 milhões de norte-americanos foram enviados ao Vietnã naquele período, dos quais ao menos 58 mil morreram – segundo fontes do governo dos Estados Unidos. Organizações de direitos humanos contestam essas cifras e asseguram que foram mais de 100 mil mortos.
Além das mortes, a Guerra do Vietnã provocou uma profunda ferida social e política no país, que não se resume apenas aos traumas dos milhões de soldados que voltaram do campo de batalha, muitos deles mutilados ou com severas sequelas psicológicas, já que aquela derrota afetou também o orgulho nacional.
Contexto futebolístico
No futebol, e especialmente no futebol feminino, o duelo entre Estados Unidos e Vietnã possui um claro favoritismo norte-americano.
A equipe ainda mantém como base a geração que venceu as Copas de 2015 e 2019, liderada pelas atacantes Alex Morgan e Megan Rapinoe.
Já o Vietnã disputa pela primeira vez uma competição da Federação Internacional de Futebol Associado (Fifa). O país jamais participou da Copa do Mundo masculina, mas conseguiu a classificação para sua primeira edição feminina após superar nas Eliminatórias países como Tailândia e Myanmar.
Os principais destaques do time vietnamita são a meia-atacante Hu Ynh Nhu e a goleira Tran Thị Kim.