Atualizado em 01/07/2016 às 17h59
Ao raiar do dia 2 de julho de 1839, negros africanos a bordo da escuna Amistad, um navio negreiro, rebelam-se contra os seus captores, matando dois membros da tripulação e assumindo o leme do barco, que os estava transportando para uma vida de escravos numa plantação de açúcar em Puerto Principe, Cuba.
Em 1807, o Congresso dos Estados Unidos juntou-se ao parlamento da Grã-Bretanha a fim de abolir o tráfico de escravos africanos, embora o tráfico de escravos dentro dos Estados Unidos não estivesse proibido. A despeito da proibição internacional de importar escravos negros, Cuba continuou a transportar africanos cativos para suas plantações de açúcar até os anos 1860 e o Brasil às suas fazendas de café até os anos 1850.
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Gravura da época representando a rebelião
Em 28 de junho de 1839, 53 escravos recém-capturados na África deixam Havana, Cuba, a bordo da escuna Amistad para ser levados a uma fazenda de açúcar em Puerto Principe, Cuba. Três dias depois, Sengbe Pieh, um africano da tribo Membe, conhecido como Cinque, livra-se das correntes e livra outros escravos, que passam a planejar um motim. No raiar do dia de 2 de julho, em meio a uma tormenta, os africanos levantam-se contra os seus captores e, valendo-se de facões de cortar cana encontrados no almoxarifado, matam o capitão do navio e outro membro da tripulação.
Dois outros tripulantes foram atirados ao mar ou escaparam. José Ruiz e Pedro Montes, os dois cubanos que haviam comprado os escravos foram capturados. Cinque ordenou que levassem o Amistad de volta à África. Durante o dia, Ruiz e Montes acederam, mas quando chegou a noite, fizeram com que a navegação rumasse na direção norte a fim de alcançar as águas dos Estados Unidos. Depois de dois árduos meses no mar, em que mais de uma dezena de escravos morreu, o barco, que viria a ser conhecido como “escuna negreira”, foi finalmente localizado por navios norte-americanos.
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Em 26 de agosto, o navio de dois mastros USS Washington, sitiou o Amistad na costa de Long Island, escoltando-o até Nova London, Connecticut. Ruiz e Montes foram libertados e os escravos africanos permaneceram presos aguardando julgamento pelo “levante do Amistad”. Os dois cubanos reclamaram a devolução de sua propriedade, alegando que eram escravos nascidos já em Cuba, enquanto o governo da Espanha exigiu a extradição dos africanos a sua colônia, Cuba, a fim de serem submetidos à justiça acusados de pirataria e assassinato. Em contrapartida, os abolicionistas norte-americanos advogavam o retorno dos escravos ilegalmente trazidos da África de volta para o continente.
O relato do motim do Amistad atraiu a atenção geral e os abolicionistas norte-americanos foram bem-sucedidos ao ganhar uma ação perante uma corte local. Diante da corte distrital federal em Connecticut, Cinque, que aprendera inglês com seus novos amigos estadunidenses, testemunhou em causa própria. Em 13 de janeiro de 1840, o juiz Andrew Judson sentenciou que os africanos foram ilegalmente escravizados, que não deveriam retornar a Cuba para serem submetidos às acusações de pirataria e assassinato e que deveriam ser concedidas a eles passagens grátis para voltar à África.
As autoridades espanholas e o presidente norte-americano Martin Van Buren apelaram à decisão, porém outra corte distrital federal sustentou o arrazoado do juiz Judson. O presidente Van Buren, contrariando a facção abolicionista do Congresso, recorreu novamente.
Em 22 de fevereiro de 1841, a Suprema Corte dos Estados Unidos começou a ouvir o caso Amistad. O deputado John Quincy Adams de Massachusetts, que havia sido o sexto presidente dos Estados Unidos de 1825 a 1829, juntou-se à equipe de defensores dos africanos. No Congresso, Adams era um eloquente opositor à escravidão e ante a mais alta corte do país apresentou uma argumentação coerente em favor da libertação de Cinque e de outros 34 sobreviventes do Amistad.
Em 9 de março de 1841, a Suprema Corte decidiu, com apenas um voto contrário, que os negros africanos haviam sido ilegalmente escravizados e, por conseguinte, tinham exercido o direito natural de lutar por sua liberdade. Em novembro, com a assistência financeira de seus aliados abolicionistas, os africanos do Amistad partiram dos Estados Unidos a bordo do navio Gentleman de volta à África Ocidental.
Alguns desses africanos ajudaram a estabelecer uma missão cristã em Serra Leoa, mas a maioria, como Cinque, retornou a sua terra natal no interior do continente. Uma das sobreviventes, que era ainda criança quando os africanos foram trazidos como escravos a bordo do Amistad, finalmente retornou aos Estados Unidos. Originalmente chamada de Margru, ela estudou no colégio integrado Oberlin de Ohio no final dos anos 1840 antes de regressar a Serra Leoa como missionária evangélica com o nome de Sara Margru Kinson.
Também nesta data:
1619 – Morre Olivier de Serres, considerado o pai da agronomia
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