Em 7 de fevereiro de 1878, após 32 anos como Sumo Pontífice, morre o papa Pio IX. Nascido Giovanni Ferretti, em 16 de junho de 1846, o religioso teve um dos papados mais longos e tormentosos da história do Vaticano — além de ter sido o primeiro líder da Igreja Católica a ser fotografado. Em setembro de 2000, Pio IX foi beatificado pelo papa João Paulo II.
De início, esperava-se que Pio IX seria um homem de abertura. Os católicos liberais, bem como os republicanos italianos, depositavam nele suas esperanças, talvez exageradas, e ficaram desencantados após o fracasso dos levantes revolucionários de 1848.
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Nascido em 1792 perto de Ancona, Giovanni-Maria Mastai Ferretti tornou-se padre e depois bispo de Imola, após ser impedido de se alistar no Exército devido à epilepsia.
Eleito papa pelo conclave de cardeais, tornou-se além de guia espiritual do mundo católico, soberano temporal dos Estados Pontifícios na Itália Central, em torno de Ravena. A origem desses Estados remonta a uma doação de Pepino, o Breve, ao papa de sua época, mais de mil anos antes. Era destinada a assegurar a autonomia da Santa Sé face às pressões dos soberanos temporais.
O papado de Pio IX é traz a marca da caridade: ele começa a introduzir a democracia no governo de seus Estados; libera militantes da unidade nacional e instaura duas Câmaras para a votação de leis. Além disso, faz ingressar laicos nas comissões governamentais, dá início à construção de uma estrada de ferro, a renovação da iluminação pública, desobriga os judeus de Roma de residir num gueto e manda destruir o muro que cercava esse antigo bairro.
Numerosos italianos viam nele um possível chefe de uma federação italiana. O abade piemontês Vincenzo Gioberti preconizava uma federação em torno do papa. Em setembro de 1847, o agitador republicano Giuseppe Mazzini lança um apelo ao papa para que lidere o movimento italiano de libertação.
As revoluções de 1848 iriam pôr termo a essas veleidades liberais. Milão se subleva contra o absolutismo do imperador da Áustria, que reinava sobre a Lombardia e Veneza após o Congresso de Viena, de 1815.
O rei do Piemonte, Charles-Albert, apela aos príncipes da península para que se juntassem a ele na guerra contra a Áustria, a fim de libertar a Lombardia e Veneza. Pio IX envia tropas pontificiais mas logo recua e renuncia à guerra.
Em meio à confusão, republicanos comandados por Mazzini tomam a Santa Sé e proclamam a república em 9 de fevereiro de 1849. O papa teve de se refugiar na cidadela de Gaete, sul de Roma, de onde aguardou o desenrolar dos acontecimentos.
Os italianos, comandados pelo rei de Piemonte-Sardenha são impiedosamente batidos pelos austríacos em Novara. Pio IX apela à França e à II República e envia o socorro de tropas francesas que entram em Rome em 2 de julho de 1849 após esmagar os voluntários de Giuseppe Garibaldi, vindos para defender a efêmera república romana.
Pio IX impõe aos judeus de Roma uma contribuição especial para financiar seu retorno ao Vaticano. Repudiando o liberalismo e o engajamento político, confere total primazia à questão espiritual. Em 8 de dezembro de 1854, pronuncia o dogma da Imaculada Conceição a propósito da Virgem Maria.
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Em 1858 eclode o Caso Mortara. A polícia pontificial sequestra uma criança, Edgardo Mortara, de uma família judaica de Bolonha, sob pretexto que havia sido batizada por uma serviçal. A criança seria colocada sob a proteção do papa a fim de ser educada para o sacerdócio.
A polêmica em torno do Caso Mortara surge como a primeira manifestação de antissemitismo moderna. O antissemitismo tradicional cede lugar a um antissemitismo ideológico ligado aos judeus cosmopolitas da burguesia, acusados de oprimir os trabalhadores. São acusados também de negar os valores universais da Europa das Luzes. Em resposta a esse antissemitismo nascente, os judeus ocidentais criam a Aliança Israelita Universal.
Em 8 de dezembro de 1864, anexado à encíclica, Pio IX publica um documento catalogando tudo o que ele, enquanto papa, acreditava ser os erros do pensamento moderno. O documento testemunhava sua apreensão ante os Estados cada vez mais presentes que “tendiam a limitar a liberdade dos indivíduos”. Contudo, o tom sarcástico e o excesso de linguagem do texto suscitou a ira dos católicos liberais.
Era a época do ‘ultramontanismo’. Nos grandes países católicos, o clero e os fiéis manifestavam um crescente apoio ao papa ‘de outros montes’.
A ação das tropas do rei de Piemonte-Sardenha e de Garibaldi, que tomaram os Estados Pontifícios, com a única exceção da Cidade Eterna, só fez crescer a simpatia dos católicos ao soberano pontífice.
Em 1989 o papa convoca o Concílio Vaticano I com o fim de consolidar sua autoridade, baseada no dogma da infalibilidade pontifical.
Em 20 de setembro de 1870, as tropas do rei da Itália ocupam Roma. Era o fim dos Estados Pontifícios. Pio IX se considera prisioneiro no Vaticano. Uma situação que perduraria até os Acordos de Latrão, em 1929, com o ‘duce’ Mussolini, e a criação do Estado soberano do Vaticano.
O final do pontificado de Pio IX seria dedicado a combater o crescimento do anticlericalismo e as ideologias laicas na Europa Ocidental. O papa e seus sucessores farim o possível para afirmar a autoridade da Santa Sé sobre os católicos do mundo inteiro, em detrimento das instituições intermediárias: associações culturais, ordens monásticas e ações associativas de laicos.
Também nessa data:
1497 – Savonarola organiza a “fogueira das vaidades” em Florença
1752 – França censura publicação da “Enciclopédia”
1979 – Joseph Mengele, o “Anjo da Morte”, morre no Brasil
1990 – Partido Comunista da URSS abre mão da exclusividade do poder político
1991 – Aristide jura como primeiro presidente do Haiti eleito democraticamente
1992 – Tratado de Maastrich oficializa união monetária na Europa