Atualizado em 15/11/2017 às 10:48
Émile Durkheim, considerado um dos pais da Sociologia e fundador da escola francesa, morre em Paris em 15 de novembro de 1917, aos 59 anos. Combinava a pesquisa empírica com a teoria sociológica. É amplamente reconhecido como um dos melhores teóricos do conceito da coesão social.
Partindo da afirmação de que “os fatos sociais devem ser tratados como coisas”, ofereceu uma definição do normal e do patológico aplicada a cada sociedade, em que o normal seria aquilo que é ao mesmo tempo obrigatório para o indivíduo e superior a ele, o que significa que a sociedade e a consciência coletiva são entidades morais, antes mesmo de terem uma existência tangível. Essa preponderância da sociedade sobre o indivíduo deve permitir a realização deste, desde que consiga integrar-se a essa estrutura.
Para que reine certo consenso nessa sociedade, deve-se favorecer o aparecimento de uma solidariedade entre seus membros. De vez que a solidariedade varia segundo o grau de modernidade da sociedade, a norma moral tende a tornar-se norma jurídica, pois é preciso definir, numa sociedade moderna, regras de cooperação e troca de serviços entre os que participam do trabalho coletivo.
A sociologia fortaleceu-se graças a Durkheim e seus seguidores. Suas principais obras são: “Da divisão do trabalho social” (1893); “Regras do método sociológico” (1895); “O suicídio” (1897); As formas elementares de vida religiosa (1912). Fundou também a revista L'Année Sociologique, que afirmou a preeminência durkheimiana no mundo inteiro.
Durkheim nasceu em Épinal, na Lorena, em 15 de abril de 1858. Descendente de família judaica, iniciou seus estudos filosóficos na Escola Normal Superior de Paris, ao lado de Jean Jaurés e Henri Bergson. Ainda menino decidiu não seguir o caminho dos familiares, optando por uma vida secular. Explicava os fenômenos religiosos a partir de fatores sociais e não divinos. Muitos de seus colaboradores, entre eles seu sobrinho Marcel Mauss, formaram um grupo que ficou conhecido como “escola sociológica francesa”. Durante seus estudos teve contatos com as obras de Auguste Comte e Herbert Spencer que o levaram a buscar o cientifismo no estudo das humanidades.
Durkheim formou-se em Filosofia. No entanto, sua obra é dedicada à Sociologia. O foco era na reflexão e no reconhecimento da existência de uma “consciência coletiva”. Partia do princípio que o homem seria apenas um animal selvagem que só se tornou humano porque passou a ser sociável, ou seja, foi capaz de aprender hábitos e costumes característicos de seu grupo social.
A este processo de aprendizagem, Durkheim chamou de “socialização”. A consciência coletiva seria formada durante a socialização e composta por tudo aquilo que habita nossas mentes. Ela serve para nos orientar como devemos ser, sentir e nos comportar. E esse “tudo” ele chamou de “fatos sociais”, e disse que esses eram os verdadeiros objetos de estudo da Sociologia.
Nem tudo que uma pessoa faz é um fato social. É preciso atender a três características: generalidade, exterioridade e coercitividade. O que as pessoas sentem, pensam ou fazem independe de suas vontades individuais, é um comportamento estabelecido pela sociedade.O mérito de Durkheim aumenta ainda mais quando publica seu livro “As regras do método sociológico”, onde define uma metodologia de estudo que, embora sendo em boa parte extraída das ciências naturais, empresta seriedade à nova ciência.
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Em seus estudos, concluiu que os fatos sociais atingem toda a sociedade, o que só é possível se admitirmos que a sociedade é um todo integrado. Se tudo na sociedade está interligado, qualquer alteração afeta toda a sociedade, o que quer dizer que se algo não vai bem em algum setor da sociedade, toda ela sentirá o efeito. Partindo deste raciocínio ele desenvolve dois dos seus principais conceitos: instituição social e anomia.
A instituição social é um mecanismo de proteção da sociedade, é o conjunto de regras e procedimentos padronizados socialmente, reconhecidos, aceitos e sancionados pela sociedade, cuja importância estratégica é manter a organização do grupo e satisfazer as necessidades dos indivíduos. As instituições são, portanto, essencialmente conservadoras, quer seja família, escola, governo polícia ou outra qualquer, agindo contra as mudanças e pela manutenção da ordem.
Embora com certa reputação de conservador, o que causou antipatia à sua obra, Durkheim não pode ser tachado como tal. O ser humano necessita se sentir seguro, protegido e respaldado. Uma sociedade sem regras claras, “em estado de anomia”, sem valores, sem limites leva o homem ao desespero. Preocupado com o desespero, dedicou-se ao estudo da criminalidade, do suicídio e da religião. Seus estudos foram fundamentais para o desenvolvimento da obra de Sigmund Freud.
Percebia-se, no contexto histórico do século XIX, que as instituições sociais se encontravam enfraquecidas, valores tradicionais eram rompidos e novos surgiam, muita gente vivendo em condições miseráveis, desempregados e marginalizados. Ao conjunto dos problemas que observou, classificou como patologia social e chamou aquela sociedade doentia de “anômana”. A anomia era algo a ser vencido e a sociologia era o meio para isso.
Na tentativa de “curar” a sociedade da anomia, Durkheim escreve “Da divisão do trabalho social”, onde discorre sobre a necessidade de se estabelecer uma solidariedade orgânica. A solução estaria em seguir o exemplo de um organismo biológico, no qual cada órgão tem uma função e depende dos outros para sobreviver. Se cada membro exercer uma função específica na divisão do trabalho da sociedade, estará a ela vinculado por meio de um sistema de direitos e deveres, sentindo a necessidade de se manter coeso e solidário.
O importante para Durkheim era que o indivíduo se sentisse parte de um todo, que precisasse da sociedade de forma orgânica, interiorizada e não simplesmente mecânica.