Atualizada em 26/04/2018 às 11:40
Em 1º de maio de 1960, um avião-espião norte-americano U-2 é abatido pelos soviéticos quando sobrevoava os Montes Urais a 19.000 metros de altitude.
O piloto, Francis Gary Powers, 30 anos, teve tempo de se ejetar, mas foi capturado pelos agentes da KGB, a polícia política da URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), designação da Rússia e repúblicas associadas.
O secretário-geral do Partido Comunista, Nikita Kruchev, foi informado do incidente enquanto assistia ao tradicional desfile de Primeiro de Maio na Praça Vermelha em Moscou. Guardou segredo durante cinco dias e revelou a destruição do avião no curso de uma alocução diante do Soviet Supremo.
Os norte-americanos, segundo informações preliminares de seus serviços secretos, acreditavam que o piloto estava morto. Alegaram que se tratava de um voo de rotina. Pouco depois, em 7 de maio, abrem o jogo e tornam pública a situação de seu prisioneiro e suas confissões. Gary Powers seria condenado a dez anos de prisão. Mais tarde, em 1962, seria trocado por um agente soviético do serviço de espionagem.
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Morto em um acidente de helicóptero em 1977, Gary Powers receberia as honras militares a título póstumo somente em 1º de maio de 2000.
O governo de Washington foi ridicularizado pelo incidente e o presidente Dwight D. Eisenhower se viu constrangido a renunciar a um reencontro numa reunião de cúpula em Paris com o primeiro-ministro Kruchev, o presidente francês De Gaulle e o primeiro-ministro britânico MacMillan, que deveria preparar um tratado de limitação dos ensaios nucleares. Foi um freio brutal ao processo de ‘detente’ que havia sido iniciado por Nikita Kruchev pessoalmente com vistas a pôr fim à Guerra Fria.
Como efeito de um bumerangue, o chefe do Kremlin viu de repente sua situação fragilizada à frente da União Soviética. A linha dura, que insistia em reprová-lo pela denúncia que se tornou pública dos crimes de Stalin, pela ruptura com os chineses e a reaproximação com os norte-americanos, começa e levantar a cabeça. Segundo historiadores, o recúo soviético por ocasião da Crise dos Mísseis em Cuba seria o seu golpe de misericórdia.
Kruchev seria demitido de suas funções em 1964 por uma troika encabeçada por Leonid Brejnev e a União Soviética mergulharia, por um bom tempo, num cenário de estagnação.