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Com o presidente da Argentina Juan Domingo Perón em seu leito de morte, sua mulher e vice-presidente, María Estela Martínez de Perón, Isabelita, presta juramento em 29 de junho de 1974 e assume a Presidência na Casa Rosada. Ex-dançarina e terceira esposa de Perón, foi a primeira mulher no Hemisfério Ocidental a chefiar um governo. Dois dias mais tarde, Juan Perón morre de colapso cardíaco deixando Isabelita sozinha como líder de uma nação que passava por sérios conflitos políticos e econômicos.
Hector Cámpora, candidato pela Frejuli (Frente Justicialista de Libertação) havia triunfado na eleição presidencial de 1973. No entanto, acordara-se que quem tinha o poder real era Perón.
Essa situação ocorreu no seguinte contexto: em 20 de junho de 1973, Perón regressava definitivamente à Argentina, quando se produz o Massacre de Ezeiza, um enfrentamento violento entre alas da Frente, partidários da esquerda e da direita que disputavam o poder no seio do peronismo.
Pouco depois, Cámpora e o vice-presidente, Solano Lima, renunciavam a pedido de Perón a fim de para permitir novas eleições. Convocado o pleito para 23 de setembro de 1973, vence a chapa encabeçada por Perón tendo sua esposa como vice-presidente, mulher de pouquíssima experiência política, mas escolhida exatamente para evitar uma escalada da confrontação esquerda-direita.
A Presidência de Isabelita transcorreu nos marcos da crise internacional do petróleo e de uma extrema violência política interna.
Evitando acerca-se da oposição, a presidente apoiou-se principalmente em seu ministro do Bem-Estar Social, José López Rega, conhecido como “O Bruxo”. López Rega exerceu importante influência sobre Isabelita, fortalecendo e concedendo hegemonía aos setores da direita. Organizou a partir do governo uma força parapolicial conhecida como Aliança Anticomunista Argentina ou ‘Triple A’ que empreendeu ações de violência contra destacadas figuras da esquerda e que culminaram com sequestros, torturas e assassinatos. Estendeu o controle político sobre governadores das províncias, universidades, sindicatos, canais privados de televisão, reforçando a censura de livros, jornais e revistas. E, em meio a tudo isto, uma marcante inoperância administrativa.
A economia sofreu graves danos, com uma inflação galopante, paralização dos investimentos, suspensão das exportações de carne para a Europa e crescimento incontrolável da dívida externa.
Em junho de 1975, o ministro da Economia, Celestino Rodrigo, levou a cabo uma violenta desvalorização da moeda acompanhada de aumento das tarifas, o chamado ‘rodrigazo’. O pacote provocou a primeira greve geral contra um governo peronista.
Em julho de 1975, diante da greve e da pressão de rua da CGT (Confederação Geral dos Trabalhadores), López Rega se viu obrigado a renunciar e abandonar o país.
Ante a crescente atividade dos grupos armados de esquerda – os Montoneros e o Exército Revolucionário do Povo – e os de extrema-direita, Isabelita decidiu fortalecer os militares, designando Jorge Videla como Chefe do Exército que, em seguida, endureceu os controles sobre a sociedade.
Como as ações dos Montoneros e do ERP iam num crescendo, a presidente aprovou a “Operação Independência’, obrigando as Forças Armadas a intervir e “aniquilar as ações dos elementos subversivos que atuavam na Província de Tucumán”. Assim, Exército e Aeronáutica se juntaram para aniquilar a “Companhia Ramón Rosa” do ERP e os Montoneros que tentavam estabelecer um “foco revolucionario”. Este decreto de aniquilamento dos guerrilheiros deu início ao período chamado de “Terrorismo de Estado”.
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Ao agravar-se a crise política e econômica, Isabelita pediu em setembro de 1975 licença do cargo por razões de saúde. Assume interinamente o presidente do Senado, Ítalo Luder, quem exerce a Presidência durante 33 dias.
A constante pressão militar, se manifestou num levante encabeçado pelo brigadeiro Orlando Capellini em 18 de dezembro de 1975. Um novo chefe da Força Aérea, brigadeiro Orlando Agosti, veio também a se sublevar, pressionando a presidenta a renunciar. Martínez de Perón se negou reiteradamente a tanto, mas que anunciou a antecipação das eleições presidenciais para final de 1976.
O clima político não melhorou com a saída de López Rega nem com a antecipação das eleições. Em março de 1976, o governo solicitou a dois dirigentes opositores, Ricardo Balbín e Oscar Alende, que se dirigissem ao eleitorado pedindo respeito aos prazos institucionais, já que um golpe militar era percebido como inevitável.
Em 24 de março de 1976 um golpe de Estado encabeçado pelos comandantes do exército, marinha e aeronáutica destituiu o governo constitucional e o substituiu por uma junta militar ao mesmo tempo em que dissolvia o Congresso.
A expresidenta foi processada por malversação de fundos públicos por ter utilizado recursos pertencentes a uma fundação para pagar uma dívida pessoal, que em seguida foram devolvidos.
A ditadura manteve presa Isabelita por mais de cinco anos, primeiro na residência oficial de El Messidor, Neuquén, e depois numa quinta na localidade de San Vicente, situada na Grande Buenos Aires.
Libertada em julho de 1981, fixou residencia em Madri, abandonando quase completamente a atividade política e regressado ocasionalmente à Argentina. Sua prisão foi decretada em 2012 em razão dos assassiantos, torturas, sequestros e desaparecimentos da Operação Independência.
Também nesta data:
1943 – Roosevelt pede a Oppenheimer que acelere a construção da bomba atômica
1995 – Shopping desaba em Seul e deixa 500 mortos
2003 – Morre a atriz norte-americana Katharine Hepburn