Atualizado em 24/07/2017 às 11:40
Sviatoslav Teofilovich Richter, consagrado pianista soviético, morre em sua casa nas aforas de Moscou no primeiro dia de agosto de 1997, aos 82 anos. Havia atravessado um longo período de depressão devido a sua incapacidade de atuar em público. No momento de sua morte, estava aprendendo os Fünf Klavierstucke de Franz Schubert.
Considerado um virtuoso, Richter tinha um repertório muito amplo, variando de Bach e Haydn a Debussy e Shostakovich. É também tido como um dos mais importantes pianistas do século XX.
Richter tinha um espírito independente, preferia seguir os seus instintos a aprender com outros pianistas e, por isso, as suas interpretações são únicas. No entanto, podia interpretar uma obra magnificamente bem ou, segundo ele mesmo admitia, como “um aluno medíocre”.
A sua obsessão pela qualidade e perfeccionismo tornou-o um crítico feroz, sobretudo dele mesmo.
Filho de pai alemão e mãe russa, Richter nasceu em Zhitomir, Ucrânia. Cresceu em Odessa. Foi autodidata, algo pouco habitual. Porém, seu pai lhe deu uma educação musical básica. Richter era um excelente leitor a primeira vista e ensaiava regularmente com as companhias locais de ópera e balé.
Em10 de março de 1934, deu seu primeiro recital no clube de engenharia de Odessa. Durante a audição, Heinrich Neuhaus, famoso profesor do Conservatório de Moscou sussurrou a outro estudante: “Este homem é um gênio”. Se bem que Neuhaus tenha dado aulas a grandes pianistas, entre eles Emil Gilels, Radu Lupu e Jean-Marc Savelli, considerava Richter seu “aluno genial, o que tinha estado esperando por toda a vida”.
Wikicommons
Richter foi um dos maiores pianistas da modernidade
NULL
NULL
Em 1940, ainda estudante, estreou a Sonata para piano no. 6 de Serguei Prokofiev, compositor a quem se ligou. Fez-se destacar também por ausentar-se das aulas obrigatórias de doutrina política. Manteve-se sempre afastado da política da União Soviética e nunca se filiou ao Partido Comunista.
Richter era assumidamente gay. Sua homossexualidade contribuiu para que fosse reservado e retraído.
Richter conheceu o soprano Nina Dorliak em 1945 e a acompanhou num programa que incluia canções de Nikolai Rimsky-Korsakov e Prokofiev e depois pelo resto da vida. Nunca se casaram, no entanto eram companheiros inseparáveis. Ela dava corda em seu relógio, lembrava dos encontros e organizava os compromisos profissionais.
Em 1949 ganhou o Prêmio Stalin, o que o levou a turnês na União Soviética, Europa Oriental e China. Deu os primeiros concertos fora da União Soviética na Tchecoslováquia em 1959. Em 1952, foi convidado a interpretar o papel de Franz Liszt na versão russa do filme Glinka de 1946 sobre a vida do compositor Michail Glinka.
Em 1960 desafiou as autoridades ao tocar na cerimônia fúnebre de Boris Pasternak, autor de O Doutor Jivago.
Richter se tornou conhecido no Ocidente graças a gravações dos anos 1950. Um de seus admiradores foi o célebre pianista Emil Gilels, quem durante sua primeira turnê pelos Estados Unidos, ao receber magníficas críticas, declarou: “Esperem e ouçam Richter”.
Richter deu seus primeiros concertos na Europa Ocidental em maio de 1960 na Finlândia. Sua estreia nos Estados Unidos se deu em Chicago em 15 de outubro de 1960, quando tocou o Concerto para piano nº 2 de Johannes Brahms acompanhado pela Orquestra Sinfônica de Chicago e recebeu expressivos elogios da crítica. A turnê concluiu com uma série de concertos no Carnegie Hall.
Entretanto, Richter chegaria a afirmar que não gostava de tocar nos Estados Unidos, deido a um incidente em 1970 no Alice Tully Hall de Nova York, quando um grupo de manifestantes anticomunistas irrompeu em um concertó com Richter e o violinista David Oistrach.
Em 1961, tocou pela primeira vez em Londres. Seu recital, com obras de Haydn e Prokofiev foi recebido com hostilidade pelos críticos, dizendo que seu estilo era “provinciano”, e se perguntava por quê havia sido convidado se havia na cidade uns tantos pianistas de ‘segunda classe’. Após o concertó de 18 de julho de 1961, quando interpretou os dois concertos para piano de Franz Liszt, os críticos se viram obrigados a um giro de 180 graus.
Ainda que gostasse de dar concertos em público, odiava planejar as temporadas e em seus últimos anos costumava tocar em recitáis anunciaod scom pouca antecedencia, em slas pequeñas e escuras, só com uma lâmpada para iluminar a partitura. Afirmava que desta maneira o público poderia concentrar-se na música, em vez de algo irrelevante como os gestos e caras do intérprete.
Em 1986, Richter embarcou para uma turnê de seis meses pela Sibéria dando uns 150 recitais. Às vezes tocava em pequenos povoados onde nem sequer havia uma sala de concertos. Conta-se que em seus últimos anos, contemplou a possibilidade de dar concertos gratis.
No final dos anos 1980, a técnica de Richter decaiu devido à idade e a problemas de coração. Este proceso continuou na década de 1990 e lhe causou enorme frustração. Ainda assim, em 1995 continuava tocando as peças mais difíceis do repertorio pianístico, incluindo o ciclo Miroirs de Maurice Ravel, a Sonata para piano no. 2 de Prokofiev e os estudos e balada nº 4 de Frederic Chopin.