Em 29 de abril de 1989, 14 torcedores do clube de futebol inglês Liverpool foram condenados pela justiça belga a três anos de prisão, pela participação na Tragédia de Heysel. Um recurso posterior da defesa interrompeu o cumprimento da pena na metade, por entender que as mortes ocorridas em 29 de maio de 1985, no estádio Heysel, em Bruxelas, foram involuntárias. Morreram 39 torcedores à época e 600 pessoas ficaram feridas.
Além dos torcedores, a UEFA (Union of European Footbal Associations), o Liverpool e os clubes ingleses em geral também foram sancionados.
Apesar disso, nem a UEFA, organizadora do evento, nem os proprietários do estágio e as autoridades belgas, responsáveis pela segurança, foram culpados pelo ocorrido.
Depois da tragédia, o Estádio de Heysel nunca mais acolheu uma partida de futebol e a Bélgica não tornou a receber nenhum grande evento esportivo nos subsequentes dez anos.
Mortes
No dia 29 de maio de 1985, uma avalanche de torcedores nos momentos que antecediam a final da Copa Europa, entre o Liverpool e a Juventus de Turim, deixou 39 mortos (32 italianos, quatro belgas, dois franceses e um britânico) e 600 feridos, em um acontecimento que viria a ser conhecido como “Tragédia de Heysel”.
Uma série de elementos contextualizava a partida e alimentava a tensão: o Liverpool e a Juventus eram considerados os melhores clubes da Europa. O Liverpool chegava à final como o último campeão da Copa e a Juve como campeã da Recopa da Europa, com uma equipe cheia de jogadores titulares da seleção italiana campeã do mundo em 1982 e com o então melhor jogador da Europa, o francês Michel Platini, que levara a seleção francesa a proclamar-se campeã da Eurocopa de 1984.
Reprodução
Torcedores do Liverpool no dia da tragédia de Heysel: 39 pessoas foram mortas e 600 ficaram feridas
A final de Heysel foi interpretada como um duelo entre o futebol inglês e o italiano. O inglês havia dominado o futebol europeu dos últimos anos: os clubes ingleses haviam ganhado sete das últimas oito Copas da Europa. O italiano, após o triunfo na Copa do Mundo da Espanha em 1982, estava em alta e aspirava a tornar-se o novo senhor do futebol europeu.
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Em 1985 estava em pleno apogeu o fenômeno do “hooliganismo” (vandalismo) surgido na Inglaterra. Na maioria das torcidas surgiram grupos de “hooligans”, que, amparados no anonimato em meio às massas de aficionados, consumiam grandes quantidades de álcool, promoviam violências, exibiam símbolos neonazistas ou de partidos de extrema-direita e realizavam atos de vandalismo no interior dos estádios e nas redondezas.
Em poucos anos, o fenômeno “hooligan” se estendeu por toda a Europa e América do Sul e a Itália foi um dos países em que mais se arraigou, com o nome de “ultras”. Desse modo, a final de Heysel foi entendida não só como um enfrentamento entre duas equipes de futebol como também um confronto entre “hooligans” e “ultras”.
O estádio estava abarrotado com 60 mil espectadores. A UEFA separou os torcedores de cada clube em diferentes zonas, reservando uma para os assistentes belgas. Os acontecimentos se desencadearam por volta das 19h00, uma hora antes do início da partida, na zona Z, majoritariamente ocupada por torcedores da Juventus, porém anexa à zona X, onde havia muitos torcedores do Liverpool.
Os torcedores mais radicais do time inglês, a maioria embriagada, passaram a atirar objetos e investiram contra os aficionados da Juventus. Produziu-se uma avalanche e os espectadores, buscando fugir dos “hooligans”, se aglomeraram no fundo da zona, aprisionados entre o muro do estádio e as cercas “protetoras” que separavam o alambrado do campo de jogo. Centenas de torcedores foram pressionados por outros milhares contra as cercas, que eram fixas e não tinham saídas de emergência. Torcedores de ambas as equipes, situados em outras localidades do estádio, saltaram para o campo armados de paus com a intenção de agredir os contrários.
As forças de segurança tentaram impedir mais invasões, mas não conseguiram restabelecer a ordem. Além do mais, ao fechar os acessos à zona Z, impediram os que lá se encontravam de sair, convertendo a zona numa jaula onde centenas de pessoas eram amassadas e esmagadas por pressão da multidão.
A situação se prolongou por muitos minutos e se produziram centenas de casos de asfixia, esmagamento e crise de ansiedade. Finalmente chegaram as ambulâncias, que começaram a evacuar centenas de feridos. Isso, entretanto, não foi o bastante para evitar a morte de 39 torcedores. Muitos cadáveres foram depositados num espaço dentro do gramado à vista de todo o estádio.
Wikicommons
Divisões do Estádio de Heysel, na Bélgica, à época da tragédia
Ante a caótica situação, a UEFA e as autoridades belgas consideraram a suspensão da partida, mas foi decidido que seria realizada, diante do risco que a suspensão pudesse causar piores consequências. Esta decisão foi duramente criticada pela imprensa.
O jogo foi disputado com uma hora e meia de atraso “para evitar uma guerra”, apesar da negativa de todos os jogadores e do corpo técnico da Juventus.
A partida foi disputada em clima extraordinariamente tenso e com alguns cadáveres ainda visíveis. O gramado foi cercado por um grande contingente de policiais. Aos 12 minutos do segundo tempo, Platini, da Juventus, fez um lançamento de 50 metros para seu companheiro Boniek, que foi derrubado pelo último defensor do Liverpool, Gillespie, a menos de um metro da grande área. O árbitro, porém, marcou pênalti, que foi convertido por Platini no único gol do encontro.
Punições
A UEFA sancionou os clubes ingleses, proibindo-os de disputar competições europeias durante cinco anos, e os instou a tomar severas medidas contra os “hooligans”, levando em conta que a tragédia de Heysel não havia sido um caso isolado e sim o ponto culminante de vários anos de ações vandálicas desses torcedores radicais.
O Liverpool foi sancionado com 10 anos sem poder participar de competições europeias, pena mais tarde reduzida a seis anos.
A proibição de participar de competições internacionais resultou em enorme prejuízo econômico para os clubes. Quatro anos mais tarde, o governo de Margaret Thatcher decidiu atuar com contundência, fazendo aprovar a “Football Spectators Act” e o “Informe Taylor” a fim de erradicar o “hooliganismo” e melhorar a segurança nos estádios.
Os acontecimentos de Heysel tiveram uma influência negativa sobre o futebol em geral, generalizando a imagem do esporte violento e perigoso. Registrou-se um descenso no número de espectadores na maioria dos estádios europeus. A FIFA, em decorrência, pôs em marcha uma campanha mundial denominada “Fair Play”, em favor do jogo limpo.
Ademais, a FIFA tomou medidas para melhorar a segurança nos estádios: foram eliminados de todos os estádios arquibancadas sem assentos individuais, assim como os alambrados (em algum caso, foram substituídos por alambrados rebatíveis); decidiu-se que as grandes finais europeias seriam jogadas somente em estádios “Categoria 4”; foram tomadas medidas para que os torcedores rivais fossem separadas por cordões de segurança dentro e fora dos estádios; foi proibida a entrada de bandeiras com mastros e de todo tipo de elementos rígidos que pudessem ser utilizados como armas de arremesso; foi proibida a venda de bebidas alcoólicas dentro dos estádios; proibida a entrada de garrafas de vidro no interior dos estádios; proibiu-se a exibição de bandeiras e símbolos nazistas, bem como de cartazes que pudessem incitar à violência; estabeleceu-se punição aos clubes que financiassem ou colaborassem com torcidas violentas.
Também nesta data:
1864 – É aberto o primeiro colégio afro-americano dos EUA, na Pensilvânia
1968 – Musical Hair estreia na Broadway
1429 – Joana d'Arc liberta a cidade de Orleãs
1848 – Rei Luis XIII se alia ao duque de Richelieu e transforma a França