Uma poderosa frota inglesa ocupa a ilha de Hong Kong em 29 de janeiro de 1841. O objetivo era o de impor à China a importação do ópio proveniente da Índia, lucrativo comércio nas mãos da Companhia das Índias Orientais inglesa.
Uma verdadeira guerra do ópio era travada entre os dois países desde 1839, ocasião em que o governo chinês decidiu erradicar o flagelo. O governo da Inglaterra resolveu então dispor de suas forças armadas para sustentar interesses privados no comércio da droga.
Nem bem completara o segundo ano do seu reinado, a rainha Vitória, em 1839, recebeu uma extraordinária carta vinda da China. A missiva tinha como remetente Lin Zexu, o comissário imperial de Cantão, encarregado de combater o contrabando do ópio nas costas chinesas. Lin apelou para que o trono britânico interviesse junto aos seus súditos que comerciavam com o oriente no sentido de coibir o tráfico que intensificava o vício entre os súditos do imperador.
Zexu queria evitar que a China fosse tomada pela “fumaça bárbara”, efeito do ópio que os ingleses traziam em seus barcos das suas plantações na Índia para vender nos portos do Império Celestial. Em resposta, a rainha Vitória argumentou que pouco poderia fazer, pois seu reino defendia o livre-comércio. Além disso, afirmou que o ópio era consumido pelos ingleses como láudano e que seus efeitos não eram tão devastadores.
O Império Britânico, já no século 18, estendia sua presença nos quatro cantos do planeta. A Companhia das Índias Orientais recebeu do governo inglês em 1773 a exclusividade na venda de ópio e, em 1793, a de fabricação. A comercialização desse produto no interior da Inglaterra era proibida, e os infratores, punidos severamente. Contudo, no exterior a venda estava liberada
Eram evidentes os prejuízos econômicos e morais do consumo de ópio pelos chineses. Um dito popular à época advertia que “a continuar o ópio, chegará o tempo em que na China não haverá um soldado capaz de enfrentar um inimigo. Nem dinheiro para manter um exército”.
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Guerra do Ópio constituiu-se numa das mais infames guerras da história moderna
Estopim da guerra
O crescimento do uso da droga levou governo imperial chinês a proibir o narcotráfico. Os ingleses não respeitaram a proibição. No início do século 19 os narcotraficantes ingleses já contrabandeavam para a China cerca de quatro mil caixas de ópio por ano, número que subiu para mais de 40 mil entre os anos de 1821 e 1851. A partir de 1820, passaram a usar como porto seguro de seus desembarques as condições naturais excepcionais da baía de Hong Kong.
Em 1839. a Dinastia Qing ordenou a queima do ópio encontrado em Guangzhou, onde se situa Hong Kong. O ópio queimado publicamente na praia de Humen consumiu 20 mil caixas. A represália inglesa não demorou. Começava a Primeira Guerra do Ópio contra a China.
A superioridade bélica permitiu que tropas britânicas ocupassem em 1841 parte da ilha de Hong Kong, de onde se expandiram, ameaçando inclusive Nanquim. Em 24 de agosto de 1842, a dinastia Qing foi obrigada a assinar o Tratado de Nanquim, concedendo à Inglaterra o domínio da ilha de Hong Kong.
Na história chinesa esse é considerado o “primeiro tratado desigual” que o país teve de assinar com a Inglaterra. O sentimento nacional foi ferido, e o episódio, jamais esquecido. Os livros chineses tratam a guerra como “uma ferida no coração do povo chinês”.
A Guerra do Ópio constituiu-se numa das mais infames guerras da história moderna. Os chineses não somente foram obrigados a aceitar a importação do ópio como também a suspender a legislação que restringia o consumo. Durante quase um século, inalar o “veneno infiltrado”, como disse Lin Zexu, prejudicou a saúde dos chineses e tornou-se uma marca do colonialismo britânico.
Nada disso, porém, maculou a imagem da rainha Vitória, admirada pelo alto padrão moral que exigia da corte, a ponto de vitorianismo confundir-se, ao longo do século 19, com o moralismo e o puritanismo.