Em 23 de dezembro de 1865, França, Itália, Bélgica e Suíça assinam uma convenção monetária por iniciativa do imperador dos franceses, Napoleão III. Era o nascimento da União Latina.
O princípio era bem simples: as moedas de referência de cada país da União teriam o mesmo peso relativamente ao outro, porém mantendo seu nome original – franco francês, lira, franco belga e franco suíço – e os respectivos símbolos nacionais. Essas moedas e suas principais subdivisões poderiam desse modo circular indiferentemente entre todos os países da convenção. Tornava-se possível pagar as compras em Bruxelas ou Paris com liras ou francos suíços.
A convenção excluiu de seu alcance as moedas metálicas conhecidas como tostões, cujo valor de face fosse inferior a 20 centavos, bem como o papel-moeda cuja circulação fosse ainda confidencial.
O precursor da União Latina foi Napoleão Bonaparte que impôs aos países submetidos à França uma referência monetária comum, o Napoleão, uma peça de 5,801 gramas de ouro fino correspondente ao valor de 20 francos.
Numa carta a seu irmão Luis, rei da Holanda e pai do futuro Napoleão III, em 1806, Napoleão Bonaparte escreveu: “Meu irmão, quando for mandar cunhar moedas desejo que adote as mesmas divisões de valor que a moeda da França e que as peças metálicas contenham numa face sua efígie e na outra, as armas de seu reino. Desta maneira, haverá uniformidade monetária em toda a Europa, o que será de grande vantagem para o comércio”.
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Exemplo do Franco francês à época da união, com o busto de Napoleão
Depois de Waterloo e do colapso do império napoleônico, a referência ao Napoleão foi provisoriamente abandonada. Entretanto, na Bélgica, ao conquistar sua independência em 1830, surgiu a preocupação de conferir à moeda do país bases sólidas. A Itália fez o mesmo durante sua unificação. Por fim, a Suíça, em 1851, introduz uma moeda metálica de 20 francos suíços tendo as mesmas características de sua contraparte francesa – 5,801 gramas de ouro fino.
A convenção de 1865 acaba ratificando essas evoluções. Deixa aos signatários o direito de se retirar da União por vontade própria. Na verdade, outros países acabariam se associando à convenção, a começar pela Grécia em 8 de outubro de 1868.
No total, 26 países adeririam à União Latina, da Argentina à Finlândia, com a notável e previsível exceção da Inglaterra e Alemanha. Os próprios Estados Unidos cogitaram a possibilidade.
A convenção admitia, ao lado de moedas em ouro, peças divisionárias em prata. Contudo, esse bimetalismo iria enfrentar uma rude prova com o encarecimento da prata em relação ao ouro. Este fato foi consequência da chegada à Europa de grandes quantidades de ouro decorrente da descoberta de importantes jazidas auríferas na Califórnia, Sibéria, Austrália e África do Sul.
A União Latina, não obstante, iria funcionar de maneira bastante satisfatória durante várias décadas, ilustrando o alto nível de integração atingido pela Europa no final do século XIX.
Foi um dos períodos em que os europeus tinham no mais alto patamar o sentimento de pertencer a uma comunidade de civilização, unida por idênticos valores e crenças. Esse sentimento pôde historicamente ser sentido no século XIII, tempo das catedrais, ou no começo da Renascença. A Grande Guera, mais conhecida como I Guerra Mundial (1914-1918) iria destruir essa solidariedade. A União Latina se estenderia formalmente até 1º de janeiro de 1927.
(*) Publicado originalmente em 23 de dezembro de 2012.