Atualizada em 08/12/2017 às 14:00
Em 9 de dezembro de 1868, o chefe do Partido Liberal, William Gladstone, torna-se pela primeira vez, aos 59 anos, primeiro-ministro do Reino Unido. Nos 30 anos seguintes que ainda viveria, viria a formar, no total, quatro governos.
Suas fortes convicções liberais o levaram a emancipar os católicos e os israelitas, pacificar a Irlanda, desenvolver a educação e modernizar as regras democráticas.
William Ewart Gladstone vangloriava-se de “não ter uma gota de sangue inglês”. Nasceu em Liverpool em 1809, na família de um rico mercador escocês, proprietário de fazendas de açúcar no Caribe. Após estudos em Eton e Oxford, foi eleito deputado conservador – tory – à Câmara dos Comuns, aos 23 anos apenas.
Estava-se então em pleno debate em torno da escravidão e o jovem parlamentar, por fidelidade familiar, pronuncia uma ardorosa defesa em favor da odiosa instituição no primeiro discurso de sua carreira parlamentar.
Gladstone torna-se em 1835 Secretário de Estado da Guerra e das Colônias.
Ministro do Comércio no governo de Robert Peel, em 1841-1842, manifesta-se a favor do livre-comércio e pela revogação das corn laws. Esta questão, porém, dividia o partido conservador e levou à queda do governo em 1846.
Nessa ocasião vem à tona a indestrutível rivalidade entre Gladstone e Benjamin Disraeli, chefe dos opositores conservadores ao livre-comércio. Dois homens que em tudo estavam separados a não ser pelo desejo de servir à coroa.
Dotado de grande curiosidade intelectual, Gladstone se apaixona por Santo Agostinho, Dante e mesmo Homero, ao qual dedica cinco livros.
Animado por convicções religiosas bastante rígidas, chegou inclusive a reunir as prostitutas do ‘bas-fond’ de Londres para ler a elas fragmentos da Bíblia, o que não deixou de suscitar sarcasmos junto a seus adversários. Mais seriamente, suas convicções religiosas e suas opções liberais em matéria de economia o levaram a migrar do campo conservador às hostes liberais (whig).
Gladstone participou ainda de outros governos tories antes de se aproximar em 1859 dos whigs, outro grande partido inglês. Forma com eles o Partido Liberal.
Ministro da Economia no último governo de lorde Palmerston (1858-1866), conclui o tratado de livre-comércio com a França.
É na qualidade de chefe do Partido Liberal que assume pela primeira vez o posto de primeiro-ministro em 1868. A questão da outorga do Home Rule (autonomia) à Irlanda provoca um racha no partido e Gladstone torna-se chefe de sua ala mais radical.
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William Gladstone, torna-se pela primeira vez, aos 59 anos, primeiro-ministro do Reino Unido
Por ocasião de uma campanha eleitoral marcante, em Midlothian, perto de Edimburgo, em 1879-1880, opõe-se às ambições imperialistas e coloniais de seu rival de sempre, Disraeli, e debocha do título de ‘Imperatriz das Índias’ que Disraeli ofereceu à rainha Victoria.
Segundo governo
Vencedor das eleições, forma pela segunda vez o governo em 23 de abril de 1880. Nesta oportunidade, aperfeiçoa a democracia, introduzindo o voto secreto e também, em 1884, completando as reformas de Disraeli, fazendo aprovar uma terceira lei eleitoral que dava aos cidadãos rurais os mesmos direitos dos cidadãos urbanos.
Desmobiliza as tropas britânicas do Afeganistão e do Transvaal, dois países onde elas se encontravam em dificuldade. Por outro lado, a contragosto e rompendo com suas convicções, mas submetendo-se aos interesses empresariais, instaura o protetorado britânico sobre o Egito.
Seria derrubado em 9 de junho de 1885 por não ter socorrido a tempo o general Gordon, cercado em Cartum, Sudão Anglo-Egípcio, pelos rebeldes locais.
Passadas as turbulências políticas, retoma a sua cadeira de primeiro ministro durante alguns meses, de 1º de fevereiro a 28 de julho de 1886 e uma terceira vez em 15 de agosto de 1892. Aposenta-se da política finalmente em 2 de março de 1894, aos 84 anos.
A rainha, é de se destacar, detestava Gladstone, “um velho homem selvagem e incompreensível” enquanto apreciava Disraeli. A soberana chegou ao ponto de, contra a tradição, recusar a Gladstone um assento quando de suas visitas protocolares na qualidade de primeiro ministro. Abriu uma exceção à derradeira visita, por piedade a um ancião.