O presidente da União Soviética (URSS) e secretário geral do Partido Comunista, Mikhail Gorbachev, pediu demissão no começo da noite de 25 de dezembro de 1991. Soldados içaram a bandeira tricolor russa – azul, branco e vermelho –, anterior a da revolução bolchevique de 1917, vermelha, com a foice e o martelo.
Na verdade, já não restava muito da União Soviética. Apenas quatro dias antes, onze das repúblicas soviéticas haviam formado a CEI (Comunidade dos Estados Independentes), desmembrando efetivamente a união. Ela, para todos os efeitos e propósitos, não existia mais.
Boris Ieltsin, eleito presidente da Federação Russa no mês de junho, praticamente assumiu as rédeas do país após a assinatura dos acordos de Alma-Ata e da criação da CEI. Foi sem qualquer embate que o último presidente soviético enviou seu pedido de demissão ao Congresso. O território estaria doravante constituído de 15 estados independentes.
Golpe
Em 19 de agosto de 1991, um dia antes de Gorbachev e um grupo de dirigentes das repúblicas assinarem o novo Tratado da União, um grupo chamado Comitê Estatal para o Estado de Emergência tentou tomar o poder em Moscou. Foi anunciado que Gorbachev estaria doente e havia sido afastado de seu posto como presidente. Gorbachev, em férias na Crimeia, lá permaneceu durante todo o processo. O vice-presidente da União Soviética, Gennady Yanaiev, foi nomeado presidente interino. O comitê de oito membros incluía o chefe da KGB (agência de informação e segurança) Vladimir Kriutchkov, o ministro das Relações Exteriores, Boris Pougo e o ministro da Defesa, Dmitri Yazov, todos eles nomeados por Gorbachev.
Manifestações importantes contra líderes do golpe de Estado ocorreram em Moscou e Leningrado. Divisões políticas no seio dos ministérios da Defesa e Segurança impediam as forças armadas de sair a campo para superar a resistência que o presidente Ieltsin liderava desde a Casa Branca, o parlamento russo.
Durante uma das manifestações, Ieltsin permaneceu de pé em um tanque para condenar a Junta. A imagem foi televisionada e se disseminou pelo mundo, reforçando extraordinariamente a posição de Ieltsin.
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Mikhail Gorbachev pediu demissão na noite de 25 de dezembro de 1991
Confrontos aconteceram nas redondezas e três manifestantes, Vladimir Ousov, Dmitri Komar e Ilia Krichevski, morreram esmagados por um tanque. Em geral, porém, houve poucos casos de violência. A maioria das tropas enviada a Moscou se colocou abertamente do lado dos manifestantes. O golpe falhou e Gorbachev retornou à capital.
Despedida
Após o seu regresso ao poder, Gorbachev prometeu punir os conservadores do Partido Comunista (PCUS). O político se demitiu de suas funções como secretário-geral, mas continuou presidente da União Soviética. O fracasso do golpe de Estado precipitou colapsos em uma série de instituições da união. Ieltsin assumiu o controle da empresa central de televisão e dos ministérios e organismos econômicos.
Em seu discurso de despedida à nação, Gorbachev indicou que a recente formação da CEI era o motivo principal de sua renúncia, declarando que “estava preocupado pelo fato de que o povo deste país tinha deixado de ser a emanação de um grande poder e seria muito difícil para todos lidar com as consequências desta situação”.
Com palavras por vezes arrogantes e outras que demonstravam ressentimento, Gorbachev afirmava que chegara ao limite de suas possibilidades de êxito. Quis fazer o país trilhar o “caminho da democracia”. Suas reformas estavam conduzindo a economia centralizada em direção à economia de mercado. Declarou que o povo russo viveria em um mundo novo em que se poria fim à Guerra Fria e à corrida armamentista. Admitindo que poderia ter cometido erros, Gorbachev reafirmou não ter tido qualquer arrependimento quanto às políticas que havia anunciado e levado adiante.
Na realidade, Gorbachev já havia perdido muito de seu poder e prestígio, mesmo antes do estabelecimento da CEI. A economia estava instável. Ninguém parecia estar contente com Gorbachev: setores exigiam maior liberdade política e outros se opunham a qualquer abertura reformista. Sobreviveu à tentativa de golpe de Estado apenas graças ao respaldo do presidente Ieltsin, que se tornou o porta-voz crítico dos passos lentos na economia e das reformas políticas. A substituição da bandeira vermelha com a foice e o martelo pela tricolor do regime czarista representou o fim do ciclo revolucionário de 74 anos e a derrocada da União Soviética após 70 anos de existência.
(*) Publicado originalmente em 25 de dezembro de 2009.