Em 31 de dezembro de 406, bandos de vândalos, de alanos e suevos cruzam o rio Reno, caminhando sobre o leito congelado, perto de Mogúncia, na atual Renânia-Palatinado (Alemanha). As tribos bárbaras prosseguem na direção sudoeste e assolam a Gália (hoje, França) sem encontrar resistência.
No início do século V, o Império Romano se encontrava em decadência e mostrava-se incapaz de reagir. Em poucos anos, os germânicos ocupam a Espanha e o norte da África. Em sua esteira, outros povos bárbaros invadem o sul da Europa: os visigodos, os ostrogodos e os francos. A Europa se converte em um mosaico de reinos bárbaros.
Os vândalos invadem a região da Mauritânia (hoje, Argélia e Líbia) e ocupam Cartago, a capital romana da África. Muitos anos depois, em 533, os seriam caçados pelo exército bizantino, enviado para reconquistar o continente africano para mãos cristãs.
Os vândalos dividiam-se entre as tribos asdingos e silingos. Os silingos viviam na região conhecida como Grande Germânia, onde hoje é a Silésia (atuais Polônia e República Tcheca). No século II, os asdingos, liderados pelos reis Raus e Rapt, deslocaram-se para o sul, e atacaram os romanos na região do baixo Danúbio. Depois entraram num acordo de paz e estabeleceram-se a oeste, na Dácia (Romênia) e na Panônia (Hungria romana).
Wikimedia Commons
Bárbaros cruzam fronteira do Império Romano
Em 400 ou 401, os vândalos, junto com seus aliados (os alanos sármatas e os suevos germânicos), iniciaram um deslocamento para oeste, sob o comando do rei Godegisílio, possivelmente por causa de ataques dos hunos. Nessa mesma época, os asdingos já haviam sido cristianizados. Muitos, como antes os godos, adotaram o Arianismo, uma crença que estava em oposição à principal corrente do Cristianismo do Império Romano, que depois cresceram como Catolicismo e Ortodoxia Oriental.
Os vândalos viajaram para oeste, margeando o Danúbio sem muita dificuldade, mas quando alcançaram o Reno, encontraram a resistência dos francos, que habitavam e controlavam as possessões romanas, no norte da Gália. Cerca de 20 mil vândalos, inclusive Godegisílio, morreram na batalha. Com a ajuda dos alanos, porém, conseguiram derrotar os francos e, em 31 de dezembro de 406, cruzaram o Reno para invadir a Gália. Sob o comando do filho de Godegisílio, Gunderico, os vândalos pilharam e saquearam no caminho, sempre em direção sudoeste, através da Aquitânia.
Em outubro de 409, os vândalos cruzaram os Pirineus, penetrando a Península Ibérica, onde receberam terras dos romanos. O meio-irmão de Gunderico, Genserico, começou a construir uma esquadra e, em 429, cruzou o estreito de Gibraltar, indo para leste, até Cartago. Genserico transformou o reino dos vândalos e alanos num estado poderoso no Mediterrâneo, conquistando a Sicília, a Sardenha, a Córsega e as Ilhas Baleares. A capital era Saldae, atual Bejaia, no norte da Argélia.
Quando os árabes chegaram para conquistar o Magrebe e a Península Ibérica, mais de dois séculos mais tarde, trataram a região toda como terra dos vândalos, e a batizaram de Al-Ândalus, nome que deu origem à atual Andaluzia.
(*) Publicado originalmente em 31 de dezembro em 2009.