A Copa do Mundo do Catar terá nesta quarta-feira (30/11) mais uma partida com forte condimento político e histórico. Será o confronto entre Tunísia e França, pelo Grupo D da competição, que acontecerá no estádio Education City, em Al Rayyan.
Além da própria disputa esportiva, franceses e tunisianos devem levar ao campo e nas arquibancadas um passado recente marcado por mais de 70 anos de colonização e uma relação pós independência com altos e baixos.
A colonização da Tunísia por parte da França durou sete décadas e meia, entre 1881 e 1956. No entanto, esse domínio do país europeu sobre o território, que até meados do século XIX era do Império Otomano, só foi oficialmente estabelecido em 1884, três anos após o início da colonização.
Foi um dos resultados da Conferência de Berlim, onde se realizou a Partilha da África: sete países europeus (França, Grã-Bretanha, Alemanha, Itália, Espanha, Portugal e Bélgica) dividiram todo o continente africano em territórios a serem colonizador por eles. A Tunísia foi um dos territórios adquiridos por Paris naquele acordo, feito à revelia dos povos da região que foram os que arcaram com as consequências dos tratados.
Contudo, após a Segunda Guerra Mundial e o enfraquecimento das forças militares europeias, se iniciaram os processos independentistas na África, e a Tunísia foi um dos primeiros países a se libertar.
Entre os anos 50 e 80, as relações entre a Tunísia independente com seu antigo colonizador foram hostis. O país foi um dos principais apoiadores dos movimentos independentistas no território vizinho, a Argélia, que só conseguiria a sua libertação em 1962, após anos de sangrento conflito.
La Presse de Tunisie
Bandeiras de Tunísia e França em um varal, em Tunis, capital do país africano
Como represália, Paris cortou uma ajuda financeira anual de 33 milhões de francos, o que gerou diversos problemas econômicos no país africano, e uma onda migratória. A comunidade tunisiana na França, que já era grande desde os tempos da colonização, se tornou ainda maior.
Tal situação se refletirá em campo nesta quarta-feira, já que 10 atletas da seleção da Tunísia são nascidos na França.
Entre eles estão os meias Ellyes Skhiri e Aïssa Laïdouni, o lateral Hannibal Mejbri e o atacante Wahbi Khazri. Todos eles possuem famílias que são parte da discriminada comunidade tunisiana na França e preferiram, como atletas, representar o país dos seus antepassados, e não onde nasceram.
Ainda assim, vale destacar que as relações entre França e Tunísia nem sempre foi marcada por rusgas. A situação se alterou a partir de 1987, após o início da ditadura do general Zine El Abdine Ben Ali no país africano, já que o ditador era aliado de Paris.
Essa aproximação durou pouco mais de 20 anos, até a Revolução Tunisiana, iniciada em dezembro de 2010, e que foi a primeira revolta da chamada Primavera Árabe. Na ocasião, a França – então governada por Nicolás Sarkozy – decidiu não apoiar o movimento social que pedia a queda do seu aliado do poder, o que não evitou que o ditador decidisse renunciar, em 14 de janeiro daquele ano.