O escritor francês Gustave Flaubert concluiu em 19 de setembro de 1851 a obra seminal da literatura universal Madame Bovary, à qual se dedicou durante quatro anos e meio.
Flaubert nasceu em 1821. Sua juventude foi marcada pelo encontro com Madame Schlésinger, de quem faria menção em seu romance Educação sentimental (1869). Após breves estudos em Paris, sofre de uma doença mental que o obriga a permanecer na propriedade da família em Croisset, perto de Rouen. A doença, que o acompanhou até o fim de seus dias, permitiu-lhe se dedicar exclusivamente à literatura.
Valeu-se da circunstância para concluir a primeira versão de Educação Sentimental. A lenda, baseada neste retiro literário, fez de Flaubert uma espécie de beneditino das letras, conhecido pela sua grande cultura e exigências estéticas.
No ponto de inflexão do romantismo ao realismo, publica Salammbô, em 1862, depois Madame Bovary (1857), que lhe vale um processo por “ultraje à moral pública e religiosa e aos bons costumes”. Seguem-se Três contos (1877) e Bouvard e Pécuchet editados postumamente (1881).
O isolamento relativo não o impede de viajar e de ser um amigo fiel. Mantém correspondência volumosa, em especial com Louise Colet, a quem conhece em 1846 e que se torna sua amante até 1854, mas também com George Sand, Théophile Gautier e Guy de Maupassant.
Flaubert é tido como o ícone da escola realista. É certo que, como Balzac, tem por objeto o estudo da realidade social e histórica. Preocupado de “mostrar a natureza tal como ela é”, alimenta sua obra com uma considerável erudição. Consciente da complexidade de sua criação, rejeita o título redutor de líder do realismo.
Os romances de Flaubert se desenrolam de fato segundo duas veias de inspiração antagônicas: uma acossada pela tentação romântica, outra estendida a um esforço em direção ao realismo o mais absoluto.
Flaubert considerava que a tenacidade era indispensável para se entregar ao trabalho longo e difícil de escritor, rompendo, destarte, com a tradição do artista inspirado. O trabalho de elaboração consciente e pensada é percebido pelo leitor atento, a cada frase em que nada é deixado ao acaso. Além do mais, vale-se de uma ironia feroz, tanto a respeito de personagens excessivamente romanescos como Emma Bovary ou Frederic Moreau, quanto aos oportunistas sem escrúpulos como o farmacêutico Homais.
Se a publicação de Madame Bovary em 1857 marcou época na história do romance universal, é porque não obedecia às regras tradicionais da narração. Flaubert refina a técnica de variação de visões, usando esse procedimento para dar uma visão do real não apenas única e organizada e sim múltipla, movente, complexa e subjetiva. É essa técnica que permite ao narrador mostrar com acuidade as ilusões de Emma e de denunciar com ironia mordaz a mediocridade e a autossuficiência dos pequenos burgueses provincianos.
O suicídio de Emma, a desventura de Charles e de seu filho não pareceram uma punição suficiente para os detentores da moral: faltava a sanção da sociedade. Em 29 de janeiro de 1857, em seguida à publicação de Madame Bovary em folhetins na Revista de Paris, Flaubert foi intimado à corte para responder a uma acusação de “irreligião e imoralidade”.
O procurador foi Pinard, o mesmo que pouco antes havia condenado a coletânea Les Fleurs du mal, de Charles Baudelaire. Ele é inocentado.
Outros fatos marcantes:
19/09/1943 – Golpe militar tira Perón da presidência da Argentina
19/09/480 – Derrota heroica de Leônidas na Guerra das Termópilas
19/09/1851 – É publicado o primeiro número do The New York Times
(*) A série Hoje na História foi concebida e escrita pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 2016.