Convidado para um jantar no palácio de Moika, São Petersburgo, pelo príncipe Youssoupov e o sobrinho do czar russo Nicolau II, Grigrori Novykh, conhecido como Rasputin, foi assassinado em 16 de dezembro de 1916.
Sua morte não foi rápida. Num primeiro momento, o cianureto colocado na taça de vinho pelos convivas não provocou qualquer efeito, pois sua úlcera crônica o fez expelir todo o veneno. Em seguida, exaltados, os assassinos o alvejaram com um total de onze tiros de revólver no peito. Tendo sobrevivido, Rasputin foi castrado e, continuando vivo, foi brutalmente agredido. Somente então seu corpo foi atirado nas águas geladas do rio Neva.
A autópsia revelou que Rasputin morreu afogado e de frio e não devido aos projéteis ou aos golpes que lhe foram dados. Os assassinos, jovens nobres russos, queriam pôr fim à influência nefasta do mago sobre a corte e, em particular, sobre a czarina Alexandra. A morte misteriosa contribuiu para fazê-lo surgir como o mais célebre monge curandeiro da corte da Rússia.
Originário dos confins da Sibéria, Rasputin foi um místico errante, talvez um ‘staretz’, título conferido aos laicos ou religiosos, a quem as pessoas recorriam. Entretanto, nenhum texto conhecido confirma ou nega que ele tenha sido realmente um monge, coisa que ele mesmo, em seu tempo, afirmava ser. A hipótese mais aceita é a de que ele foi, acima de tudo, um aventureiro dotado de uma aura bastante peculiar.
Rasputin tinha estatura média, porém, ombros impressionantemente largos. A fisionomia era grosseira e o aspecto, sujo, contudo, emanava um magnetismo enfeitiçante e estranho. O russo portava cabelos e barba longos e hirsutos e possuía, com seus olhos azuis claros, penetrantes, um curioso olhar hipnótico que parecia traspassar a alma de seus interlocutores.
Dotado de magnetismo incontestável, Rasputin primeiro fascina e seduz camponeses e depois volta-se aos veneráveis representantes da Igreja Ortodoxa, que descobrem nele um exemplo vivo da simples e sã sabedoria popular. Eles o ajudam a ingressar na alta sociedade de São Petersburgo.
Em pouco tempo, Rasputin consegue reunir em torno de si uma corte de adoradoras. É rapidamente admitido na intimidade da família imperial. A czarina Alexandra Fedorovna, que era uma neurótica, e cujo filho Alexei era portador de hemofilia, logo acreditou piamente que as preces daquele “santo homem” eram as únicas capazes de salvar o herdeiro do trono, e com ele toda a nação.
A czarina dedica-lhe uma atenção cega e uma confiança desmedida, denominando-o “mensageiro de Deus”. Com esta proteção, Rasputin torna a influenciar ocultamente a Corte e principalmente a família imperial russa.
Todavia, o comportamento dissoluto, licencioso e devasso com supostas orgias e o envolvimento com mulheres da alta sociedade justificam denúncias por parte de políticos atentos à sua trajetória poluta, entre os quais se destacam Stolipin e Kokovtsov. O czar Nicolau II afasta então Rasputin, mas a czarina Alexandra mantém a confiança absoluta no ameaçado monge.
O que poderia ter sido um escândalo limitado interiormente pelos muros do palácio, torna-se rapidamente uma ameaça para o conjunto do país. Quando eclode a guerra em 1914, o ódio ao “mujique impostor” concentra-se no casal imperial. De complô em complô, o atroz assassinato de Rasputin precipita a queda do Império.
Raro um homem vindo de tão baixo ter chegado às culminâncias do poder, dificilmente tal distorção da fé poderia engendrar tão grandes redemoinhos políticos. Raro o mistério da alma russa, com seus excessos e contradições, se encontrou tão profundamente encarnado num só indivíduo.