Sexta-feira, 18 de abril de 2025
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São conhecidos como Acordos de Camp David os que foram firmados pelo presidente egípcio Anwar el Sadat e o primeiro-ministro israelense Menachem Begin em 17 de setembro de 1978. Foram 12 dias de negociações secretas com a mediação do então presidente dos Estados Unidos Jimmy Carter, mediante os quais Israel e Egito lograram a paz nos conflitos territoriais entre ambos. 

Carter havia iniciado contatos diretos entre os dirigentes do Egito, Síria, Jordânia e Israel, junto a representantes palestinos para levar adiante um processo de paz que pusesse termo aos enfrentamentos fronteiriços entre Israel e os vizinhos árabes, para mais tarde entrar a fundo no problema palestino.

Carter e o Secretário de Estado Cirus Vance retomaram a iniciativa nas reuniões de Genebra de 1973, tomando por base a necessidade de que Israel se retirasse dos territórios ocupados nas sucessivas guerras desde a sua independência. 

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O ponto de partida de Israel era negar a presença palestina em qualquer conversação e aceitar a possível retirada da península do Sinai. Por seu lado, o Egito não queria a intervenção de Washington no processo, preferindo conversações bilaterais de Israel com cada um dos países árabes. 

Sadat resolve efetuar uma viagem de surpresa a Israel em novembro de 1977, reconhecendo implicitamente pela primeira vez o Estado judeu, desvinculando-se definitivamente de qualquer iniciativa conjunta. 

As razões da atitude de Sadat residiam na necessidade de investimentos norte-americanos para tirar o país de aguda crise; superar um conflito com Israel que consumia boa parte dos recursos em gastos militares; e a impaciência com a atitude da Síria e dos palestinos. Sadat sabia das repercussões de sua iniciativa no mundo árabe, porém confiava que o processo de reconhecimento de Israel favoreceria os palestinos em exigir seu próprio Estado.

Por seu lado, Israel não tinha como negar a boa fé do Egito ao dar esse primeiro passo, posto que assegurava alguma estabilidade na frente ocidental e dividia os árabes. Os Estados Unidos, surpreendidos com a iniciativa de Sadat, viram uma oportunidade de mudar a dinâmica árabe-israelense, se bem que a aposta fosse um acordo multilateral.

Negociação entre Sadat e Begin isolou Egito no mundo árabe, mas pôs fim às hostilidades entre Egito e Israel

Wikimedia Commons

Presidente egípcio Anwar el Sadat, Jimmy Carter e o primeiro-ministro israelense Menachem Begin

Em 5 de setembro de 1978 começaram as conversações em Camp David. Sadat se viu na necessidade de pedir a Carter que fizesse de correio das propostas que duraram 13 dias ao considerar o incômodo de tratar das questões diretamente com o Estado inimigo. Muito mais tarde, Sadat explicou seu papel: queria proteger seu povo mas não desejava ser visto como traidor de seus aliados árabes 

Em suma, o Egito queria a retirada total das forças israelenses da península do Sinai e sua plena devolução à soberania egípcia; em segundo lugar, a retirada israelense da Faixa de Gaza e da Cisjordânia, bem como a eliminação dos assentamentos judaicos nessas zonas, que constituiriam o futuro Estado palestino. O cumprimento dessas medidas asseguraria a assinatura de um tratado de paz entre Israel e o Egito e o reconhecimento de ambos os Estados. Por sua parte. Israel estava disposto a negociar uma retirada quase total do Sinai no prazo de um ano após a assinatura do tratado, deixando uma zona mínima de segurança e em troca o Egito não reclamaria a criação de um Estado palestino e reconheceria o Estado de Israel. 

Depois do impasse de 14 de setembro que levou as negociações à borda de um rotundo fracasso, em 17 se firmou um acordo público referendado pelos Estados Unidos: Israel abandonaria o Sinai por completo, inclusive com o desmantelamento das colônias instaladas, devolvendo a plena soberania do território ao Egito, que não poderia manter mais que um reduzido número de forças militares na zona, assinando-se a paz seis meses mais tarde. Por sua vez, o Egito reconheceria a existência do Estado de Israel. O Egito foi o primeiro país do mundo árabe a fazê-lo, mesmo a contragosto dos demais. Em segundo lugar se firmou um acordo básico que estabelecia um calendário e um mínimo de competência para negociar o estabelecimento de um regime autônomo na Cisjordânia e na Faixa de Gaza. Ao mesmo tempo se estabeleceu a livre passagem de navios pelo Canal de Suez e outras questões menores. 

As mais imediatas consequências dos acordos foram o rechaço frontal do mundo árabe, inclusive dos palestinos, com a ruptura de relações diplomáticas de vários Estados com o Egito. Contudo, o tratado de paz Israel-Egito acabou sendo assinado, o que pôs fim a anos de hostilidades entre os dois países. 

O conflito Iraque-Irã em 1980 e o assassinato de Sadat em 1981 tiveram suas raízes na fratura do mundo árabe e muçulmano. O Iraque tratava de erigir-se como referência na região e demonstrar seu poderio militar não tanto diante de Israel e sim ante os países vizinhos. O Irã, em melhores condições econômicas e tecnológicas, buscou fazer o mesmo, acenando também com o fator religioso e sua república islâmica. Na verdade os acordos de Camp David não se refletiram nos acontecimentos posteriores e não resultaram também em outras negociações no sentido de resolver os conflitos do Oriente Médio.