Sábado, 21 de junho de 2025
APOIE
Menu

– Terminou na última quinta-feira (14/11) a 11ª Cúpula do BRICS em Brasília. O tema do encontro foi o “Crescimento econômico para um futuro inovador”. Contanto todo o período de exercício da presidência pelo Brasil, 113 reuniões foram realizadas e ainda faltam três que ainda serão organizadas durante a presidência brasileira até dezembro de 2019. Um documento de 73 pontos foi publicado, sendo que o último ponto é dedicado a informar que Brasil, Índia, China e África do Sul estendem total apoio à Rússia para sua presidência do BRICS em 2020 e para a realização da 12ª Cúpula do BRICS em São Petersburgo. Ao longo do documento, o único momento em que a palavra “América” aparece é em referência à saudação pela criação do Escritório Regional das Américas do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) em São Paulo. As crises em curso na América do Sul foram ignoradas. 

– O BRICS possui em seu âmbito um Conselho Empresarial, o CEBRICS, constituído em 2013 na Cúpula de Durban, África do Sul. Eles se reúnem com representantes governamentais no Fórum Empresarial do BRICS. Em seu discurso dirigido a esse público, Bolsonaro deixou claro seu programa econômico para o Brasil: “uma das prioridades da presidência brasileira no BRICS foi estimular o diálogo e o conhecimento das demandas do setor privado. Essa prioridade reflete também o objetivo do governo brasileiro de recuperar a economia nacional por meio da desestatização, do investimento privado e de uma ampla agenda de reformas em favor do equilíbrio fiscal e da melhora do ambiente de negócios”. 

– Um dos pontos mais relevantes dos debates do BRICS foi em torno do NBD (Novo Banco de Desenvolvimento) que tem sua sede em Xangai, na China e está em processo de organização de seus escritórios regionais, sendo que o primeiro foi aberto em Joanesburgo, na África do Sul, o segundo em São Paulo, no Brasil e o terceiro será inaugurado em 2020 em Moscou, na Rússia. A partir de 2020, o Banco será capaz de suportar de US$ 8 a US$ 10 bilhões de empréstimos anuais, segundo infos do encontro. O objetivo é fazer com que as reservas cheguem a US$ 75 bilhões. O foco do banco é o financiamento de projetos de infraestrutura e desenvolvimento dos países membros do bloco.

Receba em primeira mão as notícias e análises de Opera Mundi no seu WhatsApp!
Inscreva-se

– Ainda sobre BRICS, segundo bastidores apurados pela FSP, em encontro reservado no Itamaraty com os líderes de cada país membro do bloco, Bolsonaro teria se retratado por ter feito críticas à China no passado e principalmente em 2018 no período eleitoral. Durante o encontro, Bolsonaro também teria criticado a demarcação de terras indígenas pelos anteriores governos brasileiros que eram “antipatrióticos” e deixaram terras cheias de minérios para indígenas. O encontro bilateral com Xi Jinping foi o primeiro do gênero durante a cúpula e o único realizado no Itamaraty. A China socorreu Bolsonaro em dois momentos críticos para seu governo em 2019, na crise dos incêndios da Amazônia (a China foi das poucas a se pronunciarem em defesa do governo do Brasil) e no megaleilão do Pré-Sal, sem interessados estrangeiros (as 17 grandes petroleiras mundiais não quiseram participar). As petroleiras chinesas CNOOC e CNODC entraram com 5% cada no consórcio que arrematou o campo de Búzios.

– A reunião da cúpula do BRICS revelou um problema interno do Governo brasileiro. Uma forte diferença entre a ala dos “olavistas” que pretendem alinhamento automático com os EUA e os “pragmáticos” que percebem ser incontornável estreitar as relações com a China. A grande prova de fogo virá em 2020 com a disputa em torno da aplicação da tecnologia 5G no Brasil. Os EUA tentarão barrar a Huawei chinesa, com já conseguiram fazer no Japão, Austrália, Nova Zelândia e Vietnã.

– Aconteceu também nos marcos do BRICS no Brasil, o BRICS dos Povos. Seminário realizado nos dias 11 e 12 de novembro na Câmara dos Deputados em Brasília, organizado por uma série de entidades e movimento sociais do Brasil e que recebeu representantes da Índia, da Rússia e da África do Sul, além de outros países não membros do BRICS, como Nepal e Marrocos. No total foram 60 organizações participantes de 9 países. Em seu documento final, o encontro chama para a Jornada Internacional de Luta Anti Imperialista a ocorrer entre 25 e 31 de maio de 2020.

– Foi também nos marcos do BRICS em Brasília que a Embaixada da Venezuela no Brasil foi invadida por partidários do autoproclamado Guaidó. O Governo brasileiro reconhece Maria Teresa Belandria, representante de Guaidó, como embaixadora da Venezuela no Brasil, no entanto nunca rompeu relações formalmente com a equipe diplomática nomeada por Maduro e que representa a Venezuela no Brasil. Esta equipe trabalha e parte reside no terreno da Embaixada em Brasília e teve sua segurança ameaçada e colocada em risco por um grupo de cerca de 20 pessoas, uniformizadas, que invadiu pela madrugada o terreno onde está o edifício diplomático. O que mais espantou a todos foi que o governo brasileiro enviou um representante do Itamaraty ao local para dizer aos diplomatas que estes deveriam deixar o local e que o governo Bolsonaro reconhecia os invasores como não invasores, mas detentores de direitos de permanecer no terreno, uma vez representantes de Maria Teresa. A situação absurda foi mudando ao longo do dia com a mobilização de movimentos e organizações na porta da Embaixada, circulação da informação na imprensa internacional e pressão diplomática sobre o Brasil, em especial de países como a Rússia que reconhece o governo Maduro e estava em Brasília para o BRICS. Há indícios de que a invasão possa ter sido orquestrada pelos EUA em colaboração com Guaidó e setores do governo brasileiro que se identificam com essa política imperialista. O fato de ter ocorrido no primeiro dia do encontro presidencial do BRICS levanta uma série de questionamentos, inclusive sobre a tentativa norte-americana de atrapalhar ou tirar o foco do evento.

– Os estados membros do PROSUL (Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai e Peru) se pronunciaram de forma conjunta em apoio a Piñera no Chile. A nota, assinada e publicada na semana passada, reconhece os esforços do Governo do Chile “para promover e salvaguardar o respeito pelos direitos humanos” e a nota é fechada com apoio a Pinera por seus esforços para “restaurar a paz e a ordem pública no Chile, preservando o estado de direito, a democracia e o respeito pelos direitos humanos”. Piñera deve estar mesmo preocupado com as implicações das ações de seu governo que feriram direitos humanos durante os protestos nas últimas semanas no Chile.

– Como fruto desses protestos o Chile pode ter uma nova Constituição. Em quase 30 anos de democracia, nenhuma iniciativa para altera a Constituição de Pinochet havia prosperado no país. O acordo alcançado por Piñera e parte da oposição (PS, PPD e setores da Frente Ampla), denominado “Acordo de Paz” prevê o lançamento de uma consulta popular em abril de 2020 a respeito de duas questões: se uma nova Constituição é desejada e que tipo de órgão deve escrever essa nova Constituição. Hoje, nenhuma das forças políticas chilenas possui os dois terços necessários para qualquer modificação da carta magna de 1980, projetada para a manutenção do poder dos setores conservadores mesmo em tempos democráticos. O acordo que pretensamente diz atender às reivindicações do povo que segue em luta possui algumas “trampas” ou armadilhas, bem assinaladas entre os que não assinaram o acordo (Partido Humanista, Partido Progressista, Partido Regionalista Verde, Partido Comunista do Chile, Convergência Social, Ecologistas Verdes, Partido Comunes e Igualdad, alguns deles são da Frente Ampla e outros da Unidad para el Cambio). Uma das questões fundamentais é o tempo. Por que somente em abril de 2020? A segunda questão é a correlação e forças no Congresso, somente 2/3 podem fazer alterações. A terceira e muito preocupante: Piñera ficaria isento de qualquer denúncia constitucional pela repressão, assassinato e total ataque aos direitos humanos de seu governo nas últimas semanas.

– Pete Buttigieg, do estado de Iowa, é mais um nome para bagunçar a disputa pela cabeça de chapa do Partido Democrata para as próximas eleições presidenciais. O Iowa é o primeiro estado a escolher seu candidato. Veterano do Afeganistão, considerado um “jovem promissor na política” pelos democratas que o apoiam, o jovem (37) prefeito de South Bend, casado com um professor, pretende chegar no páreo com Warren, Biden e Sanders.

Crises em curso na América do Sul foram ignoradas na reunião da cúpula, um dos pontos mais relevantes dos debates do BRICS foi em torno do NBD (Novo Banco de Desenvolvimento): destaques desta segunda-feira, 18 de novembro de 2019

NULL

NULL