Quando os aviões atingiram o World Trade Centre, eu estava em uma sala de aula em Detroit assistindo a uma palestra sobre a guerra do Vietnã. Ao olhar pela janela, vi carros pararem no meio da rua com os rádios ligados, cercados por norte-americano ansiosos. Era como uma cena de filme. O impacto não foi apenas nos Estados Unidos. Em uma pesquisa recente para a New Statesman, mais de 45% dos entrevistados no Reino Unido disseram que aquela foi a “maior notícia de suas vidas”.
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O 11 de Setembro tem sido visto com mais frequência por meio de seu impacto nas relações internacionais: a criação de alianças, a “guerra contra o terror”, o Afeganistão e a justificativa para a invasão do Iraque. Ainda assim, o 11 de Setembro também influenciou arenas políticas internas, principalmente de três maneiras.
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Em primeiro lugar, os cidadãos de muitas democracias ocidentais ficaram mais preocupados com assuntos de segurança. Essa tendência é anterior ao ataque às Torres Gêmeas, mas ele quase com certeza contribuiu para uma mudança em direção a um “novo plano de segurança”. Pesquisas mostram que assuntos interrelacionados de segurança externa (por exemplo, o terrorismo) e segurança interna (por exemplo, crime) tornaram-se preocupações públicas bem mais proeminentes depois do 11 de setembro. Também surgiram níveis significativos de ansiedade pública em relação à imigração, e à presença e à integração de comunidades mulçumanas. Dez anos depois, governos e elites políticas mal começaram a entender essa tendência e suas implicações.
Em segundo lugar, a política dos partidos foi afetada. Antes do 11 de Setembro, partidos europeus de extrema direita haviam começado a ter um bom apoio ao focarem a ansiedade pública quanto à imigração, à integração, à lei e à ordem. Os eventos de 2001 deram a eles a oportunidade de expandirem esse plano e falarem a um número maior de cidadãos preocupados com ameaças mais amplas e difusas à segurança e à unidade das suas nações. Partidos como o Partido da Liberdade Holandês, o Frente Nacional na França e o Liga de Defesa Inglesa esforçaram-se para “enquadrarem” mulçumanos e islâmicos como uma ameaça a culturas nacionais e à coesão social. É importante notar que fizeram isso enquanto alegavam estar protegendo as tradições europeias de tolerância e democracia e estar defendendo a igualdade entre os sexos e os direitos dos homossexuais.
Suas campanhas ganharam mais impulso com os ataques terroristas posteriores em Londres e em Madri, o caso das caricaturas em um jornal dinamarquês, o assassinato do diretor de cinema holandês Theo Van Gogh e as atividades de grupos islâmicos pequenos, mas barulhentos. Setores da “grande” imprensa também tiveram participação nessa situação, legitimando, inadvertidamente, campanhas de extrema direita, floreando o medo público da lealdade dos mulçumanos e do seu potencial para a violência. O resultado? Em diversos países europeus, a extrema direita está ganhando força, não apenas em áreas com maior diversidade étnica, mas onde há grandes comunidades mulçumanas, sugerindo que o sentimento contra mulçumanos tornou-se um importante impulso para esse apoio público.
Em terceiro lugar, a política pública foi influenciada. Os eventos de 11 de Setembro forçaram os governos europeus a pensarem com mais seriedade sobre a prevenção de extremismos violentos e contra-radicalização dentro das comunidades mulçumanas. Ainda assim, depois de dez anos, estamos apenas começando a entender o que leva algumas pessoas a se envolverem com esse tipo de atividade terrorista. Os governos tentaram proteger seus cidadãos dessa ameaça evitando e combatendo a ideologia islâmica extremista violenta e seus seguidores (o plano de “prevenção”).
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No entanto, ao longo do tempo, ficou aparente que essas políticas eram inadequadas. Alguns argumentavam que elas minavam as relações da comunidade ao estigmatizarem as comunidades mulçumanas; outros argumentavam que elas focavam com muita força em apenas uma forma de extremismo e ignoravam o potencial de violência de outros grupos, sejam republicanos irlandeses renegados ou “lobos solitários” de extrema direita. A falta de atenção com outras formas de extremismo foi enfatizada pelas recentes atrocidades na Noruega.
O fato é que ainda temos um caminho a percorrer para compreendermos os motivos exatos que dão suporte ao extremismo violento em todas as suas formas e podemos levar mais dez anos para começarmos a explicar de maneira convincente as suas causas.
*Matthew Goodwin é Doutor em Relações Internacionais pela Universidade de Nottingham e pesquisa grupos políticos europeus de extrema direita. Artigo originalmente publicado no site da Chatham House.
*O relatório para o Chatham House do Dr. Goodwin sobre Entendendo e combatendo o avanço do extremismo populista da Europa será lançado em 22 de setembro. Detalhes.
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