No dia 3 de julho, os mexicanos foram às urnas para eleger três governadores, nos estados de Coahuila, Nayarit e México. O resultado – uma vitória arrasadora do PRI (Partido Revolucionário Institucional) – representou um atestado de falência do governo direitista do presidente Felipe Calderón. Ao mesmo tempo, delineou o cenário para sua sucessão em 2012.
O mandato de Calderón, do PAN (Partido de Ação Nacional), é claramente um desastre. Em contraste com outros países latino-americanos, como o Brasil e a Argentina, que têm apresentado crescimento econômico e indicadores sociais positivos, o México está, desde 2008, atolado na recessão. O desempenho medíocre se explica para dependência em relação aos EUA e pela queda da capacidade de consumo da população, cada vez mais pobre. Nos dez anos de mandatos presidenciais do PAN, o desemprego duplicou e os salários reais despencaram. Dois em cada três mexicanos assalariados ganham menos de 800 reais por mês.
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Eleito em condições suspeitas, Calderón deflagrou uma “guerra” ao narcotráfico para compensar sua falta de legitimidade e, de quebra, agradar os EUA. Com isso, o país mergulhou em uma espiral de violência que já causou mais de 40 mil mortos em apenas quatro anos. Uma carnificina inútil, pois a raiz do problema – o apetite voraz do mercado estadunidense de drogas – permanece intocada, e os cartéis desbaratados dão lugar a novas quadrilhas, favorecidas pela corrupção das autoridades e pela falta de perspectivas da juventude.
Não é de estranhar que o PRI, derrotado pelo PAN na virada do século após governar por mais de 80 anos, agora desponte como o favorito para 2012. Uma notícia desalentadora. Convertido ao neoliberalismo, o velho dinossauro só tem a oferecer mais do mesmo. Com o movimento social desmobilizado, a esquerda aposta em Andrés Manuel López Obrador, que milhões de mexicanos encaram como o verdadeiro vencedor das eleições de 2006. Em minoria no Partido da Renovação Democrática (PRD), cuja cúpula tende à conciliação com o PAN, López Obrador pôs em marcha uma campanha popular para viabilizar sua candidatura. Uma parada dura. Nela as forças progressistas depositam suas esperanças.
*Texto publicado originalmente no Brasil de Fato
Igor Fuser é jornalista, doutorando em Ciência Política na USP,
professor na Faculdade Cásper Líbero e membro do Conselho Editorial do
Brasil de Fato.
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