O dia 15 de agosto de 2008 é uma data que, inegavelmente, ficará para a história do Paraguai. Naquela ensolarada manhã de sexta, chegaram ao fim os 61 anos de mandatos ininterruptos do Partido Colorado, derrotado por um ex-bispo católico de nome Fernando Lugo.
Eleito por uma coligação que, apesar de mais parecer uma colcha de retalhos, tinha como base o Partido Liberal Radical Autêntico (PLRA, tradicional inimigo dos colorados), Lugo chegou ao poder em meio a grandes expectativas de mudanças. Sua palavra-chave durante a campanha foi, não por acaso, “mudança”.
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Passados dois anos, pouco do que foi prometido pôde ser colocado em prática. Três fatores contribuíram diretamente para isso: a inexperiência de Lugo e de seus aliados; o coloradismo arraigado no Estado e demais estruturas, como o Poder Judiciário; e a falta de maioria parlamentar na Câmara e no Senado.
Por conta disso, o presidente governa, até agora, em constante fragilidade, uma vez que, sem acordos, nenhum de seus projetos ou iniciativas passam pelo Congresso. Imerso em disputas internas e pedidos por cargos, o PLRA, que poderia ser de grande ajuda, é um aliado inconsistente e, por vezes, inconveniente.
Para que se tenha uma ideia, em dois anos de governo, Lugo ainda não conseguiu, sequer, aprovar a designação de embaixadores para países como Brasil e Argentina. O novo acordo sobre Itaipu é um triunfo “em partes”, enquanto que, o postergamento do Imposto de Renda, uma derrota acachapante.
Os planos de reforma agrária também não saíram do papel, embora, no campo social, duas medidas possam ser destacadas: a implantação da (precária) gratuidade no sistema público de saúde; e a concessão de “bolsas” similares às existentes no Brasil, a cidadãos em situação de pobreza extrema.
Em seu segundo aniversário de governo, a aprovação de Lugo, que nos primeiros dias era de 96%, graças ao fôlego inicial da luta contra a corrupção (atualmente, em marcha lenta), não passa dos 31%, conforme dados divulgados, neste domingo (15), pelo jornal paraguaio La Nación (clique aqui para conferir o estudo).
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Curiosamente, mesmo com os escândalos de paternidade e, agora, com o tratamento de câncer, a imagem particular do presidente consegue, aos trancos e barrancos, ser melhor vista que a de seu governo.
Para os três anos que restam, as perspectivas são ainda incertas e dependerão, diretamente, de dois fatores: a resistência de Lugo à quimioterapia pela qual passará daqui até o final do ano; e a performance de seus aliados nas eleições municipais de novembro, encaradas como uma espécie de “plebiscito”.
Na pior das hipóteses, se, em agosto de 2013, Lugo não tiver de entregar a faixa a um sucessor do Partido Colorado, já pode considerar-se satisfeito. A mudança prometida, que não virá em cinco anos, talvez chegue em 50. Até lá, poucos de nós estaremos vivos para testemunhar o cumprimento da profecia.
*Artigo publicado originalmente no site SopaBrasiguaia.com com o título Análise: Dois anos de governo Lugo. Guilherme Dreyer Wojciechowski é jornalista e trabalha como repórter de política do Paraguai.
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