É preciso encarar Bolsonaro como Bolsonaro é, sem ilusões, sem escapismos. Bolsonaro demarcou muito bem o que queria desde sempre na sua carreira política.
Não mudou como candidato desacreditado, não mudou como candidato competitivo, não mudou como presidente eleito.
Bolsonaro baseia sua plataforma e constrói sua base na destruição, na afirmação da morte como solução, na eliminação do outro, do diferente, como racionalidade.
É falsa a premissa de que o garante Bolsonaro é o pacote ultraliberal imposto por Paulo Guedes, um agente do mercado.
A necropolitica bolsonarista é complementar ao ultraliberalismo. As medidas econômicas que excluem, demandam a neutralização, a eliminação do excluído.
Tanto a destruição das políticas publicas como o estímulo à violência e às mortes de indesejáveis, que aumentaram nitidamente de janeiro pra cá, reafirmam essa aliança macabra.
Desse modo é também falso o discurso supostamente de salvação da civilização, emulado por Rodrigo Maia e os demais representantes da centro direita, que cumpre, quando muito, o papel de adoçar a distopia em que nos enfiamos.
José Dias/PR
Partido de Bolsonaro, a ‘Aliança do Brasil’, é a própria negação da política tradicional
Há outro aspecto que coloca o bolsonarismo num lugar difícil de combater: a operação de um desprezo, que se coloca de forma prática, à política.
A campanha de lançamento da “Aliança pelo Brasil”, o verdadeiro partido de Bolsonaro, é a própria negação da política tradicional.
A transgressão proposta na formalização do partido por via digital é um exemplo. Além de privilegiar as redes sociais como locus legitimo de registro, se propõe uma ruptura com a forma tradicional.
Mesmo quando reincide nas práticas tradicionais da política, o lançamento do real partido da bala, joga com o senso comum, dando aparências de ser a afirmação de tudo que o brasileiro médio despreza.
Um exemplo disso é a hierarquia do partido, na qual só os filhos ocupam funções chaves, nenhum aliado político, uma agremiação partidária baseada na família.
Não é visto como nepotismo, mas como uma rede de confiança, repercute bem na lógica da defesa da família e da propriedade.
Bolsonaro e seus valores têm respaldo, têm base social, não dá pra encobrir essa realidade.
Portanto, passou da hora de olharmos para o bolsonarismo como ele é, não como queremos que ele seja.
A luta política deve ser pautada, sobretudo por uma clara visão de quem é, como atua e onde viceja o antagonista.