Partidos de esquerda como o PT e o PCdoB atolam-se cada vez mais no “Bloco do Maia” na eleição para a presidência da Câmara e, em reunião nesta segunda-feira, praticamente garantiram apoio ao golpista Baleia Rossi (MDB-SP), indicado por Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Baleia foi golpista de carteirinha no “impeachment” da presidenta Dilma e é homem de confiança de Michel Temer.
Políticos de direita, como Maia e Baleia, mentem com grande cinismo.
As articulações para submeter a esquerda à direita e democratas a golpistas na eleição da Câmara tomaram corpo na sexta-feira (18/12), com o manifesto mentiroso dos 11 partidos (DEM, PSDB, MDB, PSL – o 17 de Bolsonaro na eleição -, etc), incluída a adesão de PT e PCdoB, do PSB e PDT.
Neste manifesto se diz que “alguns buscam corroer e fechar nossas instituições, nós aqui lutamos para valorizá-las. Enquanto uns cultivam o sonho torpe do autoritarismo, nós fazemos a vigília da liberdade”.
São “belas e altissonantes palavras”. Só têm um “probleminha”: são falsas de A a Z.
“Valorizar as instituições”, “fazer a vigília da liberdade” para golpistas como Maia, Baleia, Temer, deputados como Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) (presente na articulação) são palavras bonitas para definir, segundo eles, crimes reais contra a liberdade como o golpe de 2016 que afastou a presidenta Dilma Rousseff.
São profissionais hábeis na enganação.
Para eles, não é combater “o sonho torpe do autoritarismo” levar adiante nenhum processo de “impeachment” contra Bolsonaro. E não faltam motivos: desde a apologia diária da tortura pelo extremista no Planalto ao descaso na epidemia que já aproxima o número de brasileiros mortos a 200 mil.
Os “heróis” deste “manifesto” chamam golpismo de “união da democracia com a liberdade”.
Qual “democracia”, quando Bolsonaro desrespeita diariamente a Constituição e põe instituições como o Ministério da Justiça e a Polícia Federal a serviço da impunidade da própria família? Nada sobre os mandantes do assassinato de Marielle Franco.
Qual democracia, quando aumenta a espionagem contra cidadãos brasileiros de oposição, fortalecem-se mecanismos de polícia política, sem nenhuma resposta da gestão Maia na Câmara?
Qual “liberdade”, quando a supressão do auxílio-emergencial joga na iminência da mais negra miséria dezenas de milhões de nossos irmãos?
Dizem que são contra os “devotos de fake news”, mas os partidos de direita do bloco do Maia não perdem oportunidade de assegurar a “culpabilidade” de Lula, motivo segundo eles para impedir definitivamente a recuperação dos plenos direitos políticos do ex-presidente.
Com “democratas” assim estamos arrumados. Estranho é que partidos da oposição popular, como o PT e o PCdoB, tenham compactuado e dado um cheque em branco para tal mistificação contra o povo. Já seria estranho que partidos de “oposição”, como PSB e PDT, de “esquerda” (?), assinassem tal manifesto, quanto mais partidos de base mais popular como PT e PCdoB.
Acordo podre
Tudo em nome de um acordo completamente podre que avançou ainda mais nesta segunda-feira (28/12), quando PT e também PCdoB, PSB e PDT (bem menos oposicionistas), assinaram nota conjunta comprometendo-se ainda mais em apoiar o golpista Baleia Rossi e praticamente descartaram lançamento de candidatura própria da oposição a Bolsonaro.
Acordo podre em nome do mero funcionamento da Câmara dentro de normas regimentais.
Não se esqueçam, senhores oportunistas, os golpistas têm maioria lá e não fizeram outra coisa desde a preparação do golpe de 2016 até hoje do que passar o trator contra democratas. Voltarão a fazê-lo.
E o que se cede, em troca de ganhos meramente no âmbito do cretinismo parlamentar, sem nenhuma política de mobilização do povo por suas reivindicações?
Diz a nota, fértil em “belas palavras” abstratas, omissa e capitulacionista nas indispensáveis medidas concretas: “Nós, dos partidos de oposição, temos a responsabilidade de combater, dentro e fora do Parlamento, as políticas antidemocráticas, neoliberais, de desmonte do Estado e da economia brasileira, e de lutar para que nosso povo possa ter resguardados seus direitos à vida, à saúde, ao emprego e renda, à alimentação acessível, à educação, entre outros direitos essenciais”.
O “fora do Parlamento” entra aí só para escamotear o exclusivismo cretinismo parlamentar, totalmente só dentro do Parlamento.
Como assim? Se não se propõe nenhuma luta contra o genocida “teto de gastos” sociais (teto só contra o povo, porque não há limite para dar dinheiro a banqueiros)? Como assim, medidas em defesa da Economia e do Estado brasileiro, se não se aponta ao povo a destruição privatista em curso da Petrobras, a entrega do Pré-Sal? “Teto de gastos” ligado indissoluvelmente ao golpe de Estado de 2016.
Como assim, “direito ao emprego e renda”, se se considera fatos consumados e irreversíveis à “legalidade” golpista que propiciou “o teto de gastos”, a liquidação de direitos trabalhistas?
É isso que é a “união da liberdade com a democracia”? Com Maia, com o Baleia do Temer, com golpe, com tudo, com não reação ao achincalhe diário de Bolsonaro pela destruição da democracia? Com a viabilização cotidiana do programa de destruição econômica neoliberal de toda a direita, de Guedes e Bolsonaro, de Maia e da Globo?
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Políticos de direita, como Maia e Baleia, mentem com grande cinismo: são profissionais hábeis na enganação
'Socialdemocratas' que ficam atrás até de liberais políticos honestos
É uma raridade encontrar liberais políticos que se mantenham fiéis às liberdades democráticas, mesmo nos marcos limitados da submissão ao capital.
Claro, não me refiro a neoliberais, que consideram o estrangulamento da liberdade política a situação ideal para prosperar a “liberdade” de empresa… dos monopólios e do parasitismo financeiro.
Mas aqueles raros liberais políticos que, quando a direita avança na liquidação da própria democracia burguesa, mantêm-se fieis a ela. São uma raridade, pois como o golpismo mostra, ainda mais no Brasil, jogam às favas qualquer disposição democrática e aderem ao golpe para excluir as correntes populares, com histeria anticomunista ou antipetista.
Mas o que dizer de socialdemocratas de um partido socialdemocrata como o PT (teoricamente um partido de centro-esquerda) que não se mostram à altura nem de defender mínimos direitos democráticos, “heróis” do cretinismo parlamentar”, e que entregam tudo pelo mero funcionamento regimental da “Casa”?
Já nem falo do PSB, que, segundo se noticia, tinha 18 dos seus 31 deputados a favor do candidato explicitamente bolsonarista, Arthur Lira (PP-AL). Ou do PDT do Lupi, a serviço da candidatura Ciro Gomes – para quem o PT é considerado permanentemente o inimigo a abater.
Mas o que dizer de “comunistas”, como os da maioria da direção nacional do PCdoB, que, não satisfeitos de apoiar o golpista João Campos (PSB) na eleição para a prefeitura de Recife, campanha que usou e abusou das “fake news” do MBL contra a candidata Marília Arraes (PT), trocam também as reivindicações populares pelo mero funcionamento da “Casa”?.
É só mais um degrau no deslavado oportunismo de direita a anunciada incorporação de tais “comunistas” ao PSB, que como se vê são “socialistas” para ninguém botar defeito. É a política pseudo-comunista de hoje rumo à política “socialista “ de amanhã. E, na imitação das siglas da direita, dos “Progressistas”, “Republicanos”, “Democratas”, já anunciam a mudança de rótulo para “Socialistas”.
Está na hora do bloco autêntico do PT
E o PT, de maior e mais consistente base popular?
Um terço dos deputados do PT se posicionou originalmente pela candidatura democrática e popular própria.
Durante a ditadura, a esquerda do MDB criou o grupo autêntico.
Está na hora da firme esquerda petista não aceitar mais este pântano, a promiscuidade antidemocrática, e mostrar nitidamente sua própria fisionomia, criar o grupo de petistas autênticos, contra o golpismo, contra Bolsonaro, o neoliberalismo, Maia e os prepostos de Temer como Baleia Rossi.
No PSOL há pressões semelhantes, do cretinismo parlamentar, mas o partido, pelo menos até agora, achou por bem não se comprometer nesta articulação suicida para a esquerda, para as correntes democráticas e populares.
Acabo de escrever este artigo e tomo conhecimento da entrevista de Rodrigo Maia, publicada na Folha de São Paulo nesta terça-feira (29/12). Como a esquerda tem lhe facilitado a vida, ele já assegura que o “Bloco do Maia”, da atual eleição da Câmara, é a “saída” para 2022.
Uma “saída” obviamente neoliberal, de aviltamento da democracia, com privatização geral e arrocho completo contra o povo brasileiro.