O termo “trincheiras estridentes”, de Francisco Bosco, é utilizado por Heloisa Prates Pereira, José Luiz Aidar Prado e Vinicius Prates no livro Comunicação em rede na década do ódio: afetos e discursos em disputa política (Estação das Letras e Cores, 2022) para alertar sobre as posições da guerra política no ambiente digital que o Brasil vive durante a última década. Na obra, os autores fizeram apontamentos dos valores democráticos que seriam postos à prova na corrida eleitoral. E que de fato estão sendo.
Desde 19 de outubro, dia em que a rede Jovem Pan recebeu uma ordem do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) relacionada ao conteúdo jornalístico transmitido pelo veículo sobre o 2º turno das eleições presidenciais no Brasil, não faltam notícias falsas nas redes sociais sobre a suposta censura que a emissora sofre “financiada pela campanha de Lula”, um fenômeno de fake news no período eleitoral que foi previsto pelos pesquisadores.
Tal conjuntura é analisada pelos autores na obra como as consequências dos discursos políticos no ambiente digital, não mais racionais, mas sim passionalizados e com afetos.
De acordo com os estudos e análises da obra, resultado da reunião de artigos realizados por integrantes do grupo de pesquisa “1 dia, 7 dias” da PUC de São Paulo, o atual contexto das redes sociais, evidenciado pela polêmica com a Jovem Pan, pode ser compreendido com a existência dos “sujeitos protomodelizados”, que, diante de uma situação fragmentada em que fatos evidenciados e comprovados não são mais interessantes, “estão pré-dispostos a acreditar em determinadas verdades”.
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Campanha eleitoral de Jair Bolsonaro baseada em fake news é fenômeno alertado no livro "Comunicação em rede na década do ódio"
Dessa forma, certos discursos são repercutidos por serem aderentes pela falta da existência da racionalidade que auxiliaria a analisar o fato que realmente aconteceu, vide o caso citado acima.
Nesse sentido, ao observar a forma que a extrema direita utilizada suas vozes, a obra compreende que a disputa política brasileira é um confronto, que como qualquer outro, é passional e baseado em afetos.
Ao contrário do que sonhava o teórico da comunicação Marshall McLuhan, as redes se tornam cada vez menos democráticas, dando lugar aos discursos de “triagem” de filosofias separatistas, que, na visão dos autores, é a arquitetura base das redes sociais.
Uma vez que o discurso da esquerda é o da “mistura” de pessoas, lutas identitárias e modos de vida, o da direita é de “triagem” e separação. Os autores concluem que as redes são afeitas a realizarem posições voltadas aos discursos separatórios, consequentemente estando mais ao lado da direita.
Dentro de um ambiente digital, que por sua natureza favorece discursos de direita, mas também fake news e disputas de afeto político, a leitura de Comunicação em rede na década do ódio: afetos e discursos em disputa política ajuda na compreensão da realidade política fragmentada que nos cerca enquanto aguardamos a vitória da democracia nas urnas em 30 de outubro.