Em 2023, o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro aumentou 2,9% frente a 2022. o PIB é um indicador de fluxo de novos bens e serviços finais produzidos durante um período. Por setor econômico, o crescimento foi puxado em primeiro lugar pela Agropecuária (15,1%), em segundo pelo setor de Serviços (2,4%) e em terceiro pela Indústria (1,6%). O PIB per capita (que mede quanto do PIB caberia a cada indivíduo de um país se todos recebessem partes iguais) alcançou R$50.193,72 em 2023, um avanço (em termos reais) de 2,2% em relação ao ano anterior. Estes resultados reposicionaram o Brasil a nível mundial, fazendo com que voltasse ao grupo das dez maiores economias do planeta. Estes resultados e índices parecem promissores, entretanto o país segue sendo um dos mais desiguais do mundo. O rendimento médio domiciliar per capita foi de R$1.893,00 (menos de um salário mínimo e meio) e mais da metade dos domicílios brasileiros vivem com menos de um salário mínimo. Por isso a pergunta: é só crescer economicamente para que socialmente as melhoras aconteçam?
O crescimento econômico refere-se à ampliação da produção de bens e serviços por uma determinada comunidade ao longo de um ou mais períodos. Isso implica em um aumento na atividade econômica de uma região, considerando todos os setores produtivos que contribuem para essa economia. Aferir o crescimento econômico geralmente é algo feito pela análise do Produto Interno Bruto. Não há dúvidas de que o Brasil cresceu nos últimos dois anos, isto é, que produziu mais que nos anos anteriores. Contudo, analisando outros dados, percebe-se que outras questões têm de ser colocadas para compreender a real situação do país. Por exemplo, indo mais fundo sobre o PIB per capita, que em 2023 foi de R$50.193,72, ao dividir este número por 12 meses, teria-se uma renda média mensal de R$4.182,81 para cada brasileiro, o que, bem se sabe, e o valor do rendimento domiciliar per capita acima citado mostra, é muito acima do valor que mais de 90% das famílias têm para gastar.
Mas, se o país produziu e cresceu, para quem foi? O Brasil é conhecido por sua alta concentração de renda, onde o 1% mais rico da população detém 28,3% da renda total, tornando-o um dos países mais desiguais do mundo. Considerando dados tributários, o 1% mais rico ganha 72 vezes mais que os 50% mais pobres; entre 2017 e 2022, o 0,01% mais rico viu sua renda crescer 87%, enquanto 95% dos brasileiros e brasileiras, no mesmo período, tiveram sua renda aumentada em no máximo 33%.
Ainda, seis brasileiros possuem a mesma riqueza que a soma do que possui a metade mais pobre da população, mais de 100 milhões de pessoas. Segundo estimativas da ONG OXFAM, se mantidas as tendências dos últimos 20 anos, os negros só terão equiparação salarial com os brancos no Brasil em 2089, e uma trabalhadora que ganha um salário mínimo por mês levará 19 anos para receber o mesmo que um super-rico recebe em um único mês.
Um dos modos utilizados para modificar as desigualdades de renda e riqueza é o sistema tributário de um país, que pode tanto melhorar como piorar a situação. O caso brasileiro é justamente o último: os 10% mais pobres gastam em média 32% de sua renda com tributos, enquanto os 10% mais ricos, 21%. Além disso, o 1% mais rico do mundo (e no Brasil não é diferente) emite mais do que o dobro de CO2 do que os 50% mais pobres, intensificando as mudanças climáticas e contribuindo para desastres naturais que afetam de formas mais drásticas as pessoas em vulnerabilidade econômica. Novamente segundo estimativas ONG OXFAM, o Brasil levará 35 anos para alcançar o atual nível de desigualdade de renda do Uruguai e 75 anos para chegar ao patamar atual do Reino Unido, mantido o ritmo médio de redução anual das desigualdades de renda observado desde 1988.
O Brasil é formado por uma grande massa de pessoas de baixa renda, que compõem cerca de 80% da população, que trabalham na maioria das vezes mais de 44 horas semanais (principalmente se forem mulheres), isto é, contribuem arduamente para que o PIB do país cresça, mas de fato não veem os frutos de seus trabalhos gerarem melhores condições de vida para si próprios e suas famílias. Pelo contrário, nos últimos anos, parece que a economia cresce, mas também que ficam piores as cidades, o ar, as águas, o clima; que os salários não dão conta da inflação e conseguem comprar cada vez menos. Crescer economicamente, sem pensar para quem é a economia, para quem ela será distribuída, como será distribuída e se gerará qualidade de vida para população, pode até parecer um resultado promissor, mas jamais vai simbolizar bem estar social.
(*) Bianca Valoski é doutoranda no Programa de Pós Graduação em Políticas Públicas da UFPR, dentro da linha de pesquisa em Economia Política do Estado Nacional e da Governança Global. É servidora da Câmara Municipal de São José dos Pinhais, onde trabalha com finanças públicas.