Quando surgiu a Caros Amigos, eu achei o nome meio velho, ainda que eu fosse e hoje seja mais ainda um grande admirador do Chico Buarque.
Achava que a revista era confusa, e até me incomodava com certo conservadorismo em colunistas, como Leo Gilson Ribeiro e outros que eram nacionais e populares demais para o meu gosto.
Achava ela incerta, com números incríveis (como o perfil do empreiteiro Cecilio Rego Almeida) e números chatíssimos. Se eu fazia tantas críticas, é porque eu não podia deixar de ler, né? Como foi bacana chegar à banca de jornal e encontrar essa revista grandona, cheia de texto, falando coisas que eram totalmente não ditas nos grandes jornais.
A Caros Amigos foi a revista mãe de todos os projetos jornalísticos independentes que surgiram depois.
A direita tentou com a República, depois Bravo!, depois Primeira Leitura. Apesar de fontes de financiamento muito mais consolidadas, faliram.
NULL
NULL
Reprodução
A primeira e a última edições de Caros Amigos: o fim de uma era
À esquerda com a Caros Amigos nos anos 1990, tivemos a Atenção!, que durou 13 números. Depois, surgiu a possibilidade de fazer imprensa na internet. E novos projetos surgiram.
Um monte de gente abriu e faliu nesse tempo, com muito, pouco ou nenhum dinheiro. Alguns continuam (vide Cult), e a Caros Amigos se segurou por duas décadas com pouca ou nenhuma publicidade oficial, com pouca ou nenhuma publicidade privada, com e depois sem o Sérgio de Souza, com um posicionamento político bacana, de resistência.
Resistiu até a essa situação em que cada assinatura vendida é um custo a mais, porque o que os leitores estão dispostos a pagar mal cobre a impressão e o envio da revista.
A Caros Amigos deu certo por 20 anos. Parabéns a todo mundo que participou desse projeto. Parabéns mesmo.
PS – A Caros Amigos cedeu suas páginas para três edições históricas do especial LITERATURA MARGINAL, organizadas por Ferréz. Esses números deram legitimidade a toda uma cena literária em São Paulo. Só por isso já teria sido imprescindível.