Sexta-feira, 18 de julho de 2025
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Vladimir Putin conquistou uma vitória acachapante nas eleições presidenciais russas que aconteceram entre os dias 15 e 17 de março. Um resultado previsível e que evidencia dois pontos: a popularidade de Putin é incontestável e a maioria do povo russo apoia seu projeto nacional e o esforço de guerra na Ucrânia. 

A participação aumentou de 67% para 74% em relação a 2018. A novidade ficou por conta das votações nos territórios recém conquistados nos referendos de 2022; Kherson, Zaporozhye, Lugansk e Donetsk registram mais de 80% de comparecimento. Na região da Crimeia, anexada em 2014, Putin venceu com 94% dos votos. Ao final do domingo, o resultado foi o mais que esperado: uma estrondosa vitória que o Ocidente não pode se dar ao luxo de não escutar. 

Prestes a iniciar um quinto mandato, Vladimir Putin foi eleito presidente da Federação Russa pela primeira vez em março de 2000, após ocupar por quase três meses o posto como interino por consequência da renúncia de Boris Ieltsin. 

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Seus primeiros anos de governo foram marcados pelo esforço de reconstrução do país após o arraso ultraliberal das políticas econômicas da terapia de choque da década 1990, que não apenas privatizou de forma corrupta setores estratégicos da economia, mas jogou 40% da população para baixo da linha da pobreza. Os russos assistiram a um colapso dos serviços sociais, alto desemprego, estagnação da indústria, crise de sua moeda e um enfraquecimento brutal de sua projeção geopolítica.  

Com a chegada de Putin ao poder, houve uma renacionalização das armas e da energia. Os oligarcas que haviam se apropriado indevidamente das riquezas estratégicas do Estado russo nos anos de abertura foram pressionados jurídica e politicamente a abrir mãos de suas empresas. 

Nesse processo de reconstrução nacionalista, que também contou a centralização do poder nas mãos do presidente, os resultados foram impressionantes. Entre 1999 e 2008, a Rússia cresceu a uma taxa média de 6,9% ao ano. Houve uma redução da dívida externa pública da Rússia (em 1999 representava 68% do PIB e em 2008 a taxa era de 1,8%), crescimento dos salários reais, dos gastos públicos e das famílias, bem como a expansão e dinamização do mercado interno.

O presidente russo, Vladimir Putin, durante o desfile militar em homenagem à vitória sobre os nazistas na Grande Guerra Patriótica. 09/05/2022. (Foto: Presidential Executive Office of Russia)

A performance positiva da atividade econômica logo se traduziu em um aumento da capacidade de projeção internacional de um Estado com status de potência nuclear e membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, após anos de encolhimento brutal de seu complexo industrial-militar (a produção do setor chegou a cair 80% durante os anos 1990) e das prioridades nacionais terem sido sacrificadas. 

A política externa dos governos de Putin perseguiu o objetivo claro de multilateralidade de suas relações, privilegiando a cooperação e arranjos institucionais com países do que se convencionou a chamar nos dias atuais de Sul Global, com destaque para os BRICS e relações bilaterais altamente estratégicas com a China. 

A Rússia hoje 

A vitória acachapante de Putin também evidencia que as sanções dos Estados Unidos e seus aliados não atingiram o objetivo de asfixiar a Rússia econômica e financeiramente e impor consequências sociais e políticas capazes de afastar Putin do poder e promover algum tipo de mudança de regime na Rússia. Em 2023, a economia russa cresceu mais que os Estados Unidos e os países da zona do euro, mesmo com as restrições impostas, as limitações estruturais internas e uma pauta de exportações primarizada. 

Pesquisas realizadas pelo Levada Center identificam que a popularidade de Putin oscilou para cima desde o início da guerra na Ucrânia em fevereiro de 2022. Em dois momentos importantes da história recente da Rússia isso também ocorreu: na guerra russo-georgiana em 2008 e logo após a anexação da Crimeia, em março de 2014.

Num mundo envolto em tensões geopolíticas, a Rússia é uma das vozes mais firmes na contestação da hegemonia dos Estados Unidos, questionando sua atuação política nos organismos internacionais, seus instrumentos econômicos e financeiros de pressão e suas posições militares em diferentes partes do globo. 

Por óbvio, há pontos a serem exaustivamente discutidos. O sistema político russo é altamente centralizado na figura do presidente. As posições políticas de Putin, dentro e fora do país, são, muitas vezes, controversas. É passível de críticas e de condenação a posição do presidente russo em relação aos direitos da população LGBTQIA+, sua visão conservadora em relação à identidade de gênero e os caminhos para lidar com a crise demográfica. No entanto, o que não dá para fazer, evidentemente, é colocar sua vitória na conta da fraude eleitoral ou na exclusão de candidatos do processo. 

Os números da vitória de Putin mostram uma realidade incontornável: há um apoio real das massas ao projeto de país liderado pela ex-agente da KGB. 

(*) Rose Martins é analista internacional e pesquisadora, formada em Relações internacionais pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e mestra em Economia Política Internacional