Quando o barão Pierre de Coubertin, criador dos Jogos Olímpicos da Era Moderna, adotou o lema “Citius, Altius, Fortius” (Mais rápido, mais longe, mais forte) para os primeiros Jogos realizados em Atenas, em 1896, ele estava pensando no atletismo. Tratava-se de reviver a tradição dos Jogos Olímpicos da Grécia Antiga.
Nos primórdios de nossa civilização, começa a história do atletismo. O homem das cavernas, de forma natural, praticava uma série de movimentos, nas atividades de caça, em sua defesa própria. Ele saltava, corria e lançava. Enfim desenvolvia uma série de habilidades relacionadas com as diversas provas de uma competição de atletismo. Podemos verificar que as provas de atletismo são atividades naturais e fundamentais do homem: o andar, o correr, o saltar e o arremessar.
Agência Efe
Campeonato Mundial de Atletismo foi realizado em Pequim entre os dias 22 e 30 de agosto
A história do atletismo é muito bonita, pois que se inicia com a própria história da humanidade, quando o homem primitivo praticava suas atividades naturais para sobrevivência. Chega mesmo a se confundir com a mitologia, quando observamos o período da Antiguidade Clássica, com os Jogos Olímpicos que deram origem aos atuais Jogos Olímpicos da Era Moderna, que trazem como reminiscência cultural mais marcante a figura de Discóbulo de Miron.
O atletismo, sob forma de competição, teve sua origem na Grécia. A palavra atletismo foi derivada da raiz grega, “ATHI, competição”, o princípio do heroísmo sagrado grego, o espírito de disputa, o ideal do belo — o que se chamou de espírito agonístico. Surgiram então as competições que foram perdendo o caráter de religiosidade e assumindo exclusivamente o caráter esportivo. Por todas estas razões, considera-se o atletismo o “esporte base”.
O atletismo é praticado individualmente. Mesmo as provas de revezamento constiuem-se em soma de individualidades sincronizadas entre si. Há provas em que o atleta compete cada qual na sua vez, como nos saltos e arremessos, um após o outro e outras em que todos concorrem simultaneamente, como nas corridas. Há provas que duram horas e exigem alto grau de concentração e força mental. O atletismo aceita homens e mulheres de estrutura física as mais diversas, sem exceção: esguios, musculosos, fortes, volumosos, altos, baixos. Pode ser praticado em tempo quente, frio, sob sol ou chuva, de dia ou à noite.
As provas vão da mais pura velocidade a um misto de velocidade e resistência, e outras de resistência. Nas provas da maratona, decatlo, heptatlo e marcha impõe-se a resistência aliada à tenacidade. Há provas em que se requer inteligência tática em alto grau, como as de meio fundo e outras em que o apuro técnico é fundamental, como nos saltos com vara, em distância e triplo. As provas de arremesso exigem força e execução técnica apurada.
Para o espectador, as competições do atletismo compõem uma sensação única. Provas de campo e pista são levadas a efeito simultaneamente diante de olhares atentos e emocionados e a expectativa de quebra de recorde cria um suspense inexcedível. Se concretizado, o assistente guarda para si ter presenciado um momento histórico do esporte.
O desempenho das equipes nacionais
Tradicionalmente a classificação dos países leva em conta apenas o quadro de medalhas em que prevalece o ouro e não a soma das medalhas ouro, prata e bronze. Essa classificação pode ser válida para os Jogos Olímpicos em que muitas modalidades díspares se apresentam.
Clique aqui para ler os textos da série de Max Altman: '20 Momentos Marcantes dos Jogos Olímpicos'
No caso de um campeonato de atletismo, é mais importante ver o desempenho de uma equipe nacional em seu conjunto, ainda que não conquiste nenhuma medalha. O desempenho do atleta que chega em colocações que não o levem ao pódio deve também ser considerado.
Dessa forma, atribuí a pontuação 10; 8; 6; 5; 4; 3; 2; 1 para os colocados de 1º a 8º lugares, respectivamente, conferindo alguma relevância para os tradicionais ouro, prata e bronze e valorizando outros competidores que não os superatletas como Usain Bolt.
Das quase duas centenas de países participantes, alguns com dezenas de atletas e outros com 1 ou dois atletas, 69 conquistaram no mínimo 1 ponto. É importante observar que não levei em consideração as naturalizações de conveniência, casos em que atletas de países africanos são naturalizados por alguma nação europeia para competir sob sua bandeira.
Abaixo exibo o ‘ranking’ dos primeiros 30 países:
1. Estados Unidos …………………… 229
2. Quênia ………………………………. 193
3. Jamaica ……………………………… 148
4. Alemanha ……………………………. 120
5. Grã Bretanha ……………………….. 103
6. China …………………………………. 95
7. Etiópia ………………………………… 92
8. Polônia ………………………………… 76
9. Canadá ………………………………… 72
10. Rússia ……………………………. 65
11. França ……………………………. 42
12. Cuba ……………………………… 35
13. Holanda ………………………….. 31
14. Ucrânia …………………………… 30
15. África do Sul …………………….. 24
16. Trinidad e Tobago …………….. 23
16. Bulgária …………………………. 23
18. Austrália ………………………… 21
19. Bahamas ………………………… 17
20. Croácia …………………………… 16
21. Marrocos …………………………. 15
22. Brasil ……………………………… 14
22. Suécia ………………………….. 14
22. Espanha ………………………….. 14
22. República Tcheca ………….. 14
26. Eritreia ……………………………. 13
26. Hungria ……………………………. 13
26. Japão ………………………………. 13
29. Bélgica …………………………….. 12
29. Colômbia ………………………….. 12
NULL
NULL
O desempenho do Brasil
Nunca antes, nos últimos anos, em especial depois que o Rio de Janeiro foi eleito sede dos Jogos Olímpicos, os atletas brasileiros de alto rendimento receberam tanto apoio material e técnico, para poderem se dedicar exclusivamente ao aperfeiçoamento atlético. Têm participado continuamente de competições internacionais com o fim de adquirir experiência, valem-se, em muitos casos, de preparadores e técnicos estrangeiros, muitos passam temporadas no exterior em treinamento.
Isto posto, o desempenho da equipe brasileira no Mundial de Atletismo 2015 em Beijing, China foi decepcionante, para não dizer alarmante, a menos de um ano dos Jogos do Rio. Levamos 56 atletas a Pequim e conquistamos apenas a medalha de prata com Fabiana Murer no salto com vara, atleta que há anos participa do circuito esportivo internacional; um 6º lugar na marcha 20 km para homens com Caio Bonfim e um 6º lugar na marcha 20 km. para mulheres com Érica de Sena. E só.
Agência Efe
O brasileiro Tales Silva foi último de seu grupo e o pior entre os 39 concorrentes no salto em altura masculino
Um país com 204 milhões de habitantes, com ampla população jovem, clima favorável o tempo todo, condições ambientais propícias, com uma natural inclinação pelo esporte, se não pela prática ao menos pela apreciação, não tem o direito de apresentar resultado tão pífio.
Para ilustrar essa afirmação, aponto alguns exemplos:
a) Levamos 3 maratonistas. Salonei da Silva chega em 18º. Normal se não fosse a circunstância de ter marcado um tempo muito inferior ao que costuma realizar. Os outros dois, Gilberto Lopes e Edmilson Santana desistiram pelo caminho.
b) A Vanessa Espínola chegou em 26º no heptatlo com uma pontuação de 5.647 pontos muito inferior ao seu melhor desempenho nesta temporada (Season Best) de 6103 pontos.
c) Nosso revezamento 4×400 masculino chegou em 7º na sua série de classificação com o tempo de 3.01.05. Ficou de fora da final. O que causa desagrado é que o “season best” de nossa formação foi de 3.00.96. E o que causa espécie é que todas as equipes de uma das séries tiveram “WL (World leader” – o melhor tempo de todos na temporada), SB e NR (National Record – recorde nacional) e também todas as sete demais equipes nacionais da série do Brasil apresentaram SB e NR.
d) O mesmo ocorreu com a equipe feminina dos 4×100. Seu tempo na série classificatória foi de 43.15, insuficiente para ir à final, quando seu SB foi de 42.29. Cinco dos 8 países da 1ª série e 4 dos 8 da série do Brasil tiveram WL, SB e NR.
e) O trágico ocorreu com o revezamento 4×100 masculino. Não completou a prova, pois deixou cair o bastão na passagem do primeiro para o segundo homem. Cair o bastão pode ocorrer. Por que então trágico? Acontece que todos nós ouvimos dos comentaristas especializados, um dos quais ex-atleta, na transmissão televisiva, antes da prova, que a equipe havia chegado a Pequim com 15 dias de antecedência, tivera adequada aclimatação, havia treinado bastante passagem de bastão e estava preparada para subir ao pódio.
f) Nos 100 metros feminino, Rosângela Santos, com 11.07 não foi sequer à semifinal. Seu SB era de 11.04. Várias das concorrentes conseguiram PB, SB e NR.
g) No salto em altura masculino, Tales Silva com 2.17 foi o último de seu grupo e o pior resultado de todos os 39 concorrentes. O seu SB era de 2.28.
h) No salto com vara masculino, Fabio Silva foi o último dos 34 concorrentes, saltou 5.25 quando seu SB era de 5.40; Thiago Braz, a grande esperança brasileira para a modalidade, saltou apenas 5.65, quando seu SB era de 5.92. Não se qualificou para a final. O único finalista foi Augusto Oliveira que saltou 5.70 na classificatória caindo para 5.65 na final. Seu SB era de 5.81.
O Brasil tem todas as condições para ser uma potência olímpica no atletismo. Exemplos não faltam e partem de países muito pobres, Quênia, Etiópia, e, menos, a Jamaica, por exemplo. Toda uma nova visão e estrutura devem ser criada e montada.
O comentário a respeito fica para outra vez.