Depois de 25 anos, o Peru terá seu pior ano econômico em 2023. É dessa forma que se estabelecem todas as projeções que circulam no país. A consultoria Macroconsult diz que o país concluirá o ano com -0.2%; o Instituto Peruano de Economia, com -0.3%; Fhase Consultores, com -0,3%; e Videnza Consultores, com 0,2% com tendência a 0%; e o Banco Britânico de Inversão Barclay prevê que haverá uma queda de -0.6%. O Banco Central, com seus aborrecentes “relatórios de inflação”, subestimou os alertas de recessão que, de várias formas, envolviam uma política monetária que parecia uma réplica do que fazia a Reserva Federal dos Estados Unidos.
Quando a recessão parecia chegar, em maio deste ano, o Ministério da Economia insistia em negá-la ou ocultá-la. O “otimismo” esbanjado pelo ministro Alex Contreras foi uma forma patética de carências profissionais e políticas. Sem nenhum argumento, anunciava que, em 2023, o país cresceria “pouco mais de 2%”. Os 3% oferecidos no final de 2022 já tinham sido incinerados pela iminente recessão, com “crescimentos raquíticos“ de setores-chave da economia, queda acentuada de receitas fiscais e do investimento privado, inflação incessante (responsabilidade do Banco Central) e erosão do poder aquisitivo. Todos esses indicadores desfilavam diante dos olhos de Contreras, mas ele estava cego pelo seu “otimismo” quase doentio.
Nestas circunstâncias, é evidente que a relação estrutural entre o crescimento populacional e o crescimento econômico foi quebrada. Como consequência, o PIB per capita cairá brutalmente, o desemprego atingirá os níveis de 25 anos atrás, a fome e a pobreza aumentarão e o Peru irá retroceder aos níveis anteriores do “milagre econômico”, ou seja, ao século passado.
Mais de 35% da população estará abaixo da linha da pobreza. Não é um arbitrário, portanto, estimar que, nesse ano, o país deixará de produzir aproximadamente 30 bilhões de soles (moeda peruana), tendo em conta os 3% projetados pelo próprio Ministério da Economia.
O ministro se manteve surdo e cego até que a Moody’s, a temível agência de classificação de risco-país, disse que o Peru estava no meio de uma recessão. Somente dessa forma Contreras admitiu e, sem mudar o seu humor patético, disse que as evidências vinham negando, para “gerar confiança” no setor privado. Essa confiança foi enterrada não só pela atuação errática da sua pasta, mas pela vontade expressada pelo Congresso da República de gerar instabilidade jurídica que, obviamente, espantaria qualquer tipo de investimento. Recuperar a confiança não será uma tarefa fácil e transcenderá este governo.
Acreditar que um crédito complementar de 5 mil milhões de soles reativará a economia este ano é outra alucinação de Contreras que compartilha com o desacreditado Congresso. Não é difícil deduzir que o montante não será suficiente para compensar a perda de quase 30 bilhões. Está comprovado que uma única injeção de recursos públicos na economia é absolutamente insuficiente para reativar a economia, especialmente quando a recessão envolve questões de produtividade, cujo impacto na recessão poderia explicar, segundo os especialistas, 40% do valor real dos indicadores macroeconômicos em baixa.
Governo do Peru
Dina Boluarte e seu ministro da Economia Alex Contreras finalmente admitiram que o Peru vive uma recessão
Por isso, os “Programas Punche” não são suficientes e, de tão inúteis, poderiam servir como uma coleção de ridículos em matéria econômica. Nem bônus nem subsídios são suficientes, nem a absurda redução de impostos para alguns restaurantes. Não, a economia não é feita de remendos, mas de reformas profundas que recuperem a confiança e gerem estabilidade jurídica. Sem essa condição, a recuperação prometida por Contreras à sua chefe, a presidente Dina Boluarte, será mais um fiasco.
Quais seriam essas reformas? A direita, destemida, segue pedindo isenções fiscais, subsídios financeiros e redução dos custos laborais, camuflados em uma “nova política econômica”. Este pedido não é novo, porém, como sempre, exige cada vez mais, não importa quão pobre fique Peru.
Do lado esquerdo e progressista, incluindo alguns setores do centro, a proposta é “aproveitar a oportunidade” que a natureza oferece nestes tempos. Ou seja, o Peru tem que enfrentar imediatamente os efeitos do El Niño no seu aparelho produtivo, especialmente na agropecuária, que é o principal fornecedor de alimentos que sustenta qualquer política de segurança alimentar. É o setor que mais gera empregos e oferece maiores possibilidades de desenvolvimento do mercado interno. Estas razões seriam suficientes para alterar as Políticas do Estado.
É de interesse comum querer evitar que 2024 tenha o mesmo desempenho de 2023? Pois aí eles têm uma fórmula. O Peru é um país devastado pelos efeitos do El Niño, tanto pelo litoral quanto no interior. Não é óbvio que o governo tenha um poderoso Plano de Reconstrução? Os motores de reativação seriam acionados e o “salto” esperado seria um objetivo alcançável.
De forma simultânea, para restaurar a confiança, o Congresso deve parar de desmantelar tudo o que resta de estabilidade jurídica e democrática. Ouvir as recomendações da ONU e da OEA sobre direitos humanos, democracia e estabilidade jurídica. Isso, sem dúvida, ajudaria a recuperar a confiança e a superar o descrédito aos olhos das agências de classificação de risco. Então, é uma questão botar a mão na massa.
A recessão que Peru experimenta não é apenas uma questão de falta de equilíbrio no mercado. Se fosse o caso, então uma injeção de recursos, como a que se pretende com o crédito complementar, poderia mitigar seus impactos. Mas uma recessão que tem afetado a produtividade em um quadro de desconfiança crítica requer outras medidas que visem recuperar a previsibilidade e gerar menos incerteza.
É a mensagem esperada pelos principais agentes econômicos, principalmente investidores locais e internacionais, que ajudarão a recuperar níveis de produtividade (otimização dos fatores de produção) cuja perda foi acelerada com a política econômica de Contreras e Boluarte.
(*) Nilo Meza é economista e cientista político peruano
(*) Tradução Rocio Paik