Uma semana depois do terremoto e do tsumani que devastaram a zona centro-sul do Chile, usando a bandeira do país como emblema de solidariedade, a população chilena assume a dianteira na reconstrução do país. Voluntários, campanhas de apoio e uma maratona de ajuda tentam reunir 30 milhões de dólares para as vítimas: este é o rosto mais amável que diz “Vamos, Chile, a gente connsegue”. A tragédia nos deixa uma série de lições.
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Frente à adversidade existente – que soma mais de 800 mortos e um número ainda não contabilizado de desaparecidos – a tônica é deixar a análise para mais tarde. Claro, se não fosse por estas análises prévias que fazem afundar na lama ainda mais, anúncios permanentes, o sintoma de uma sociedade que afunda na paranóia e na psicose, não veríamos a ação mais adequada de quem diz ser nossos representantes.
A tendência constante de diminuir a importância dos problemas, dos dramas humanos e da ineficácia operativa é uma doença que não conseguimos compreender. As respostas às vezes se contradizem.
Existe plena consciência do papel social que da mídia e de sua influência sobre o estado de ânimo das pessoas. De vez em quando, as redes de televisão mostram o drama de forma perversa, sensacionalista, sem matizar o que significam o desastre, a desolação e a dor. As tarefas de ajuda não dão audiência, mas o saque aumenta o ibope.
Frente às vicissitudes da vida, o resultado mais valioso são o companheirismo e a solidariedade. Assim como em algunas cidades houve gente realizando atos de saque, outros colocavam teto e comida à disposição dos vizinhos. Assim como houve pessoas que perderam todos os entes queridos, outras famílias conseguiram reencontrar-se depois de dias de busca. Assim como há pessoas que morreram sob os escombros de casas e edifícios, outras puderam ser resgatadas.
Imigrantes
O terremoto não afetou só os chilenos, mas que também estrangeiros residentes no país. Na região metropolitana de Santiago, milhares de peruanos, por causa das condições precárias em que muitos se encontravam, perderam quase tudo que tinham. São cerca de 2,5 mil famílias que estão sem teto. O amontoamento, as condições de vida precárias, revelam o outro Chile, esse que vive na miséria, famílias completas em cômodos de menos de 20 metros quadrados.
O comitê de refugiados do Peru improvisou um local não só para a colônia peruana, mas também para as comunidades equatorianas, bolivianas, colombianas e outras latino-americanas que vivem no país.
O mais importante, no momento, é ajudar as famílias de estrangeiros a serem levadas em conta nos planos municipais de ajuda. O coordenador do comitê de refugiados, Víctor Paiba, disse ao Opera Mundi que entrou contato com a assistência social do município de Santiago para avaliar os prejuízos.
“A ideia é coordenarmos ações conjuntas e que os imigrantes não sejam discriminados, que não sejam mandados para lá ou para cá”, explica o sacerdote Isaldo Bettin, do Instituto Católico de Migração.
A sobrevivência desta comunidade tem se baseado em realizar refeições comuns e barracões improvisados. Eles reconhecem a solidariedade da comunidade chilena, que os ajuda no que pode.
A Secretaria Nacional dos Imigrantes disse que dezenas de equatorianos que ficaram em uma situação difícil voltaram para seu país em um avião militar que trouxe ajuda para o Chile. Além disso, nesse avião foi repatriado o corpo de uma mulher equatoriana que morreu na catástrofe da região do Maule.
Construção civil
O Chile é um país sísmico. O terremoto de 1985 deixou grandes desafios quanto à construção civil e os materiais que devem ser destinados para ela. A ideia era não sofrer os prejuízos estruturais registrados na ocasião. Então, hoje, se pode comprender a derrubada, na época, de casas velhas, construídas com argila e barro, que não podiam resistir à natureza
Mas quem responde pelo desabamento de edifícios novos? Onde estão as respostas? São edifícios e casas que não podem ser habitados. Outros tantos terão de ser derrubados. Neles moravam famílias que investiram todas suas economias, seu futuro de vida, em construções de mais de 63 mil dólares.
Acaba sendo insólito escutar o presidente da Câmara Chilena de Construção Civil, Lorenzo Constans, dizer que o que aconteceu com algumas edificações em Santiago e Concepción – uma das cidades mais devastadas pelo terremoto – é que “há edifícios inclinados e o exemplo mais claro é a Torre de Pisa, que se mantém de pé há séculos. Portanto, creio que é conveniente analisar isso com um profissional adequado”.
Em seu blog, o presidente da Fundação “Defendamos a Cidade”, Patricio Herman, afirma que “o descalabro se produziu por diversas falhas nos projetos, na engenharia e na construção dos projetos de uso público e privado e em alguns casos de edifícios habitacionais, além de estudos deficientes de mecânica de solo, se é que houve”.
Hoje, a credibilidade das imobiliárias e empreiteiras está na berlinda. E, como se não bastasse, a infraestrutura viária também foi duramente afetada.
Erro que custou caro
Ao atraso atual das autoridades chilenas, acusadas de centralizar a informação e a ajuda, soma-se um erro que pesará sobre quem foi responsável por não entregar a notícia oportuna de um “alerta de tsunami”.
Em comunicado público, o comandante da marinha, almirante Edmundo González, decidiu exonerar o diretor do Serviço Hidrográfico e Oceanográfico (Shoa), capitão Mariano Rojas, e em seu lugar assumirá o também capitão Patricio Carrasco.
Depois da falta de precisão na informação sobre um possível tsunami após o forte movimiento telúrico, o qual foi anunciado pelo órgão no princípio e descartado posteriormente após uma conversação entre um funcionário do Shoa e a presidente Michelle Bachelet, a postos no Escritório Nacional de Emergência, motivaram o questionamiento público sobre a ação dos órgãos preocupados em alertar para eventuais tragédias para evitar estragos maiores.
Em todo caso, a Marinha diz que o novo diretor do serviço conta com “ampla capacidade e experiência no âmbito da oceanografía e da hidrografía, com o objetivo de restabelecer a credibilidade e a confiança nesse importante órgão técnico”.
São as respostas e análises que ficam para mais tarde. A reconstrução e a reestruturação são o que vem pela frente nos próximos quatro anos.
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