Os jornais franceses desta sexta-feira (17/11) analisam a decisão da Comissão Europeia de prorrogar por dez anos o uso do glifosato em seu território, até o fim de 2033. Os 27 Estados-membros não conseguiram chegar a um acordo, na quinta-feira (16/11), sobre a proibição do herbicida considerado potencialmente cancerígeno desde 2015.
Somente Áustria, Luxemburgo e Croácia votaram a favor da suspensão. As grandes potências agrícolas, como França, Itália e Alemanha se abstiveram.
O assunto é tema de uma longa reportagem no jornal Libération, que destaca que a opinião pública é desfavorável ao uso do agrotóxico, mas os estudos científicos não são totalmente conclusivos, deixando margem para uma controvérsia que os agricultores chamam de 'um impasse técnico'. Parte deles teme os malefícios e os prejuízos à saúde, enquanto outra defende o uso do produto para garantir o rendimento das lavouras.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou há oito anos o produto – mais conhecido no mercado pelo nome da marca Roundup – como “provável cancerígeno”.
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Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou há oito anos o produto como "provável cancerígeno"
A França diz não ser contra o princípio da renovação da autorização da molécula na UE, mas advoga por uma redução e restrição de seu uso, conforme explica o Libération, que também aponta críticas feitas ao país pela falta de ambição num tema crítico da atualidade e sensível ao eleitorado ecologista.
Num comunicado conjunto, as ONGs Foodwatch e Générations Futures também criticaram a abstenção da França e denunciaram uma “traição, sem surpresa, à promessa feita pelo presidente da República em 2017”. Emmanuel Macron declarou que o uso do glifosato seria proibido na França no prazo máximo de três anos, antes de admitir que uma proibição total era “impossível”.
O Jornal Le Parisien observa que a Comissão Europeia se baseou em resultados de pesquisas apresentadas em julho pela Autoridade Europeia de Segurança Alimentar (EFSA), apontando que não haveria riscos suficientes para a impedir a prorrogação do uso do glifosato. A decisão foi tomada sem apoio da maioria dos Estados-membros, frisa o diário, e sem o apoio das três principais potências agrícolas do bloco.