Em tom ameaçador, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, exigiu que Estados Unidos e Reino Unido parem de interferir nos assuntos internos do país, segundo informou a agência estudantil de notícias “Isna”. “Com estas opiniões prematuras, os tirarei com toda certeza do círculo de amigos do Irã. Portanto, aconselho corrigirem esta postura intervencionista”, disse o presidente iraniano ontem (21).
As alegações de Ahmadinejad vieram em resposta às declarações do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que – pela primeira vez desde o início da crise no Irã – se manifestou e pediu ao governo iraniano que detenha “toda a violência e as ações injustas contra seu próprio povo”. No dia 16 o primeiro-ministro Gordon Brown pediu ao Irã que ouvisse as queixas da população.
“Eles querem minimizar a grandeza que o povo iraniano alcançou dentro e fora do país após as eleições presidenciais” de 12 de junho, afirmou Ahmadinejad.
Ahmadinejad afirmou que “no Irã vivem 70 milhões de pessoas que não querem os estrangeiros” e que a Revolução Islâmica alcançará sua cota de grandeza e autoridade nos próximos anos. “Devemos construir um Irã que participe das mudanças internacionais para que estas se baseiem na justiça”, acrescentou.
O aiatolá Ali Khamenei, líder supremo da Revolução Islâmica, já tinha atribuído às potências estrangeiras os distúrbios que sacodem o Irã desde o anúncio dos resultados eleitorais. Ontem, o ministro de Assuntos Exteriores do país, Manouchehr Mottaki, repetiu a acusação e fez advertências diretas a Reino Unido, França e Alemanha. O presidente do Parlamento iraniano, Ali Larijani, foi além e disse que os legisladores do país deveriam reconsiderar as relações diplomáticas com estas nações.
Detidos e expulsos
A Polícia iraniana libertou hoje (22) Faezah Hashemi, filha do ex-presidente Ali Akbar Hashemi Rafsanjani, detida este domingo junto com outros quatro membros de sua família, que foram libertados antes, informou a televisão nacional em inglês “PressTV”.
Faezah Hashemi foi detida por participar de uma manifestação da oposição iraniana na praça de Azadi de Teerã, no sábado passado, que o regime iraniano considerou ilegal. As autoridades consideraram que os parentes de Rafsanjani se encontravam em uma das ruas de Teerã “incitando e encorajando os arruaceiros”.
Segundo o jornal conservador “Irã”, Faezah e sua filha, assim como seu primo, Hussein Marashi, esposa e filha tinham sido detidos este domingo. No entanto, nenhum deles poderá deixar o país por imposição do regime iraniano
As autoridades iranianas expulsaram ontem o correspondente da BBC John Leyne, que teria 24 horas para deixar o país, segundo a agência de notícias iraniana Fars. O jornalista da rede britânica foi acusado de dar “informações falsas”, “não manter a objetividade”, “colocar lenha nos distúrbios” e desrespeitar o código de ética da profissão.
A expulsão do correspondente se soma a medidas como o cancelamento das credenciais concedidas a jornalistas estrangeiros ou a repórteres iranianos contratados por meios de comunicação internacionais. Os únicos veículos britânicos que ainda têm correspondentes no Irã são o jornal Financial Times e a agência Reuters.
Hoje, o porta-voz do Ministério de Assuntos Exteriores do Irã, Hassan Qashqavi, voltou a acusar a imprensa britânica e americana de alimentar os confrontos e os protestos que há em mais de uma semana agitam o país. “A 'Voice of America' e a 'British Broadcasting Corporation' ('BBC') são canais do Estado. O orçamento deles é aprovado pelo Congresso americano e pelo Parlamento britânico. São porta-vozes de seus respectivos Governos”, afirmou.
Segundo o porta-voz, os dois veículos buscam perturbar a unidade do Irã e estimular a desintegração do país. “Qualquer tipo de contato com estes canais através de e-mail ou telefone atenta contra da soberania nacional e é um ato de animosidade contra a nação iraniana. Estes canais estão atuando como motores nos distúrbios pós-eleitorais”.
O Ministério de Guia e Orientação Islâmica do Irã ameaçou tomar “mais medidas” contra a imprensa britânica se as interferências nos assuntos do país continuarem. “Caso os diferentes meios de comunicação britânicos prossigam com sua interferência, suas informações inexatas ou seu desrespeito à ética internacional do jornalismo, haverá medidas de outro tipo”, afirmou o ministro Mohammad Hussein Safar Harandi.
Os mortos de sábado
A televisão estatal iraniana assegurou que pelo menos 13 pessoas teriam morrido em confrontos entre a polícia e “grupos terroristas”, em alusão aos manifestantes que denunciam a fraude eleitoral e exigem a repetição das eleições. O número não pôde ser confirmado por outras fontes.
A televisão estatal afirmou, além disso, que os “sabotadores” tinham queimado dois postos de gasolina e vários ônibus, e que teriam tentado atacar um posto militar. O canal oficial assegura, além disso, que várias pessoas teriam perecido quando um grupo de “arruaceiros” ateou fogo a uma mesquita da capital durante a manifestação que a oposição tentou realizar ontem em Teerã, reprimida violentamente pela polícia, que não conseguiu evitar que prosseguissem os cânticos de protesto toda a noite. “Grupos de sabotadores queimaram uma mesquita na intersecção das ruas Azerbaijão e Navab, e um número de pessoas acabou morta”, afirmou a televisão.
Pronto para o martírio
O líder da oposição iraniana, Mir Hussein Mousavi, advertiu à República Islâmica que deve “limpar as mentiras e as atitudes desonestas” que ameaçam destruir o sistema. Em um documento postado em seu site, o ex-primeiro-ministro advertiu ao regime que deve permitir os protestos ou enfrentar as consequências.
Suas palavras representam um claro desafio ao líder supremo da Revolução iraniana, o aiatolá Ali Khamenei, que na sexta-feira (19) negou as denúncias de fraude eleitoral da oposição e exigiu que se colocasse um fim às manifestações de rua se se quisesse evitar “um derramamento de sangue”.
“Não nos opomos ao sistema islâmico e a suas leis, mas às mentiras e às ideias desviadas. Só buscamos uma reforma”, afirmou Mousavi. “O povo espera de seus governantes honestidade e decência porque muitos de nossos problemas se devem às mentiras. A revolução islâmica deve ser o caminho”, acrescentou.
No final do dia, Mousavi pediu a seus seguidores para continuar com os protestos e a empreender uma greve geral em todo o país, caso fosse preso, e se mostrou disposto a se sacrificar em favor da luta, dizendo que está “pronto para o martírio”.
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